Eu (não) sou um psicopata. Capitulo 21. Com amor, Harry.

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Lucy me acorda desesperada dizendo que Laura havia quebrado tudo e saído correndo, o quarto está todo revirado. Os vasos e o abajur estão pelo chão. O lençol está um pouco molhado e sinto uma ponta de preocupação. Tento ligar para seu telefone, mas a secretaria eletrônica é a única que me atende. Talvez seja apenas uma raiva instantânea ou uma crise de ansiedade, mas isso não é normal de Laura.

Saio pela casa e procuro pelos remédios que eu trouxe do reformatório, alguns para ansiedade e outros para tentar controlar minhas vontades inconsequentes, alguns simplesmente para que eu não gritasse.

Uma das caixas do guarda-roupas guardava algumas das coisas que resgatei de lá. Alguns papéis, envelopes, itens e uma carta. Ainda lembro da dor que tive ao escrever, dos sentimentos de dor que estavam depositados naquelas linhas. Minha mãe nunca a recebeu, mas para mim, ela tinha lido e a jogado no lixo.

Querida mamãe,
Estou te escrevendo esta carta para lhe mostrar minha gratidão, meu ódio por esse lugar e pelo quanto eu odeio vocês por terem me colocado aqui. Tomara que Annie não passe o que eu passei nas suas mãos. Em parte, eu até que gosto daqui, de estar longe de vocês. As palmadas de Peterson até parecem macia e menos dolorosas que as de papai, quase sinto prazer ao recebe-las. As queimaduras, os chicotes, as palmadas, tudo isso que eu sofro aqui devo a vocês, eu sei que fiz coisas erradas e me arrependo por isso, mas nós sabíamos que haviam modos diferentes de solucionar o problema.
Mais uma vez, obrigado, pelo sofrimento, obrigado pela separação, por me tirar dos braços de meus amigos, de meu futuro. Obrigados pelos estupros e por terem me colocado aqui, na mão de outros estupradores violentos e nojentos, miseráveis. Não sei por quanto tempo vou aguentar tanta violência. Se não tivesse voltado para casa aquele dia talvez os danos teriam sido menores.
Papai, tomara que o senhor tenha encontrado outro brinquedinho sexual para acabar. Talvez as coisas agora fossem menos dolorosas se eu não tivesse passado primeiro pelo senhor. E mamãe, obrigado por ter se calado e por tê-lo apoiado. Jamais esquecerei o que vi de vocês aquele dia.
Obrigado pelo amor de vocês que me tornou tudo que sou hoje.
                                          Com amor, Harry.

Uma lágrima escorre pelo meu olho. Aperto a carta e soco com força a caixa. A raiva que eu sentia por meus pais ainda é latente. Apenas engulo e enxugo os olhos.
Laura não demora a voltar, seu rosto está mais corado e suas mãos cheias de sacolas do mercado.

- Laura, você está bem? – Me aproximo dela e levo suas sacolas para a cozinha.

- Muito bem, eu só queria dar uma volta. – Sua aceitação a tudo isso parece ser forçada. Eu sei que ela não está bem, ela demonstra algo que eu sei ser falso. – E olha – ela me entrega um bilhete com um telefone. – Linnye acabou de sair da prisão e ela não tem para onde ir, sua sentença de assassinato foi retirada, e sabe, ela é minha prima, imaginei que poderíamos ajudá-la.

No fundo isso me interessa. Alguém para me ajudar, para levar a culpa comigo. Não sei se devo. Sorrio baixo e coloco o número na gaveta.

- Laura, você sabe que não é obrigada a aceitar tudo isso, a viver comigo e a ser assim.

- Harry, não tente fugir de mim. – Ela me abraça – eu te amo e mesmo você sendo assim eu vou lutar por você.

Meus lábios continuam duros ao beija-la. Estou machucando Laura e não sei se posso parar, se posso negar gostar disso, de tê-la. A escolha agora foi dela e tudo que vier a seguir é culpa dela.

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Eu (não) sou um psicopata. [VERSÃO REVISADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora