Capitulo 30

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Continuava ali parado, estático, sem me mexer. Eu estremecia em cada pestanejar. Tinha a garganta numa desmedida secação e o meu coração parecia querer parar. Ela estava acometida a encarar aquele lenço e chorava sem controlo, soluçava sem acreditar no que acabara de ouvir. Eu não queria que ela soubesse de tudo assim, tão rápido e numa situação destas. Foi como apanhar uma noticia de paraquedas e ficar sem reação a nada. Na cabeça dela eu sou mesmo um monstro, um sem coração, frio, arrogante, não sou humano. Sou um assassino.

Memórias daquela indecorosa noite entravam por a minha cabeça. Tinha vagas memórias, poucas ou quase nenhumas do que havia feito aquela mulher que poderia vir a ser minha sogra. Lembro-me de passarem uma faca e uma arma para a mão e depois ouvir gritos e mais gritos enquanto eu tinha a cabeça num estado ausente, nem eu mesmo me consigo lembrar do que fizera. Rick dizia constantemente: "se queres ser um de nós, tens de fazê-lo", e eu, por mais exacerbado que estivesse naqueles tempos por toda a maldade feita, fi-lo. Um soluço gutural alto, vindo da garganta da Bianca, fez-me despertar e voltar à realidade da conjuntura horripilante que estava a viver. Olha fixamente para ela, de olhos bem abertos, deixando-os secos. Pestanejei uma vez naqueles minutos e uma lágrima inesperada caiu.

– Não... Não pode ser. – Sussurrou para si enquanto abanava a cabeça negativamente. – Não podem ter sido vocês. – Elevou indistintamente o tom de voz.

– Não fomos nós. – Disse Rick. – Foi ele. – Apontou o seu indicador na minha direcção. Se estivesse no meu estado de há minutos atrás eu tenho a certeza que já tinha partido para cima dele, mas agora só me preocupava em olhar para a Bianca, esperar qualquer reação da sua parte e deixar cair as lágrimas que não queria que caíssem. O seu olhar seguiu o dedo do Rick e encarava-me com o maior cara de piedade de sempre, enquanto soluçava de boca ligeiramente aberta e mantinha os olhos afogados em lágrimas.

– Di..Di...Diz-me que isto é me...mentira. – Falava com dificuldade devido aos soluços. Eu olhava apenas para ela, que estava num estado atónito de desespero e misericórdia. Abri a boca para falar, mas nada me saiu. Não conseguia falar, e mesmo que o conseguisse, não sabia o que dizer. Como é que me vou desculpar pelo que fiz? Existe desculpa plausível para sair desta embrulhada? Não, não existe. Eu matei uma pessoa, matei a mãe da minha namorada. – Eu não acredito. – Sussurrou e caiu de joelhos no chão, levando as mãos à cara, chorando inconsolavelmente. – Isto só pode ser mentira, tem de ser mentira! – A sua voz saiu um pouco abafada, por ter a boca tapada pelas mãos.

– Eu...Eu...Desculpa. – Foi o que consegui dizer. Ela levantou a cabeça e olhou para mim desprezadamente, de testa franzida. Num movimento súbito e assustadiço, levantou-se e andou brusca até mim, ficando a centímetros do meu corpo.

– Como é que tu podes pedir desculpa, Justin? – Gritou. – Como? – Vociferava enquanto tentava controlar o choro. – Tu não matas-te uma formiga, não matas-te um pássaro, tu matas-te a minha mãe, Justin! A minha mãe! – Berrava enquanto o seu choro se aprofundava mais. – Tu sempre disseste que não conseguias imaginar a tua vida sem a tua mãe, que ela era a mulher da tua vida, que darias a vida por ela, que era a pessoa que mais amavas no mundo! Achas que isso acontece só contigo? Que o amor de maternal vive só em ti? Que só tu é que não te queres ver sem a tua mãe? – Passei a língua pelos lábios sem saber o que dizer. Ela fechou os olhos e mordeu o lábio inferior, enquanto deixava cair algumas lágrimas. Recuperou-se e voltou a erguer a cabeça. – Pois a ficar saber de uma coisa. – Baixou o tom de voz. – Fica a saber que não... Tu não sabes a dor que é perder a pessoa que mais amas na vida, a única pessoa que te compreende... Tu não sabes o que é entrares na porcaria desta casa, abrires a porta na esperança de teres a tua mãe à tua espera e ouvir que tudo iria ficar bem ali para a frente, a partir dali tudo iria melhorar... – Tentava controlar-se, mas os seus olhos parecia que iam rebentar de tão vermelho que estavam e a era perceptível na sua voz, o choro enredado na garganta. – Mas depois, abres a porta e vês que tudo não passou de uma misera esperança. – Soluçou. – Não sabes o que é abrir a porta e encontrar a tua mãe morta e saber que nunca mais iria receber um abraço dela, nunca mais iria ter o carinho reconfortante de mãe, nunca mais iria celebrar o dia da mãe. Tu não tens qualquer noção do que isso é, porque tu te tornaste numa pessoa desconhecida. – Olhou-me de alto a baixo, com nojo, muito nojo. – Eu não sei quem tu és, Justin Bieber. – Bufou olhando-me com desdém. Ela estava completamente certa. Eu queria chorar por tudo o que ela acabara de dizer. Sou realmente um monstro sem coração.

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