Além do tempo

26 de Abril de 2029 - 23h

      Vivemos em um mundo amplo, no qual nenhum ser é idêntico ao outro, e eu não estou falando de aparência. Somos diferentes, com vivências diferentes, histórias, dores, momentos felizes e lembranças diferentes. Sentimos as coisas de formas diferentes dentro da mesma situação. Cada pessoa tem um jeito de lidar com as coisas e isso não torna ele melhor ou pior que alguém. Então Alasca sempre tinha em si que nunca deveria medir a dor de ninguém e que nenhuma dor é maior ou menor que a outra.

Alasca tinha em si muitas coisas que ninguém entendia e todos sempre questionavam sua forma de compreensão às coisas a sua volta. Quando conheceu Manuela, as pessoas viviam dizendo que ela devia parar, que ela não devia se aproximar, mas isso só fez com que cada vez mais ela quisesse conhecer aquela pessoa que tanto diziam ser um território perigoso. Todas as coisas a sua volta sempre a mandavam um sinal de alerta quando o assunto era a mulher de cabelos negros e olhos castanhos, mas ela ignorou todos eles porque ela queria compreender todos aqueles sinais, fugir deles era idiota e fácil demais.

Esse na visão de Alasca era um dos maiores problemas das pessoas, elas não tem o mínimo de empatia, elas são rasas e não conseguem observar a beleza de pessoas fundas. Ela gostava de mergulhar, se jogar e isso era tudo que Manuela era, profunda e bela e o quão mais fundo Alasca chegava mais ela descobria que a moça era funda.

Ela gostava da beleza que havia em Manuela. Não era comum e muito menos padronizada. Ela gostava da complexidade em torno da moça, não como algo difícil de lidar, mas como algo gostoso de desvendar e descobrir. Alasca nunca conseguiria, mesmo sendo boa com as palavras, descrever toda a beleza que Manu carregava em si. Algumas ainda eram desconhecidas e outras provavelmente ela nunca descobriria. Mas se havia uma certeza dentro de Alasca é que ela amava todas as belezas de Manuela e a força do tempo nunca fora capaz de mudar isso.

Pov Manuela

Então eu fiquei de pé com os meus olhos fechados e pedi para que ela não me fizesse andar muito.

- Amor, de dois passos pra frente – Eu agarrei firme sua mão e pude ouvir a risada dela – Calma, te prometo que vai ser só esses dois passos. – Eu respirei aliviada por um segundo até sentir um vento frio e me arrepiar – Pode abrir os olhos meu anjo.

E assim eu fiz, abri os olhos e pude ver Niteroi inteira. Olhando dali parecia uma cidade agitada e ao mesmo tempo calma. Havia o silêncio de onde estávamos mas as luzes da cidade lá embaixo indicavam que acidade estava agitada e que era sábado à noite. A brisa gostosa batia no meu rosto e eu me senti leve. Senti um corpo se juntar ao meu por trás e um beijo delicado na minha nuca. Sorri. Senti o mundo todo parar, meu coração se acalmar e meu corpo relaxar. Como se não houvesse nenhum lugar que eu tivesse que está a não ser ali. O silêncio não me incomodava e eu nunca cansaria de olhar toda aquela cidade lá baixo. A nossa volta só havia um grande gramado cercado por arvores. Me perguntei como ela chegou ali mas segundos depois dei de ombros. Senti a ausência de calor contra o meu corpo e vi que a Alasca estava toda enrolada tentando tirar as coisas de dentro do carro. Ri. Alasca sendo Alasca, poderiam passar mil anos que certas coisas nunca mudariam.

- Quer ajuda? – Falei em tom normal já que eu estava bem perto do carro

- Não precisa, pode deixar – Eu ia insistir porque ela real estava super enrolada mas estava muito engraçada aquela cena.

Ela tentava tirar mil coisas do carro ao mesmo tempo e carregar para perto da única arvore que havia ali no meio daquele campo.

Resolvi deixar ela fazer as coisas sozinha e sentei do lado contrario a arvore e observei aquela cidade pela milésima vez. Quando eu achei que eu estaria aqui? Que estaria aqui com a Alasca? O mundo real dá muitas voltas, mas eu nunca achei que ele daria tantas voltas.