Capitulo 42

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Acordei como sempre acordo. Com o irritante despertador colado aos meu ouvidos a tocar o seu som irritante. Tateei a mesinha-de-cabeceira e com um toque de dedos, levei-o até ao chão fazendo-o calar-se. Esfreguei os olhos que ainda estavam inchados e com alguma dificuldade em enfrentar a luz. Levantei-me e cambaleei até à casa de banho onde me fora aperceber que adormecera vestido. Tomei um duche rápido e vesti o habitual. Calças de bombazine, camisa e sapatos de vela. Encaixei-me nas minhas duas pernas de ferro emprestadas e desci, encontrando a minha mãe sentada à mesa a tomar o pequeno-almoço.

– Buenos días! – Disse quando me viu.

– Buenos días. – Beijei a sua bochecha. – Donde esta el padre?

– Ha saído. Ligaram-lhe a uma meia-hora da empresa. – Levou a chávena de café à boca.

– Ele vai viajar amanhã? – Perguntei mordendo um churro.

– Sim. Amanhã ao final do dia.

– E depois quando é que vamos? – Perguntei limpando as mãos às calças e encaixando-me nas moletas.

– Quando acabarem as tuas aulas. – Assenti.

– Eu já vou indo. – Voltei a beijar a minha mãe, depois de ter limpo a boca com as costas da mão.

– Para quê tanta presa? – Perguntou. – Dónde vas?

– Ainda quero ir ver a Bianca antes de ir para a escola. – Sorri involuntariamente.

– Me encanta esa sonrisa... Enamorada. – Sorriu e logo se riu, fazendo-me revirar os olhos.

– Adiós madres!

Coloquei a mochila às costas e saí de casa em passos largos e apressados até ao Hospital. Finalmente, a Bianca saía amanhã. Já não suportava mais fazer este caminho todos os dias. Mal podia esperar para vê-la fora daquele edifício pútrido e passar horas a fio com ela. Considerava a ideia de contar ou não o facto de andar a visitar o Justin e que, bem, agora já somos amigos. Ando a ponderá-lo desde o começo desta peripécia, e sentia mesmo a necessidade de lhe contar, mas tinha medo da sua reacção. Não sabia mesmo o que fazer.

Cheguei ao Hospital e pedi a autorização ao balcão, que me foi cedida de imediato. Caminhei por a longa extensão do bastante movimentado corredor logo por aquela hora da manhã, até chegar à porta do quarto onde ela estava. Dei duas batidas e ouvi um "entre" num tom de voz rouco feminino. Entrei e vi Bianca com uma carinha de sono que me fez sorrir, sentada a tomar o pequeno-almoço num tabuleiro, provavelmente entregue por uma das auxiliares de serviço.

– Bom-dia, coración. – Aproximei-me e beijei-lhe a testa enquanto ela mastigava um pedaço de pão com geleia.

– Bom-dia! – Sorriu com a boca cheia de comida e beijou-me o rosto delicadamente, por ter as bochechas esticadas. Aquilo fez-me rir.

– Como é que estás? – Perguntei vendo-a a comer. Ou ela era perfeita em tudo o que fazia, até mesmo a comer, ou eu estava muito apaixonado.

– Num estado de desespero! Eu já não tenho nada, não sei porque tenho de esperar até amanhã.

– Pensa positivo, só faltam mais algumas horas.

– Dizes isso porque não és tu que estás aqui a ser entupido em soro o dia todo, coberto de fios, e o cara... – Interrompi-a batendo-lhe levemente na testa antes que ela dissesse um palavrão.

– És tão stressadinha. – Desci os dedos para o nariz, onde lhe bati com o indicador e ela fez uma careta... fofa.

– Estou farta de aqui estar, Leo. – Disse manhosa empurrando o tabuleiro para o lado e entortando a cabeça.

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