28 de Julho de 2023

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    As vezes tudo que se precisa é tempo para se pertencer, tempo para espairecer. Longe do mundo, da rotina, da casa e do lar. Alasca se viu perdida entre tantos mundos, entre tantas coisas e para se encontrar lhe deixou escapar sua única certeza. Se arriscou, mas ela achava que a vida se tratava disso, de se arrisca, do que lhe adiantaria a certeza de um alguém se não tinha certeza de si mesma? Como dar algo que não tem? Como está em paz com alguém sem está em paz consigo mesma? E foram essas as perguntas que rodearam a cabeça de Alasca um dia antes de resolver que viajaria por ai. Que conheceria novos mundos, novas pessoas, um pouco de si mesma, porque era a única pessoa que ela poderia contar.

Alasca viajou por todo litoral do nordeste do Brasil, conheceu muitas histórias, transformou algumas em poesias, outras em músicas e até pequenos textos. Escreveu tudo em um pequeno caderno amarelo e o chamaria de diário de viagem. Mas Alasca não escrevera só sobre os outros mas também sobre si, sobre a ausência de Manuela, sobre como haviam dias que ela queria ligar para Manu e contar algo que tinha certeza que a moça se empolgaria. Escreveu sobre o que aprendeu em todo aquele tempo, o que queria mudar e como se sentia diante das situações da viagem.

Alasca já não era mais a mesma pessoa que saiu de Niterói com 20 perguntas, agora ela era a pessoa com 10 respostas e 50 perguntas. Agora ela havia se conformado que sempre haveriam perguntas e se era impossível ter certeza de tudo. Ela sabia que não se dava para prever o futuro e que nem sempre mudanças são algo negativo. Aprendeu que ela não tem o poder de controle sobre as coisas, mesmo que isso se desrespeite a sua própria vida.

Hoje era dia de voltar para casa, mas Alasca não sabia se lá ainda haveria um lar. Ela não sabia se a campainha soaria ou se seu celular anunciaria aquela tão sonhada chamada. Ela comprou presentes, tirou fotos, escreveu e tocou, tudo a espera desse dia, mesmo sabendo que essas coisas poderiam a deixar mais frustrada do que ficaria caso não tivesse feito, mas se tem algo que Alasca aprendera com essa viagem foi não deixar de fazer nada por medo e que pensar positivo não é o mesmo que criar expectativas, é saber que o que não vai ocorrer é a sua certeza, mas o que pode ocorrer que te surpreenderá. Então ela fez o que tivera vontade de fazer e se sua campainha soasse ou o telefone tocasse, quem sabe após a resposta ela pudesse contar tudo o que queria compartilhar.

Para Alasca as férias passaram rápido, os quinze dias voaram, seus conhecimentos se multiplicaram e tudo parecia mais leve embora ela não sabia ainda o que faria em relação a sua carreira e ao seu trabalho, não porque não pensara durante isso ao longo da viagem, mas sim porque tinha tantas ideias que nem sabia por onde começar.

Para Manuela as férias passaram devagar, ela se divertiu, viu alguns amigos, passou um tempo com sua família mas sempre parecia que estava faltando algo, ou melhor, alguém. Manuela cogitou ligar, enviar mensagem e até mesmo ir atrás dela sei lá como, mas não o fez. Não por covardia ou algo do tipo, mas porque sabia o quão esse tempo era importante para Alasca, porque sabia que sua aparição poderia estragar tudo. Manuela se aguentou de saudade, viveu o que tinha de ser vivido e tentou afastar seus pensamentos de Alasca. Fez um pouco de cada coisa, seguiu muitas do roteiro de seu irmão. Sorriu e se alegrou com coisas que havia tempo que não se alegrava. Tirou fotos, muitas das quais as vezes queria enviar a Alasca. Conheceu algumas músicas novas e alguns lugares novos também. Agora havia chegado o dia, Manuela não sabia o que esperar, não sabia o que dizer ou o que iria acontecer. Ela só sabia que quando aquelas campainha soasse todas as suas perguntas teriam resposta, bastava saber quais eram.

Pov Manuela

Eu suava frio e sentia a ansiedade tomar conta do meu corpo. Havia sacolas nas minhas mãos e elas denunciavam o quão eu estava tremula. Não sabia mais em que compasso o meu coração batia e a porta de Alasca parecia cada vez mais perto, até que cheguei. Estava parada, estática em frente a porta que tantas vezes nem precisei de permissão para abrir e entrar. Da porta que de certa forma também tinha se tornado a da minha casa. Então, ouvi a campainha soar e não havia como voltar atrás.

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