Capítulo Quatro

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Calculei o tempo que levaria para correr até o meu quarto, mas vi que não teria chances. Desci e o segui até a biblioteca e escritório. Ele me fez sentar em uma das poltronas de couro marrom que ficava em frente a sua mesa de mogno e a sua cadeira de couro. Eu amava aquela cadeira.

Lembro que quando era pequena costumava fugir para a biblioteca e me escondia debaixo da mesa. Mamãe nunca teve paciência para me procurar, mas papai sempre vinha atrás de mim e sempre me achava no mesmo lugar. Ele me carregava, sentava na cadeira linda de couro- era como eu a chamava- e me colocava em seu colo. No começo tentei fugir, mas ele não deixava e com o passar do tempo eu não fugia mais do seu abraço. Ele me abraçava bem forte e dizia em meu ouvido que eu era a coisa mais preciosa para ele, que me amava e nunca iria me perder. Por mais que eu fugisse, sempre me acharia de volta. Dizia-me que estaria segura com ele.

E era exatamente assim que me sentia em seu abraço. Ele era o meu herói. Papai foi a primeira pessoa em quem confiei de verdade. Foi a única pessoa que me viu sem as minhas guardas, foi a única pessoa quem eu permiti que me visse vulnerável.

Eu lembro que chorava em seu colo, relembrando todas as coisas que passei, a dor era enorme, eu me sentia oca por dentro, com ódio de tudo e de todos e foi ele quem me ensinou o que é o amor.

Ele me embalava em seus braços, enxugava minhas lagrimas e me chamava de filhinha querida. Foi ele quem me deu um novo coração.

Eu estava tão envolvida em meus pensamentos que nem percebi quando ele se aproximou e enxugou uma lagrima que estava rolando pelo meu rosto.

__O que houve docinho?

__Estava me lembrando da época em que me escondia aqui e você me encontrava.

Ele lembrou também e seus olhos brilharam.

__Sempre te acharei. Você sabe que te amo muito não é minha filhinha?

__Ah papai, eu também te amo.

Fui para trás da mesa e me ajoelhei em seus pés, minha cabeça descansou em seu colo e ele começou a me fazer cafuné. As lágrimas desciam livres em meu rosto.

__O que aconteceu hoje?

__Não sei bem o que aconteceu pai. Estava no estacionamento do shopping vindo para casa, quando tive a sensação de que algo estava me seguindo. Eu não estou ficando louca. Parecia que tinha alguém tentando me pegar. Ele estava lá e depois não estava mais. Sumiu.

Ele ficou em silêncio por um tempo.

__Está vendo. Nem o senhor acredita.

__Mas é claro que sim. Estou tentando entender quem poderia querer fazer isso. E só me vem uma coisa em minha cabeça.

Eu o encarei.

__Meu caso. Vou abandonar.

__Não pai! Se você fizer isso jamais vou me perdoar. É o seu sonho se tornar promotor.

__Mas prefiro desistir do meu sonho se para isso eu tiver que perder a sua vida. Você não entende Leslie? Você é mais importante para mim do que qualquer sonho.

Eu me ajoelhei de modo a ficar frente a frente com ele, coloquei minhas mãos em forma de prece.

__Por favor, pai, você não pode fazer isso.

__Eu posso e eu vou.

__Não tome nenhuma decisão precipitada. Primeiro descubra se o que tentaram fazer comigo hoje tem algo haver com o seu caso. E prometo que se tiver não vou fazer objeção nenhuma contra a sua decisão.

Mestiça: Livro 01Onde histórias criam vida. Descubra agora