5- O cemitério

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Tokoyami nunca imaginou que conseguiria outra pessoa para cuidar de Izuku para que finalmente conseguisse descansar e se dedicar à futura família; sabia que Kirishima precisaria de ajuda para se aproximar do pequeno, contudo também via nele a possibilidade de mudar o amigo.

— Se precisar de mim, é só me ligar – avisou.

— Certo.

Midoriya estava trancado no quarto assistindo aos animes da temporada enquanto degustava um sanduíche que fora preparado por Fumikage para si; não sabia que ficaria sozinho com Kirishima e o amigo preferiu não contar, porque se ouvisse os pedidos desesperados do menor para que ficasse consigo, acabaria cedendo.

— Deku, eu posso entrar? – Eijiro pediu, já na porta. Tokoyami já havia ido embora há tempos.

Izuku se arrastou até a porta, logo a destrancando. Franziu o cenho ao ver que Fumikage não acompanhava o editor.

— Cadê o Fumi? – perguntou.

— Bom... ele precisou ir embora, mas não se preocupa, 'tá? Eu vou ficar do seu lado o tempo inteiro – e sorriu gentil.

Midoriya não possuía força nem vontade de ser ignorante com o garoto, então apenas pulou sobre a cama, deixando assim o notebook branco cair. Se cobriu inteiro, murmurando para Kirishima pegar o objeto que estava no chão.

— Deku, hm... eu sei muito sobre você – colocou o notebook sobre a cômoda e se sentou ao lado do ídolo. — Mas você não sabe nada sobre mim. O que acha dá gente conversar só um pouquinho?

O pequeno colocou a cabeça para fora do edredom; mesmo estando bastante mal, sua curiosidade de escritor não o abandonava. 

— Digamos que você me salvou... – se ajeitou na cama. — Suas palavras me deram forças para continuar lutando mesmo quando eu estava quebrado.

— Como assim? – sentou-se ao lado de Kirishima e pendeu a cabeça para o lado.

— Eu era bem excluído – soltou um riso fraco —, sofria diversos abusos, sejam eles físicos ou verbais. Na escola, o bullying era feito todos os dias – suspirou e começou a batucar os dedos nas pernas.

— E seus pais?

— Bom, meus pais... O meu pai era um alcoólatra que vivia às custas do dinheiro da minha mãe. Teve um dia que ele tentou me matar só para conseguir o dinheiro do seguro de vida, acredita? – coçou a nuca em sinal de desconforto.

Izuku não respondeu; seu silêncio dizia para prosseguir com o desabafo.

— Eu gostaria tanto de dizer que minha mãe era alguém que me defendia e cuidava com unhas e dentes, mas não. Ela me odiava. Jogava na minha cara que eu não passava de um erro e que se ela tivesse escolha, teria me abortado. Uma vez ela tentou me vender para uma casa de prostituição, contudo meu corpo já 'tava em um estado deplorável, então eles não quiseram algo sujo e usado – respirou fundo. — Na escola não era diferente. Eu era humilhado de todas as maneiras possíveis que você pode imaginar. Os professores jogavam na minha cara que eu só fora aceito lá porque minha mãe dormiu com o diretor. Eu não acho que seja mentira, só não é algo que você gosta de ouvir, né?

Kirishima estalou a língua; mesmo sendo memórias horríveis e deploráveis, ele queria compartilhar com Midoriya e fazê-lo entender sua mensagem.

— Eu... – engoliu o seco. O que ia falar agora era algo pessoal e complicado até mesmo para si. — Tinha só 15 anos quando considerei a possibilidade de acabar com tudo o que eu passava... – ouviu um suspiro baixo de Izuku. — Eu não queria apenas ser "uma tentativa de suicídio em meio de tantas outras", sabe? Eu queria aquilo e iria fazer acontecer de todas maneiras. Até que... eu comprei uma novel sua só para me distrair. Talvez ler alguma última coisa antes de fazer algo que apagaria minha existência desse plano espiritual.

Meu estranho editorOnde histórias criam vida. Descubra agora