Capitulo 1

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Humilhada. Era assim que eu me descrevia nos últimos tempos. A vergonha vivia comigo, habitava todos dos dias em mim devido às situações depreciativas que eu vivia habitualmente. Sempre gostei de estudar, sempre consegui tirar boas notas, ser participativa, pontual, assídua, mas de à dois ano para cá, perdi todo esse perfeccionismo como aluna exemplar. Sorrir é uma coisa que não sei fazer. Toda a minha alegria e exuberância da vida, deram lugar a uma melancolia depressiva. Amigos? Não sei o que isso é. Faço alguns diálogos com aqueles que pertencem à minha turma, por obrigação devido a trabalhos que tínhamos de fazer, mas mais que isso, nunca. Não que eu seja tímida ou envergonhada, mas os últimos anos deixaram-me profundamente insegura. Não confiava em ninguém e ninguém tinha confiança suficiente para vir até mim. Nunca ninguém teve o interesse de chegar perto de mim e perguntar o porquê de eu ser assim, não que eu fosse responder e confiar a minha vida num desconhecido, mas ajudaria a ganhar um pouco de auto-estima. Preferiam ver-me humilhada no centro da escola, rir-se de mim e ajudarem a rebaixar-me, do que me auxiliarem ou defenderem.

Quando as aulas terminavam ia directamente para a casa de banho. Era lá que eu passava todos os minutos vagos dos meus dias. Levava um livro comigo, fechava-me numa cabine e perdia-me no mundo da literatura. Sonhava em como era ter uma vida perfeita, vida essa que eu já tive. Só ia para as aulas depois do segundo toque, o que me levou a ter nota negativa na pontualidade. Tinha medo de encontra-los e fazerem de mim um trapo tal como sempre o fazem. Nunca perdiam uma oportunidade de se mostrarem, de se intitularem "os melhores da escola". Acho ridículo ganharem idolatração por humilharem os outros. Sempre ouvi dizer que os fracos humilham para se sentirem fortes.

A campainha já tinha tocado para dar o sinal do final da aula, a última do dia. Hoje tinha a tarde livre e passaria a tarde em casa a ler, tal como acontece sempre. Estava novamente trancada numa das cabines da WC Feminina, à espera que a movimentação cessa-se, que todos saíssem da escola. Olhava para o relógio do meu telemóvel enquanto brincava com os dedos das mãos, batendo-os e entrelaçando-os entre si. Já passava meia-hora depois do toque ter soado e o silêncio pairava ali, o que significa que a escola já estava vazia, que já todos tinham ido embora, inclusive eles.

Guardei o telemóvel na pequena bolsa exterior da minha mala. Ajeitei a longa alça no ombro e destranquei a porta. Saí e olhei para o grande espelho pregado na parede, à minha frente. O meu cabelo estava liso e bem penteado, a minha cara macia e sem maquilhagem como todos os dias, a minha roupa limpa e sem marcas. Suspirei fundo de alivio por saber que hoje tinha sido um dia calmo, que iria normalmente para casa e que não iria ter de inventar outra desculpa ao meu pai devido ao meu estado. Agarrei a alça da minha mala e saí despreocupada da casa-de-banho. Quando já estava no meu terceiro passo para fora dali, senti-me a ser puxada. Virei o meu tronco numa meia volta para ver quem era e o medo e a insegurança tomaram o lugar da calma que habitava no meu corpo à segundos atrás. Oh não...

– Olá lindinha, já tinhas saudades nossas? – Rick, o mais nojento e asqueroso de todos. Apertava-me a cara com alguma força, desalinhado os meus lábios, obrigando-me a franzir a cara de dor. – Suponho que sim. – Fez o mais falso sorriso que conseguiu e depositou-me um beijo na bochecha, passando a língua em seguida. Fechei os olhos na esperança de que, quando os abrisse, acorda-se e aquilo fosse um pesadelo. – Oh Bianca, sabes tão bem... – Sussurrou contra a minha pele e ouvi risos à minha volta, vindo do seu fiel e repulsivo grupo.

– Larga-me. – Falei num suspiro após ter engolido em seco e ganho coragem.

– Largar-te? – Senti uma das suas mãos agarrarem a minha blusa com força, por momentos pensei que se fosse rasgar – Isso não está nos meus planos, querida. – A sua mão adentrou por a minha blusa e subiu até aos meus seios.

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