"- O paraíso pelo seu maior dom - falou o espectro da ganância".
Uri e Clara estavam presos em seu próprio mundo, enquanto lá fora começava mais um dia.
Todos estavam sentados à mesa, Dorion com uma expressão bem mais animada que de costume; os pais também estavam com semblante mais animado. Só faltava Pietro para tudo ficar perfeito entre eles, que não demorou muito a chegar, logo, batidas na porta ecoaram no ambiente, o que sobressaltou todos.
Dorion se levantou como um raio, e chegou primeiro que os pais e, antes mesmo de abrir a porta, gritou.
—- Tio Pietro! — ele abriu a porta e pulou em cima do belo Storm, que foi pego de surpresa, quase caindo com a investida do garoto. Dorion o abraçou rapidamente; por pouco, eles não caíram — sabia que você viria, mas — ele fez cara de dúvida e soltou Pietro — não entendi por quê. A garota está bem. Por acaso, tem alguém dodói?
Pietro ajoelhou-se até ficar na altura do menino.
— É porque hoje eu só vim passar um tempo com minha galerinha.
— Oba! Então, o senhor veio em boa hora. Posso te mostrar a cachoeira? Quero tanto ir lá agora — os pais de Dorion e o belo Storm se entreolharam.
— É claro, Dorion, mas você precisa se alimentar primeiro. Olhe para Jack: ele está comendo tudo — Pietro sorriu ao ver a rapidez com que o menino começou a comer após ouvir aquilo; era evidente que ele também queria participar da viagem.
— Mas ele não sabe nem nadar direito — o menino falou o descrente.
— Eu prometo esperar.
O menino correu de volta ao seu assento, com medo de Pietro mudar de ideia logo.
— Sente-se conosco também — falou Altair se levantando.
— Agradeço a oferta, meu amigo, mas eu já tomei meu desjejum.
— Sabe, também acho que a senhorita deveria ir — falou Dorion, pronto para sair atrás de Pietro. Clara arregalou os olhos e ficou muda diante da situação.
— E... Eu...
— Pode deixar conosco, garotinho — Uri interveio.
— Ela me parece meio descontente — falou Dorion desconfiado.
— Minha Clara é meio tímida, só isso — o menino deu de ombros e se preparou para correr de novo.
— Ei me espera — falou Jack e saiu atrás do irmão também; os pais sorriram.
— Parece-me que será um dia longo — disse Altair.
Dorion, ao ver que sua convidada ainda estava na mesa, voltou até ela correndo, apesar da pouca distância, e começou a puxá-la de forma bem insistente.
— Calma, calma eu já estou indo — falou Clara se rendendo ao charme daquela criança. Assim como todos os outros, já estavam envolvidos; mal sabiam eles que esse mero detalhe os estava tornando parte daquele passado, e, consequentemente, certas coisas do futuro tendiam a ser esquecidas.
Dorion saiu à frente com Clara, mais atrás, o belo Storm e Uri caminham lado a lado. Jack, um pouco mais atrás, com a cabeça em outro mundo; algo dentro de si gritava, mas era bem diferente de tudo que qualquer outro bruxo já havia sentido.
Mais atrás deles, Ravena e Altair passeavam de mãos dadas, e alheios a qualquer situação.
— Então — falou o belo Storm, em um tom que sabia que não seria ouvido por ninguém à sua frente ou às suas costas, pois, apesar de tudo, ainda tinha dúvidas — soube que vocês vêm do futuro.
— Sim.
— Então, diga-me como é por lá? Como vieram parar aqui? A magia de voltar no tempo é praticamente impossível — falou de forma sarcástica.
— Quanto ao fato de termos voltado, tenho quase certeza de que foi um espectro que nos trouxe — Pietro fechou a cara, pois sabia da péssima fama que tinham, e que o impossível era somente uma questão de opinião, já que ninguém jamais sabia da extensão do poder deles. Mas o fato de terem caído justamente onde seus amigos estavam, onde somente ele era autorizado a entrar, e os outros a olhar ainda o intrigava.
— E por que um espectro os traria justamente aqui? Onde é necessário alguém de dentro deixe.
— Não sei dizer; talvez seja o espectro de alguém daqui, talvez não. Existem tantas coisas que busco entender, mas nada me traz certeza.
— Pode contar comigo, se precisar — falou Pietro, que não tinha certeza se suas intenções eram realmente para ajudar ou para se livrar logo deles.
— Obrigado — foi tudo que o jovem conseguiu dizer.
— Sabe, a outra coisa que também queria saber — disse Pietro após algum tempo, ignorando o fato de as outras perguntas não terem sido respondidas.
— Diga.
— Fiquei sabendo que é um Storm.
— Sim, sou.
— Como são eles, digo, a nossa família, sabe? — falou meio sem jeito o que fez Uri sorrir.
— São como qualquer outra família — Pietro bufou, querendo detalhes.
— E... — falou tentando entusiasmá-lo.
— Nada demais; sempre temos nossas discussões, às vezes mais que outras, mas ninguém nunca faltou aos jantares em família ou quando alguém precisava, principalmente por mim.
— Não entendi — falou meio temeroso.
— Sempre fui o último da família; todos são talentosos com magia. Em compensação, tenho quase certeza que me formei, porque meu tutor se cansou de mim — falou desanimado — Mas eles sempre estiveram lá para me animar — Pietro tentou não sorrir da situação.
— Agora que vou ensinar Dorion, quem sabe também não possa te dar algumas dicas; sabe, somos da mesma família.
— Adoraria, mas é que nesse processo todo, acabei perdendo minha varinha.
— Tudo bem, então, em outra oportunidade.
— Ok — fez-se silêncio desde então.
No meio do caminho, Jack acabou tomando outro rumo e se embrenhou no meio do mato, onde a vista de mais ninguém, seu corpo começou a brilhar como um espectro, e só parou quando encontrou uma varinha reluzindo para ele.
Jack a pegou, mas, ao seu toque, a varinha passou a fazer parte do seu pequeno corpo. Assim nasceu um dom que nem um bruxo conseguiria ter, pelo menos não tão facilmente: o de absorver magia. Estava apenas no começo, apesar de já ter se manifestado algumas vezes, embora não com tanta força quanto aquilo, mas ainda haveria muito a se contar.
Em um transe profundo, o garoto voltou para onde os outros estavam, e seus olhos se abriram pouco atrás dos pais, que estavam deslumbrados com o fenômeno que acontecia à frente deles.
Dorion havia se soltado de Clara, e ela, para não ficar sozinha, ia para perto de Uri, enquanto o garoto caminhava em direção à cachoeira, onde uma varinha, com um pouco mais de dez centímetros, tomava forma na água, e ia em direção ao garoto.
— Uau — falou o belo Storm.
Os dias se passaram, com todos com os olhos grudados em Dorion, enquanto Jack enfraquecia involuntariamente a barreira.
Pietro treinava Dorion, e Uri assistia a tudo com atenção. Clara sempre ao seu lado; já não eram mais pessoas de seu século, se vestiam como típicas pessoas da época. E sem ver suas memórias, já estavam com graves falhas, prova que o curso do futuro ja estava mudando.
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🖤 Joia Negra 🖤
FantastikPor anos Dorion Dark foi temido, senhor da guerra que durou dois séculos, e com ele o caos reinava solto. Mas no momento, sua fama passou a ser história de terror para criancinhas. Uri não acredita que ele existiu, embora sempre tenha estado lá, com...
