Capitulo 2

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Ele afastou-se de mim, surpreso, e eu continuei a encará-lo enquanto agarrava o saco com alguma agilidade. Tinha de ter cuidado com a garrafa de azeite. Eu baixei o olhar. Queria ignorar o sucedido e voltar a fazer o meu caminho até casa, mas algo me impediu. Os meus pés não obedeceram a minha mente. Continuava ali, à sua frente, com o coração a mil.

– Desculpa. – Falei baixo, era o mínimo que podia fazer, sei lá eu se ele me ia bater ou urinar-me para cima só por ter ido contra ele. O seu olhar voltou a fixar-se em mim, deixando-me um pouco constrangida. Estava a agir como se fosse a primeira vez que o que estava a ver, como se o acabasse de conhecer.

– Não faz mal. – Falou frio e arrogante. Talvez fosse do tempo pérfido que a noite trouxera consigo ou talvez fosse da sua nova personalidade. Aposto mais na segunda. Sem dizer mais nada, ele passou por mim e continuou o seu caminho. Subitamente, os meus pensamentos desta tarde vieram-me à cabeça. Eu precisava de falar com ele! Eu tinha de falar com ele!

– Justin! – Gritei, surpreendi-me ao ver que ele tinha parado e não ignorando que eu o chamava. Olhou para trás e eu dei alguns passos até si. – Ahh... – Hello? Voz? Onde estás tu quando eu mais preciso de ti? – A tua mãe estava à tua procura, mas como não te encontrou já foi para casa, decidi avisar-te caso tu... Fosses agora ter com ela. – Dei de ombros desajeitadamente, envergonhada. A sério, Bianca? É para falar dele, não da mãe dele. – Ele assentiu e virou-me novamente as costas. Suspirei bem fundo e desta vez tinha ganho coragem a sério. – Espera! – Voltei a gritar, fechei os olhos e mordi o interior da minha bochecha para não o ver a ignorar-me ou a fazer qualquer coisa obscena. Abri os olhos com cuidado e deparei-me com ele bem à minha frente, a olhar-me seriamente. – Nós... Precisamos de falar. – Voltei a morder a minha bochecha no interior e entrelacei as minhas mãos, uma entre a outra, devido ao nervosismo.

– Desde quando é que eu tenho alguma coisa para falar contigo? – A sua voz parecia embargada, falava com uma calma tremenda que me obrigou a encará-lo bem fundo. No meio daquela escuridão, apenas iluminada por postes de luz, era notável a grande vermelhidão nos seus olhos e era óbvio o porquê de eles estarem assim. Tinha fumado um charro, estava sob o efeito de estupefacientes.

– Depois de todas as coisas que me tens feito ao longo dos últimos dois anos, ainda tens a lata de me perguntar isso?! – O medo estava a esvair-se, deixando lugar vago para a arrogância e fúria que já pressentia nas veias. Bufou olhando para o lado, desinteressado na conversa.

– Fala rápido que eu tenho mais que fazer.

– Quero que pares de atormentar a minha vida, Justin! – Disse num exalto e ele riu-se do que eu acabara de dizer. Eu já sabia de que não iria ser nada fácil.

– "Quero que pares de atormentar a minha vida, Justin" – Imitou minha voz, o que me irritou profundamente. Bufei enquanto passava as mãos por o cabelo frio, devido à meteorologia. – Missão impossível, mon amour.

– Parece que te dá prazer rebaixares-me, humilhares-me... – Murmurei com desdém.

– E até dá. – Fez um sorriso cínico.

– Porquê? – Perguntei aquilo que pensara esta tarde enquanto reflectia sobre tudo, queria ter respostas a estas minhas perguntas. – Porquê todo este ódio, toda esta humilhação? – Eu queria chorar, mas não o ia fazer. Não à frente dele. – O que é que eu te fiz? – Fazia gestos com as mãos devido à raiva que sentia. – Se há aqui alguém que tinhas motivos para fazer todas essas coisas, esse alguém era eu, Justin. – A mágoa era perceptível na minha voz.

– Epá, cala-te! – Jogou a mão ao bolso e tirou um maço, tirando um cigarro logo em seguida, pondo-o na boca e acendendo-o. – Não me quero lembrar disso outra vez. – Voltou a guardar tudo no bolso e começou a fumar o seu cigarro descontraidamente.

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