O gosto do café hoje é mais amargo, repleto de pensamentos. Lucy e Laura ainda dormem, talvez eu tenha acordado cedo demais para elas. Abro as cortinas e aos poucos vou sentindo o sol penetrar a casa. Me sinto diferente depois da morte de Lee, mais atento, sinto que meus sentidos aguçaram.
Termino os preparativos para a aula de hoje e decido caminhar, são quase sete da manhã e minha barriga ainda reclama de fome. Entro na padaria onde eu e minha vó comíamos quando eu passava o final de semana aqui. Consigo lembrar do cheiro do pão doce que ela pagava para mim, consigo lembrar da infância.
Sento na cadeira da bancada e peço por um sanduíche e um copo grande de café.O garoto que está ao meu lado escreve em uma agenda. Meu café não demora muito e logo chega. Tomo alguns goles e o garoto continua ali, escrevendo, escrevendo, desesperado.
- Você parece gostar disso... – vou colocando açúcar no café.
- Talvez essa seja a única coisa boa pa4a gostar desse lugar - ele ri encarando o garçom que o ouviu. – É um livro na verdade.
- Você já provou o café? – Rio – interessante.
O tom de sua voz é meio baixo e levemente aguda, talvez seja sua sexualidade, ou apenas alguns hormônios. Seu corpo se posiciona segura e friamente na cadeira. Ele não para de escrever naquilo.
Recebo um pouco da arrogância do atendente ao deixar cair um pouco do café na mesa. O garoto se revira como se fosse rir.
- O que foi engraçado?
Ele engole seco balançando a cabeça. Me levanto e termino o café. Começo a caminhar em direção a minha casa. Ao virar a esquina escuto alguns passos nas minhas costas, são passos rápidos, acompanham os meus. Continuo caminhando e acelero o passo. Quando estou na frente de casa eu paro e viro de costas.
- Qual é a sua garoto? – Ele congela com medo.
- Eu só... só... queria te relatar no livro, só isso... – desconfio.
Puxo ele pelo casaco.
- Precisava me seguir? – Ele treme – vamos, me mostra isso.
Ele me entrega a agenda e eu o empurro para dentro. Leio rapidamente mas ignoro as passagens. Coisas ruins, descrições feias.
- Você vai acabar com isso agora. – Coloco as mãos na cintura e bato a porta.
- Oque? Tudo bem, tudo bem... – ele continua tremendo, confesso que gosto disso.
Ele se escora no sofá.
- Agora, acaba com isso.
Ele começa a rasgar uma das páginas.
- Pronto?
- Obrigado. – Estou pronto a manda-lo embora quando Lucy me interrompe da cozinha.
- Pelo menos dê água aos convidados. – Ela surge com um copo nas mãos – qual seu nome?
- Car-carlos Daniel...
Eu quase peço desculpas mas ignoro-os. Vou indo para as escadas secando o suor com a camiseta que tirei. Enquanto subo escuto alguns sons esquisitos e de repente cacos de vidro no chão. Corro de volta para a sala e o vejo tentando juntar alguns cacos e pedindo desculpas. Lucy começa a varrer. Me ajoelho próximo a ele e começo a ajudar. Ele me encara por alguns segundos e apoia a mão em alguns cacos.
- Porra! – Ele grita.
Tento ajuda-lo a tirar os cacos das mãos, mas ele escorrega e bate a cabeça nos estilhaços do chão. Já tem sangue por todo lado, a tempora direita foi perfurada por um cacos, garoto desastrado. Lucy tenta ajudar e eu tento ligar para a ambulância. É tudo que passa pela minha cabeça.
- Não vai dar tempo. – Lucy me assusta.
Tremo ao digitar os números. Seus gemidos já estão mais lentos e ele começa a chorar. Jogo o telefone no chão e vou até eles. Sua veia aorta tem um enorme pedaço do copo. Grito alguns palavrões e soco seu estômago. Laura começa a descer e me vê com as mãos ensanguentadas. Meu corpo todo está sujo. Ela se mantem na escada e sua expressão me revela como assassino mais uma vez.
Tento me explicar rapidamente, mas tudo que sai de minha boca são gaguejos. Ela sai para o quintal e bate à porta. Digo a Lucy para conversar com ela e vou trocar de roupa. Alguns minutos mais tarde faço um buraco para ele e o arrasto até lá. A árvore parece agradecer por mais adubo. Limpo o chão da sala e não vou para aula mais uma vez.
Vou para o banho no final da manhã, a água que escorre do chuveiro parece me livrar daquela situação, mas meu prazer é quebrado ao ver o sangue escorrer pelo ralo. Termino de me enrolar na toalha, encaro o espelho e começo a escovar os dentes, minha visão parece ficar turva, tento focar apenas no ralo da pia, mas fico cada vez mais tonto. Minha testa lateja e minha cabeça começa a doer. Uma dor que aumenta a cada movimento que eu faço, coloco toda minha força na pia para me manter firme mas caio no chão. Tudo fica escuro e me reviro. Acho que já passou um minuto assim até que a dor passa, me levanto fraco e olho o espelho, meus olhos estão vermelhos e meu nariz sangrando. Lavo meu rosto e deito na cama ainda com as veias latejando.
A pressão vai se aliviando aos poucos e algumas horas depois acordo. Meu telefone está tocando na cabeceira e já é a quinta chamada. Atendo. É minha mãe e tudo que escuto são choros. Me sento na cama e ela explica a situação. Como ela é a responsável legal por mim recebeu uma intimação da polícia. Eu deveria comparecer ao tribunal e procurar pelo juiz responsável pelo caso 213. Meu tio iria me levar o documento à noite.
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Eu (não) sou um psicopata. [VERSÃO REVISADA]
Misterio / SuspensoVERSÃO REVISADA DO LIVRO: https://www.wattpad.com/story/119347811-eu-n%C3%A3o-sou-um-psicopata-em-revis%C3%A3o Harry tinha uma vida ótima, como a de qualquer estudante normal, até o dia que tentou assassinar seu colega da escola. Desde então, Harry...