Eu (não) sou um psicopata. Capitulo 3. De volta para casa.

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- Harry, Harry, Harry! - Gritavam algumas vozes ao fundo.

- Harry, Harry... - eram Laura, Lucy e Pedro correndo pelo bosque em direção ao lago.

- Sabia que você estava aqui... - me disse Lucy.

- Oque vocês estão fazendo aqui? - perguntei com espanto.

- Cara,somos seus amigos, a gente queria achar você - me respondeu Pedro.

- A diretoria falou que você, que caso eles te encontrassem, você iria pra um reformatório, já que você não tem idade para ser preso... - Laura me informou - Fizeram muitas perguntas para nós... a gente falou que você tentou se defender deles... nós ficamos muito assustados Harry... 

Prisão. Aquilo me deixou mais assustado, para falar a verdade me deixou apavorado.

- Vamos embora cara... depois seus pais vão resolver isso para você... - Questionou Pedro.

- Ir pra onde?

- Pra casa ué... você não pode viver se escondendo...

- Eu até tinha me esquecido! Meus pais já sabem da história?

- Bom... todo mundo lá da escola sabe, e eles ligaram para todos os pais hoje... - respondeu Lucy.

- Acho melhor eu voltar mais tarde...

Peguei a lamina que estava na terra e coloquei na mochila que Lucy trouxe para mim. Eu havia assustado meus amigos e não queria mais isso. 

- Até lá podemos ir comer alguma coisa... - Sugeriu Pedro.

-C laro que sim... - Limpo uma lagrima. Não posso esconder meu sentimento de culpa em relação a tudo isso.

Meus amigos e eu gostávamos de comer em um trailer que ficava estacionado pertinho do bosque, durante o caminho e o lanche todo ficamos em silêncio, não tocamos no assunto. Laura e Pedro, depois que comemos contaram de suas férias e a viagem para Londres no inverno. Eu não conseguia prestar atenção em nada daquilo. 

No fim do dia eu me despedi de meus amigos, provavelmente só os verei depois de muito tempo com a possibilidade um castigo ou coisa pior. Eles me deixaram na esquina de casa. Fui caminhando pela rua úmida que me deixava cada vez mais assustado e nervoso. Na varanda, enquanto me preparava pra abrir a porta fui interrompido por meu vizinho.

- Olha, olha quem voltou...

- Oque você quer? - Era Klaus, um dos amigos mais velhos de Richard, meu vizinho de porta.

- Bom... Você agora que é um procurado eu queria fazer umas perguntas... quem diria... um pequeno assassino de apenas 13 anos...

- Sai daqui cara...

- Ai...ai... agora oque? Vai me matar também? 

- Cala a boca Klaus... - esbravejei.

- Vem me calar garoto...

Fiquei em silencio e voltei em direção a campainha.

- Seus pais não estão... foram atrás de você.

- Como que você sabe?

- Bem é que...Eu acabei de sair dai...

- Você veio fazer oque aqui ?

- Eu vim foder sua irmã

- Klaus ! Cala boca !

- Vem me calar eu já falei !

A mesma sensação de hoje de manhã na escola, a vontade de descontar a raiva, de me vingar. Eu queria fazer aquilo de novo. A mochila que estava nas mãos estava aberta, a adaga estava perto da minha mão. Eu nem mesmo titubeei em pegar. Segurei-a firme pelo cabo e larguei a mochila.

- Qual é garoto? Agora vai me furar também ? - Falava ele me dando um empurrão.

- Bem que você merece...

- Tenta vai... Vai... tenta..

Ele me encarou. Seu olhar me perfurava. A raiva que eu sentia parecia controlar minhas ações naquele momento, fui na sua direção e o empurrei contra a parede, não sei de onde tirei tamanha força. A lamina estava na minha mão e tudo naquela rua em extremo silencio.

- Você não consegue né Harry? Você é fraco... - Ele não revidou, estava me provocando.

Coloquei a ponta mais perto de seu pescoço. Ele tentou falar alguma coisa mas já era tarde. A lamina perfurou sua carne.

- Eu disse que ia conseguir... eu não tenho mais medo de vocês - olhei mais fundo em seus olhos.

Aos poucos a vida pareceu fugir do corpo dele. Eu não poderia deixar o corpo ali. Eu precisa tira-lo dali. Eu não havia notado, mas o perfurei profundamente no pescoço. A adrenalina baixou e eu perdi a força para tirar a adaga dali, tentei de várias formas mas só fiz mais sujeira. A cabeça caiu entre os arbustos no momento em que eu consegui, fiz um estrago. O corpo pesado dele caiu para a lateral da varanda. Cabeça para um lado e corpo para o outro, eu não sabia oque fazer.

O casado dele era longo, grosso, tirei de seu corpo e tentei enrolar em volta do pescoço para não fazer mais sujeira. Escondi a cabeça de Klaus fundo nos arbustos e com muita dificuldade arrastei o corpo dele até o fundo do terreno. Nossa rua foi urbanizada em cima de uma colina, para trás de nossa casa existia um morro muito longo, seu corpo foi escorregando aos poucos até chegar no barro no fundo.

Eu entrei em casa pelos fundos, não tinha ninguém ali, eles estavam atrás de mim. Peguei uma toalha de banho e limpei o sangue que tinha sujado a varanda. Meu cachorro ajudou lambendo todos os cantos. Aquilo em deu enjoo, me assustou. Guardei a toalha no armário, ainda suja e sentei na cama. Sei lá quanto tempo passou. Mas só levantei dali quando ouvi os gritos de mamãe entrando em casa.

- Harry, meu filho...

Ela subiu as escadas correndo e me abraçou no corredor. Chorando. Aquilo me trazia muita culpa. Meu pai gritou lá de baixo me mandando descer. Obedeci, calado.

Me sentei e escutei todos os gritos dele comigo. Annie e minha mãe foram para a cozinha, eu só escutava suas lagrimas. Papai não para.

- Garoto... Você está pensando oque? Você acha que pode sair por ai ferindo gente? A sua sorte que o garoto não morreu...

- Mas pai...

- Sem mais nem menos garoto ! Não há justificativa pra isso...

- Pai...

- Calado rapaz..

- Percy... não seja bruto com ele... -interrompe minha mãe.

- Como não ser brutal... olha oque ele fez...

- Pai... - gritei - eu apenas me defendi dele... como você me ensinou

O silêncio reinou por um tempo. Até ser destronado pelo som da palma de papai em minha bochecha.

- Não grite mais comigo Harry...Você vai pro reformatório.

Eu subi correndo para meu quarto e me me sentei. Eu estava assustado.

Entrei em pânico. Deitei na cama e liguei o rádio. Horas depois uma buzina soou lá de fora. É a policia vindo me buscar. É quase madrugada e começou a chover, desço e minha mãe me abraça aos prantos, ela acende a ultima esperança em mim, meu pai vem em seguida com aquele ar de desprezo. Ignoro. Não vejo Annie. O policial me leva até o carro, ele fecha a porta e as lembranças do dia invadem a mente, olho para minha casa e vejo meus pais abraçados na porta, mamãe está chorando muito. Olho para a janela do quarto de Annie e vejo ela me olhando de lá. Coloco a mão no vidro e mexo os dedos me despedindo dela.

- Vamo bora... - Anuncia o policial.

Serão 3 anos vivendo lá, ou mais.

Eu (não) sou um psicopata. [VERSÃO REVISADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora