- Nunca pensei que um dia estaria aqui - comecei. - No reino, no castelo. Entre vocês. Mas agora tenho responsabilidades, sinto que devo isso a minha mãe. Sei que ela gostaria de me ver tomando a decisão correta, deixando meu rancor de lado, o que, sinceramente, é difícil demais, mas prometo que tentarei. A partir de hoje, eu serei a nova rainha de Red Fortress.
Um burburinho começou, mas era impossível entender o que estava sendo dito.
- Se vocês forem oposição, não precisam temer, não os matarei como Nighy fazia, mas exijo, no mínimo, respeito. Assim como respeitarei vocês. Não preparei nenhum discurso, estive ocupada demais sendo exilada de meu reino, sendo obrigada a fugir de minha casa e aprender a lutar, sendo enjaulada como um animal, passando fome, sofrendo tortura psicológica...
Quase sendo estuprada, completei mentalmente.
Esse era um fardo que eu carregaria para minha vida inteira, mas que, com a justiça feita, não precisava ser do conhecimento de mais ninguém.
- E, para falar a verdade, não há nada que eu queira dizer para vocês nesse momento, portanto encerro aqui meu comunicado.
Eu sabia que deveria fazer um discurso, que deveria tentar inspirar e acalmar o povo, que deveria restaurar esperança em seus corações. Mas, como eu havia dito, o rancor era algo complicado de se livrar. As lembranças de como meus pais viveram miseráveis, de como se amaram e viram esse amor ser impossibilitado de acontecer, de como eu fui impedida de ter qualquer convívio em sociedade, de como o teatro do reino fazia piada com minha vida, como se tudo não passasse de uma grande e engraçada brincadeira; essas lembranças martelavam em minha cabeça e não me deixavam pensar, ou mesmo ter vontade, para dizer qualquer coisa que fosse.
Nem ao menos aguentava olhar para aqueles poucos rostos que me encaravam de volta.
Por isso, apenas dei as costas, sabendo que eles desaprovavam minha decisão e sentiam nojo de como eu estava.
Coloquei a cabeça no travesseiro, sentindo cheiro de limpeza por todo canto, e sorri.
Enquanto sentia o sono me levar para suas asas, o lado direito da cama afundou levemente. Tornei a abrir os olhos, encarando os castanhos de Hawk.
- Seu pai ficaria orgulhoso - falou, sorrindo.
- Nosso pai - corrigi, e seu sorriso ficou maior.
Passamos por um período de silêncio, e quando eu achei que ele não falaria mais nada, o homem soltou um suspiro, perguntando em seguida:
- Ela sofreu?
Seu cenho estava franzido, mostrando uma terrível dor.
- Não, a morte foi instantânea, ela nem percebeu o que aconteceu - menti, o confortando. Seus olhos se tornaram úmidos. - Você gostava dela, não?
Ele assentiu.
- Eu sabia que ela também gostava de mim, isso estava na cara... - Soltou outro suspiro. - Mas nunca me achei merecedor de seu sentimento e, por isso, fingia não corresponder. Agora é tarde demais para qualquer coisa.
Não sabia o que dizer e decidi ficar calada. Meus olhos pesavam e eu tinha certeza de que não ficaria acordada por muito tempo.
- Como foi?
- O quê? - perguntei, confusa.
- Seu tempo aqui.
- Difícil - respondi, sincera. - Mas não precisa se preocupar, já acabou.
Hawk me abraçou, plantando um beijo em minha testa.
- Queria que não tivesse passado por tudo isso, queria ter estado aqui para te proteger.
Apesar de nossos problemas iniciais, o tempo que passamos juntos nos aproximou quase como irmãos, e era assim que eu o considerava: um irmão mais novo. Eu era extremamente grata por ter tido a oportunidade de conhecer todos eles, mas Hawk era quem eu havia me conectado mais facilmente.
Não conseguia mais manter os olhos abertos, e não sei quanto tempo levei para, enfim, cair no sono, mas o homem permaneceu ali comigo, e eu não podia me sentir mais segura.
Acordei sozinha na cama, e ao meu lado, em cima do travesseiro, meu cordão repousava próximo ao anel de minha mãe. Me sentei, colocando as joias, e sorri.
Se você quer ler a coroação, vá para o capítulo 16.
Se você quer pular a coroação e partir logo para o capítulo em que Cassie decide entre Berryan e Fedore, vá para o capítulo 37.
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Red
FantasyLivro interativo, você faz escolhas pela personagem. Primeiro livro da série Escolhas. Conteúdo adulto. Cassandra sabia do enorme peso que era carregar o sobrenome Red. Já que, por causa dele, ela havia sido forçada a viver reclusa por muitos anos...