- Não! Absolutamente não! - gritou Hawk.
Já no depósito, contei todo o meu plano e agora, depois de uma hora, ainda estava ouvindo os quatro reclamarem.
- É uma ideia excelente! - falei, pela décima quinta vez, mas sabia que era mentira.
E eles entraram em mais uma discussão.
Suspirei, voltando a pensar nos detalhes de meu plano enquanto brincava com o anel. Assistindo a pedra brilhando pelo contato com a luz.
- Eu posso tentar voltar a trabalhar no castelo, posso dar um jeito de colocar um veneno na comida de Nighy. Será menos arriscado - sugeriu Louise.
- Isso é sério? Stultissime! Todos vocês. - Sem tirar os olhos do anel, continuei: - Esse é o plano mais absurdo que já ouvi e é óbvio que não dará certo, Alfred sabe que você era a protegida de meu pai, ele nunca a dará uma oportunidade se quer de o matar. Ele estará sempre com os olhos bem abertos para você. É suicídio.
- Suicídio é o seu plano, Cassie - Berryan falou, e eu o olhei. - Mas devo dizer que acredito que o seu tenha mais chances de êxito do que o dela.
Sorri, feliz por alguém estar, finalmente, concordando comigo.
- Mas, caso não dê certo, é o fim - murmurou Louise. - Se o meu der errado, não terá tanto impacto. Não sou eu o símbolo de esperança para o povo, minha morte será apenas mais uma.
- O quê? - Fedore a olhou, chocada. - Sua morte será apenas mais uma? Você só pode estar brincando. - Riu, irônica.
- Fedore...
- Não! Não, porra. - A mulher se levantou com rapidez, tombando a cadeira onde estava sentada. - Eu não posso deixar você fazer isso, Louise. Você é minha melhor amiga, minha irmã. Não vou te deixar se arriscar dessa forma, isso está fora de cogitação.
- Você não está sendo racional - tentou argumentar.
- Quem não está sendo racional é você, caralho.
Me senti invadindo um momento que deveria ser somente deles e, por isso, me levantei da mesa, saindo do depósito.
O ar gelado chicoteou meu rosto. Respirando fundo, me sentei com as costas contra um tronco. Ouvi um rangido familiar e olhei para a porta, vendo o corpo alto e forte de Berryan passar pelo batente.
Enquanto ele caminhava, deixei meu olhar percorrer seu corpo. Desde os cachos, passando pelas muitas pintinhas, até seus pés enfiados em botas pretas. Sua pele dourada brilhava sob a luz da lua.
- Por que saiu de lá? - indagou, sentando ao meu lado.
- Não era a hora de estar ali. - Dei de ombros. - E você?
- Não era hora de estar ali - repetiu, sorrindo. - Hawk e Fedore estão tentando colocar algum juízo na cabeça de Louise.
- E você veio até aqui tentar colocar na minha?
Eu sabia que ele não aprovava meu plano, ele havia deixado bem claro. Mas nada tiraria de minha cabeça que esse era o único jeito de conseguirmos, enfim, derrotar Alfred Nighy.
- Vai adiantar? - perguntou, e eu neguei com a cabeça. Ele suspirou, levando a mão até a nuca e puxando os fios de cabelo. - Você é teimosa demais. Não é justo que se sacrifique dessa maneira.
- Vocês vieram me procurar para isso, Berryan. - Franzi o cenho, confusa.
- Mas isso foi antes, Cassie. Antes de eu me apaixonar por você, antes de saber que eu me sentiria desesperado só por pensar no que pode te acontecer. - Sua voz rouca transparecia sua dor, e eu me senti quebrar por fazê-lo sofrer.
- Eu te falei, Berryan. Eu te avisei que não poderíamos ter nada mais do que o que já tínhamos - murmurei. - Você sabia de todos os riscos...
- Eu sei! - exclamou. - E não me arrependo. Não me arrependo de nada. Nós ainda podemos ficar juntos, certo? Se o seu plano funcionar.
- Fedore me beijou - contei.
Titus me olhou nervoso e incomodado com a situação, mas não reclamou, sabendo que não tínhamos nada e eu, nem ao menos, o devia explicações. Ele puxou os cachos novamente antes de perguntar:
- E?
- Eu não sei, Berryan. Eu realmente não sei - respondi, sinceramente. - Eu gosto de ficar com você, mas Fedore e eu temos química desde o primeiro dia, sabe? Quase como a nossa. - Apontei para nós dois. - Não é justo que eu responda sua pergunta agora, não quando estou dividida e, muito menos, quando estou pronta para me jogar de cabeça em um plano que, caso dê errado, não terá outra saída além de minha morte.
Ele assentiu e abaixou a cabeça, olhando para o chão.
- Você seguirá mesmo com seu plano, então... - sussurrou. - Quando?
- Amanhã já não estarei mais aqui, peço que não conte para nenhum deles. Ou eles me impedirão de ir.
Berryan sacudiu a cabeça, confirmando que não iria dizer nada.
- Podemos aproveitar essa noite, pelo menos? - perguntou, voltando a me olhar. - Já que pode ser a última.
Sorri e me levantei, esticando a mão para ele. Nós seguimos em direção à uma caverna próxima do depósito e, durante o caminho, deixei meu olhar se perder por entre as árvores, apreciando o lugar que havia passado tanto tempo e que, talvez, nunca mais tivesse a chance de revê-lo.
Ir à caverna com eles, capítulo 41.
Pular a ida à caverna, capítulo 30.
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Red
FantasyLivro interativo, você faz escolhas pela personagem. Primeiro livro da série Escolhas. Conteúdo adulto. Cassandra sabia do enorme peso que era carregar o sobrenome Red. Já que, por causa dele, ela havia sido forçada a viver reclusa por muitos anos...