Querendo prolongar mais minha visita ao reino, entrei em uma ruazinha próxima de onde eu estava. Como ela estava vazia, voltei a andar normalmente, sem precisar fingir que estava alcoolizada.
O caminho era estreito, as pedras que formavam a trilha maltratavam a sola de meu pé, enfiado em uma bota preta. Haviam cartazes por toda parte, cada um mais absurdo do que o outro. Todos enalteciam Alfred Nighy pelos crimes que ele cometia em nome da ordem e justiça, mas que eles próprios contradiziam suas motivações.
Ouvi um som alto de gargalhadas e, curiosa, fui em direção às vozes.
Um grande e bonito palco estava montado, a multidão ao redor estava enlouquecida e riam de cada fala dos atores ali em cima. Um homem alto e robusto usava vestes ricas, caprichadas no vermelho e no dourado do ouro; em sua cabeça pendia uma falsa coroa, usada também para segurar a peruca loira quase branca; joias repletas de pedras vermelhas, mas eu tinha certeza que os rubis ali eram falsos.
Era meu pai.
O homem estava encenando meu pai.
Uma maquiagem escura e borrada estava em seu rosto, forçando uma aparência pálida e doente, e a visão me partiu o coração. Era provavelmente como ele estava em seus últimos dias de vida, como sua memória ficaria gravada para sempre na cabeça de seus súditos.
Um estrondo foi ouvido quando uma mulher apareceu em cena, e eu só precisei reparar nos cabelos negros para saber que era minha mãe. Meus punhos se fecharam automaticamente, assistindo-a se aproximar com lentidão do homem que fingia ser meu pai. Sua cabeça estava baixa, como uma submissa, como se não pudesse ousar levantar o rosto para o rei, e meu sangue ferveu.
- Rei George - ela falou, fazendo reverência.
Sua voz era estridente e incomodava meus ouvidos, o total contrário de minha mãe, que possuía uma bela voz.
Ele sacudiu as mãos, desdenhando de minha falsa mãe e perguntou:
- O que está fazendo aqui? - O tom de voz raivoso fez com que ela se encolhesse, temerosa. - Lugar de mulher da vida não é em meu reino.
Mentula!
Eu não podia estar ouvindo isso.
Não havia conhecido meu pai, mas minha mãe, às vezes, contava histórias sobre seu relacionamento com ele. Como ele sempre havia a tratado bem, como era carinhoso e doce. Uma completa oposição ao que eles estavam pintando.
- Me desculpe, meu rei, mas... - gaguejou, fazendo a plateia voltar a gargalhar.
- Fale logo, sua messalina - ordenou.
- Eu tive um filho, e Vossa Majestade é o pai.
Ela esticou os braços, o entregando algo enrolado em um cobertor. Até então eu não havia notado que ela segurava alguma coisa. O homem tirou o tecido e mostrou para a plateia um boneco. Todos riram, eu apenas permaneci olhando para a falsa criança deformada em minha frente; eles haviam arruinado o rosto do boneco, o meu rosto, para que pudessem me diminuir.
Meus olhos queimaram pelas lágrimas que brotaram instantaneamente, sem controle.
- Isso não é meu filho, é uma aberração, uma monstruosidade.
As gargalhadas voltaram a chegar em meus ouvidos, a dor era tão grande e forte que havia se tornado física. Sentindo meu corpo vacilar, precisei sair de lá antes que caísse ou que alguém percebesse meu pranto. Enquanto eu me afastava, ainda ouvindo a nojenta sátira sobre minha vida, senti uma vontade gigantesca de desaparecer, de deixar que todos eles se ferrassem e caíssem em desgraça.
Mas as imagens de Francis, de Berryan, Louise, Fedore, Hawk surgiram em minha cabeça. A mulher da Taverna, que eu nem ao menos sabia o nome, meus pais... Todos que faziam parte do Red Rebels.
Minha consciência berrava que, caso eu virasse as costas e sumisse, eu seria igual ou pior que Alfred Nighy.
Se você acha que Cassie deveria desistir e mandar todo mundo à merda, vá para o capítulo 21.
Se você acha que Cassie deveria continuar com o plano, vá para o capítulo 08.
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Red
FantasyLivro interativo, você faz escolhas pela personagem. Primeiro livro da série Escolhas. Conteúdo adulto. Cassandra sabia do enorme peso que era carregar o sobrenome Red. Já que, por causa dele, ela havia sido forçada a viver reclusa por muitos anos...