Capítulo Nove

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Acordei cedo e consegui sair da cama, tomei um banho e tentei ficar apresentável para voltar para casa, com o espelhinho de Sofie dei um jeito no cabelo e olhei meu pescoço para ver se tinha ficado alguma marca. Nada. Não tinha nada que comprovasse o que me ocorreu na noite passada, apenas a sensação que permanecia em minha mente quando eu lembrava daquelas mãos fortes e frias.

Já estava pronta quando meu pai, minha mãe, Estevan e o doutor entraram no quarto. Mamãe foi para o meu lado e me deu um beijo na testa.

__Olá Leslie. Está feliz pela alta?

__O senhor nem imagina doutor.

Feliz? Eu estava radiante! Nunca pensei que ficaria feliz por poder voltar à escola, mas depois de passar tanto tempo presa em uma cama de hospital, qualquer outra coisa que envolvesse andar e estar livre me deixaria feliz.

Meu pai me ajudou a sair da cama. Recusei deixar o hospital em uma cadeira de rodas. Estevan pegou minhas coisas e saímos. Mamãe não parava de contar sobre como a casa ficava sem vida sem a minha presença e como ela estava feliz por me ter de volta. Ela disse que iríamos sair para fazer compras e tomar milk sheik.

Eu apenas balançava a cabeça, enquanto uma dor enorme me arregaçava o peito. Eu iria embora em breve, para protegê-los e talvez jamais os visse novamente. Eu sabia que meu pai iria me procurar caso não voltasse, mas sabia também que se Estevan e o pai dele não quisessem que me encontrassem meu pai jamais me veria novamente. Não sei como sabia disso, apenas sentia. Estevan e seu pai estavam me escondendo muito mais coisas do que eu sonhava.

Lancei um olhar para ele. Estevan me olhava com ternura, ele sabia o que eu estava sentindo, mas tinha prometido que eu voltaria a vê-los, então decidi confiar nele e em sua palavra. Só espero não me decepcionar.

A viajem de volta para casa foi rápida. Fui na Mercedes da família e Estevan foi em sua BMW de vidros fume. Ele odiava o sol.

Papai me olhava e sorria, eu disse que estava tudo bem e que eles não precisavam se preocupar. Como eu suspeitava, mamãe não sabia de toda a história. Ela apenas achava que perdi o controle do carro e que Estevan é o meu segurança apenas por precaução. Assim é melhor. Meu pai e eu sabemos que mamãe não reage bem sob pressão.

O portão foi aberto e entrei em casa. Ali era o meu lar há tanto tempo, mas agora teria que deixá-lo, iria para um lugar distante e diferente, um lugar onde nunca seria o meu lar.

Alfred nos recebeu a porta. Também sentiria falta dele, aquele senhor de aparência dura e formal que tinha um coração enorme.

__Como você está criança?

__Bem melhor Alfred.

__A casa ficou triste sem a sua presença senhorita Foster.

__Eu não disse?

Mamãe disse enquanto entrava.

__Acho que vou para o meu quarto.

__Está sentindo algo?

Papai perguntou preocupado.

__Não, eu quero tomar um longo e quente banho e dormir em uma cama de verdade.

Ele assentiu, mamãe sumiu na cozinha dizendo que iria instruir a cozinheira para o meu jantar de boas vindas.

Estevan continuava parado na porta com as minhas coisas na mão. Ele tinha um olhar desconfortável e uma careta na boca. Mas o que ele tanto espera do lado de fora?

__O que você está fazendo?

Ele me olhou com um olhar estranho. Meu pai estava conversando com Alfred sobre os novos seguranças da casa que tinham sido contratados e não percebeu o que se passava.

__Esperando.

Mas do que ele está falando? Esperando o que?

__Convidar-me.

Novamente respondendo aos meus pensamentos.

Eu ri.

__Você está falando sério?

Sua cara ficou mais raivosa ainda. Parecia que sentia dor.

__Nunca falei tão sério. Só vou entrar se você me convidar.

Ele realmente falava sério. Nossa.

__OK, Estevan eu te convido a entrar em minha casa.

Seu rosto relaxou, ele até sorriu. E entrou.

__Obrigado.

Dei de ombros, ele veio até perto de mim e falou baixinho.

__Não convide ninguém para entrar, entendido?

Mas que louco. O que impediria uma pessoa de entrar aqui se quisesse?

__Do que você está falando?

__Apenas. Não faça. Entendeu?

Ele disse controlando a raiva. Parecia até meu pai falando.

__Certo. Não precisa ter um ataque.

__Desculpa.

__OK.

Peguei as minhas coisas que ele segurava.

__Agora vou para o meu quarto.

Nessa hora meu pai apareceu, me abraçou e me deu um beijo na cabeça.

__Coloquei Estevan no quarto ao lado do seu, querida.

__OK. Eu vou me deitar um pouco.

Ele assentiu, já estava subindo as escadas quando ouvi Estevan dizer que precisava conversar com meu pai. Eu sabia o que ele iria falar. Lágrimas escorreram por meu rosto. Passei a mão pelo corrimão de madeira de lei da escada, e guardei na memória a sensação da madeira em meus dedos. Eu teria que capturar cada detalhe da casa e das pessoas que mais amei. Pois, sabia que depois dessa conversa não haveria volta. A minha partida estaria próxima.  

Mestiça: Livro 01Onde histórias criam vida. Descubra agora