1 (retorno)

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  Seokjin olhou o relógio de pulso com impaciência. Seu voo havia atrasado duas horas e Kim já estava no aeroporto há mais de cinco horas. Sentou-se em uma cadeira na sala de embarque aceitando o fato de que provavelmente não embarcaria no avião tão cedo. Pensou no motivo de estar de volta à Coreia do sul depois de quase dez anos, sua avó paterna falecera há algumas horas e o funeral seria logo. Kim foi avisado do ocorrido de manhã e pela tarde conseguiu uma licença para poder voltar ao seu país de origem.
 A senhora Kim fora quem criara Seokjin por quase sua infância inteira, porém, quando o menino e os pais se mudaram para Nova Iorque, ele pouco viu a avó, apenas nas raras vezes em que voltou ao país natal, mas quando o mesmo entrou na academia de polícia ao terminar o ensino médio e começou a exercer a profissão, não voltou mais à Coreia do Sul, até então.
  Perdeu-se nos pensamentos e lembranças da avó, sentia falta dela e se arrependia de não ter ido vê-la no período de férias que havia recusado para trabalhar em um caso, há alguns meses. Estava tão concentrado nos próprios devaneios que quase não percebeu o embarque de seu voo ser anunciado, pegou a mala de mão rapidamente e embarcou no avião.

 Depois de 24 horas de voos e conexões, finalmente chegou ao seu país de origem às 07:43 da manhã. Sentia-se estranho ao falar coreano com pessoas que não eram de sua família, tinha o vocabulário praticamente de uma criança, pela falta de prática. Chamou um uber até o hotel em que iria se hospedar, se chamava Glory e se localizava em Gangnam. Seokjin riu consigo mesmo ao ver novamente o endereço do hotel no aplicativo, lembrou-se da febre mundial de Psy e de como os amigos faziam piadas com Kim por causa da música, mas ele não se incomodava e apenas brincava junto.
 Ao chegar no estabelecimento, ao dar o primeiro passo para dentro do hotel, sentiu um frio na barriga, um sentimento de nostalgia, mas que era estranho, já que nunca havia entrado lá. Ignorou a sensação e foi fazer o Check-In, assim que pegou a chave de seu quarto, um rosto conhecido surgiu na recepção, Kim Taehyung, seu antigo colega de classe da época em que ainda morava na Coreia, os dois haviam mantido contato após a mudança de Seokjin, ainda mais depois que Taehyung também entrara na polícia ao mesmo tempo que o amigo, mesmo em países diferentes. Sorriu ao vê-lo e apressou-se para lhe dar um aperto de mão, porém, Taehyung puxou-o para um abraço apertado.

 -Senti sua falta, Taehyung. - pronunciou-se, em inglês, no fim do abraço.
 -Eu também, hyung. -respondeu em coreano, ainda que fossem da mesma turma no passado, Taehyung era um ano mais novo.
 -Você sabe que o meu coreano é péssimo. Por favor, converse comigo em inglês. - continuou, em inglês, com tom de brincadeira.
 -E você sabe que o meu inglês é péssimo. -respondeu mudando do coreano para o inglês - Mas por você eu faço um esforço.
Ambos riram e começaram a andar até o quarto de Seokjin.
 -Então, largou a polícia de vez pra cuidar desse hotel? 
 -Sim, sai ano passado, quando começamos a construir o prédio, mas, como você sabe, sempre fui sócio do Jeon Jungkook em alguns investimentos dele, acho que vocês nunca chegaram a se conhecer.
 -Nunca nos conhecemos mesmo, acho que nem sei como é o rosto dele. -deu de ombros -Mas por que decidiu deixar a polícia?
 -Eu não estava mais sentindo o "feeling" sabe. Não concordava com algumas coisas... - Taehyung parecia pensativo ao dar a explicação - Além do mais, já vinha querendo administrar um hotel, quando Jungkook me disse que havia comprado esse terreno para construir um, esse foi o momento que tive certeza.
 -E o que tem de tão glorioso nesse lugar pra receber esse nome? - riu e percebeu que haviam chego ao quarto - Quer entrar? - perguntou abrindo a porta sendo seguido pelo mais novo que concordou com a cabeça.
  -Eu não sei, sinceramente. Fui pesquisar um pouco sobre o terreno e descobri que mais ou menos em 1900 até aproximadamente 1907 funcionava um hotel nesse mesmo lugar e adivinhe só, o nome era Glory Hotel. - sorriu ao explicar sobre o lugar e sentou na grande cama que havia no quarto.
  -Interessante... Ele foi derrubado quando as coisas começaram a se modernizar por aqui? - colocou ao lado da cama a mala preta que carregava consigo.
  -Não, foi explodido, mas não tenho certeza do motivo. Pelo que dizem, a antiga dona que mandou explodir, não consegui descobrir o porquê.
  -Ela explodiu o próprio hotel? E se o fantasma dela vir aqui te assombrar pra você explodir aqui novamente? - brincou.
  -Ai eu explodo, não vou discutir com a verdadeira dona disso aqui. - falou serenamente, como se a possibilidade fosse real - Bem, eu tenho trabalho pra fazer nesse lugar, boa estadia para você, Sr.Kim. - levantou-se da cama e ajeitou as mangas da camisa social azul.
  -Bom trabalho, Sr.Kim. - disse com um sorriso despreocupado no rosto ao acompanhar o amigo até a porta.
 -A propósito, por que voltou pra cá depois de tanto tempo? - perguntou, já na porta.
 -Minha avó acabou falecendo esses dias, vim para o funeral... - respondeu desmanchando o sorriso, dando espaço para uma expressão triste.
 -Oh, Jin hyung, meus pêsames, eu não deveria ter perguntado... - o Kim mais novo ficou com o rosto vermelho e gaguejou, desculpando-se em coreano.
 -Está tudo bem, você não sabia. - tentou sorrir para seu donsaeng - Agora eu vou dormir porque esse Jet-Lag está me matando.
 
  Os dois se despediram com um aceno de cabeça e Seokjin finalmente deitou-se na cama, retirando os sapatos com os próprios pés. Ainda não sentia-se preparado para ver seus pais algumas horas mais tarde, sabia que o ambiente estaria pesado. Fechou os olhos e lembrou-se das histórias que sua avó contava quando ele era pequeno, ela falava sobre o pai dela, que ele havia sido um rebelde na época em que o Japão invadira a Coreia, e dizia para o garoto que um dia ela o daria um presente muito especial, o mesmo presente que seu pai dera a ela quando a mesma fez 21 anos, Jin sentia curiosidade em saber o que era esse presente e a Sra.Kim ao ser questionada de quando o entregaria, apenas respondia que, na hora certa, ele saberia. Mas a hora certa nunca chegou e não chegaria mais.
 Dormiu por aproximadamente três horas e acordou com o barulho do despertador gritando em sua mente. Já eram uma da tarde e Seokjin percebeu que estava quase atrasado para encontrar os pais, então, tomou um banho rápido e se arrumou com pressa. Arrumou o cabelo uma última vez no espelho e saiu ao mesmo tempo que pedia um uber para ir até o funeral.

 Ao chegar no local, sentiu o clima pesado, como de previsto, seu coração apertou, mas logo a sensação de aperto passou ao encontrar sua mãe e abraça-la. Sempre que recebia um abraço de Yunhee, sua mãe, era como se todos os problemas fossem embora.
  Mesmo com o ambiente triste e pesado, o funeral ocorreu tranquilamente. Kim chorou pouco, como se sua ficha ainda não tivesse caído, porém, isso o ajudou a consolar o pai. Em um dos momentos sentiu algo estranho, como se alguém estivesse ao seu lado e, para reconforta-lo, colocava a mão em seu ombro, mas quando olhava, não havia ninguém.
  Ao fim do acontecido, um homem de terno preto veio até Seokjin com uma mala em mãos, era uma mala marrom, aparentemente do século passado, estranhou o objeto, mas ouviu o homem falar. Aquele era Kang Woobin, o advogado de sua avó, ele explicou que quando fizeram a leitura do testamento aquela mala havia ficado para ele, porém, como o neto ainda não estava no país, não tivera a oportunidade de receber. Não entendeu o porquê de sua avô dar-lhe aquilo, mas aceitou e agradeceu ao homem.
  Chegou no hotel pela noite, colocou a mala em cima da cama e a abriu, revelando algumas coisas dentro da mesma, mas o que chamou a atenção de Kim foi um envelope branco com os dizeres.
"Para o meu querido Seokjin"  

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Essa é a mala em questão, okay?
Espero que tenham gostado e aproveitado a leitura.
Se possível, clica em fav e comenta aqui me dizendo o que achou, é importante pra mim pois me estimula a trazer mais da história pra vcs.

É isto, até a próxima att :)

Soulmates - namjinOnde histórias criam vida. Descubra agora