Eu (não) sou um psicopata. Capitulo 2. O primeiro dia de aula.

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" - Harry, Harry, acorda! Vamos ! - gritava minha mãe enquanto eu era chacoalhado em sua tentativa de me acordar.

O dia estava nebuloso, cinza, mas para essa cidade não era de se espantar, eu estava com sono e sentia minha barriga roncar. Fui ao banheiro fazer minha higiene e depois me arrumei, hoje é o primeiro dia de aula do oitavo ano, vesti uma das melhores roupas que eu tinha na época, aquele dia era especial demais pra mim. A mochila pesada carregava meus livros e cadernos novos, tudo etiquetado e com o cheiro de papel novo ainda.

- Anda Harry, senta, sua mãe está fazendo panquecas e aproveita já que sua irmã ainda não desceu - falava meu pai enquanto distribuía os pratos.

Depois do café eu me sentei na varanda e esperei pelo ônibus. Dois quarteirões daqui escuto o motorista gritar com uma senhora que atravessa a rua, me levanto e vou até a calçada.

Instantes depois já estava na escola, os adolescentes se reuniam nos cantos e nas escadas,  por todos os lados viam-se alunos novos. Dentro do saguão avistei Laura, Pedro, seu irmão gêmeo e Lucy, meus melhores amigos. Abracei cada um deles. Eu sentia falta dos meus amigos. Nossa amizade começou no jardim de infância, éramos bons quando se tratava de amigos inseparáveis.

Não demorou para vermos Richard, um garoto do 9º ano com quem tínhamos certas desavenças. 

- Oque você faz aqui pequeno Harry? - Richard carregava em seus lábios um inchaço escuro - veio para o seu funeral? 

Richard era uma das influências da escola, seu comportamento ecoava pelos corredores todos os anos, suas brigas e todo seu jeito grosso de ser.

- Vamos pra sala? - sugeriu Pedro.

- Sai daqui cara, você não tem que ir chorar com as suas bonequinhas? - Laura sempre respondeu as provocações dele.

-Laurinha, bem que você podia calar a boca e vir ficar comigo - Eu e Lucy cruzamos olhares, me lembrei do dia em que ele propôs um namoro para ela.

Olhei seriamente para ele até que ele chegou mais perto e me deu um empurrão, eu me desequilibrei e cai para trás, fui pego pelos braços por um dos amigos de Richard, eles todos riram. Meu corpo queria gritar de raiva. Fui solto e então me distanciei em direção ao outro lado do corredor, ainda escutava as risadas do grupo.

Eu queria poder ensinar uma lição para eles, queria poder me vingar de todos. Eu tinha raiva guardada por anos. Escutei piadinhas do Richard pelas costas todos os anos da escola, eu estava de saco cheio. O corredor tinha poucos alunos espalhados pelas portas dos armários, era uma boa oportunidade de responder aos insultos. Tirei a mochila dos ombros e retirei de lá a adaga que papai me deu, mais parecia uma faca. 

Papai tinha trabalhado alguns anos na policia e nos ensinou vários truques de defesa, esse foi o presente dele depois que fomos assaltados na casa da vovó. Eu sabia como usar, eu queria assustar Richard. Retirei ela rapidamente da mochila e corri em direção ao amigos dele. Encostei a arma próximo a costela de um deles e falei em seu ouvido:

- Fica quieto menininha ! - por meses eu escutava essas palavras de todos eles.

Ele tentou revidar e tirar a arma de mim, nesse momento vários olhos me seguiam, forcei a lamina em sua direção e senti ela perfurar seu tórax, ele cuspiu enormes quantias de sangue até cair. Richard saiu correndo, provavelmente chamar adultos.

- Oque você fez Harry? - questionou Laura enquanto todos me olhavam de boca aberta.

Quando os olhos de Laura bateram com os meus eu me dei conta do que acabei de fazer. Um calor percorreu meu abdômen e eu sentia como se precisasse gritar. O garoto caiu no chão se debatendo com dor e o sangue de sua boca e tórax escorriam pelo piso. 

- Eu...Eu...Eu não sei - respondi com várias lagrimas já escorrendo pelos olhos.

Puxei a lamina do corpo e eu só pensava em correr.

- Desculpa pessoal.

Existia uma floresta próximo a escola, pelo lado sul. Entrei correndo na mata e depois de um tempo eu cheguei no lago. Eu e os meus amigos costumávamos vir até aqui brincar, fazer bolas de lama e mergulhar na água. Minha respiração estava pesada, ofegante e eu queria afundar. Limpei a lamina e me sentei na beirada da água. Eu não estava entendendo nada do que tinha feito.

Eu (não) sou um psicopata. [VERSÃO REVISADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora