𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟎𝟎𝟔

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Eram mais de duas da manhã quando Dulce finalmente deu a partida na Ferrari.

Não, não iria ficar na casa de Christopher, não confiava em si mesma para o fazer. Aliás, naquele dia ela definitivamente não estava batendo bem da cabeça. Estava fazendo coisas que antes jamais havia feito, estava falando de coisas que antes jamais havia falado. Olhou seus olhos no retrovisor e não pode evitar se auto-analisar naquelas últimas longas horas passadas ao lado do mocinho salvador.

Christopher...

Oh Deus, nem ao menos sabia seu sobrenome ou algo pequeno que seja sobre sua vida. Havia lhe feito uma proposta absurda, com um conteúdo ainda mais absurdo, perdendo somente para o fato de ela estar voltando a Priori, que era ainda mais absurdo.

Priori, sua mãe, sua infância...

Parou a Ferrari no semáforo e pela primeira vez não se importou em ser roubada, aliás, vinha fazendo o caminho de forma tão lenta que o pior dos ladrões a teria rendido da forma mais ridícula possível, mas não se importava.

Franziu a testa diante da própria conclusão. Ela não se importava se lhe roubassem a Ferrari, a carteira ou a bolsa Prada. De simples não se importava.

Um sorriso escapou de seus lábios ao recordar a cena que antecedia sua partida. Christopher botando as malas na Ferrari, dizendo-lhe para que não ficasse saudosa nem ansiosa, que ele, seu marido logo iria ao seu encontro. Ela sorriu, não teve opção.

Despediram-se com um breve aceno, cientes de que toda aquela loucura poderia ser reconsiderada com uma boa noite de sono e um pouco mais de conhecimento para analisar a situação. Eram desconhecidos, completamente desconhecidos. Era certo que ele tinha algo. Oh Deus, sim ele tinha algo que mudava algo nela.

Tinha algo que a fazia se sentir tola, fútil, mesquinha diante de todas suas riquezas. Era um homem simples, de gostos simples, que levava uma vida simples, e que era nada menos que um garoto de programa. Seu sorriso desapareceu de seus lábios.

O que levava um homem gentil como ele, de uma fala correta e cortês, com um bom sorriso e olhos vivazes vir a ser um garoto de programa?

Não vestia ternos caríssimos como os homens que ela se relacionava, mas não se vestia mal, seu jeito desleixado era atraente, e seu corpo... Bem seu corpo era a perdição de qualquer mulher em sã consciência que apreciasse o sexo masculino. Christopher era a vida em pessoa. Seus olhos eram vida.

Sorria a todo instante, debochava a todo instante, não se preocupava com quem falava, da maneira que falava, e não estava nem aí em lhe dizer que seus sapatos de quatro mil reais eram horríveis, quando um homem em pleno uso de suas faculdades mentais, jamais diria a uma mulher que seus sapatos eram horríveis.

Christopher não era um homem qualquer. Christopher era o estranho que a havia salvado sua vida. Christopher era o estranho que sua consciência, mesmo sem ela mesma saber, havia escolhido para a tarefa que Dulce julgava necessária ser cumprida.

O rosto cansado de sua mãe novamente lhe veio à cabeça. E junto com esse rosto, veio o seu rosto.

Estacionou na frente do hotel e rapidamente uma equipe que já a esperava com toda a discrição veio lhe receber.

A verdade era que Dulce havia gostado de ter alguém que lhe falasse sobre os sapatos, que de maneira sorrateira e meticulosa questionasse sobre sua vida e seus motivos, alguém que contestasse suas escolhas, que discutisse com ela, que a mandasse calar a boca.

— Bom dia, senhora Torredo, saiba que é um imenso prazer recebê-la em nosso hotel. — Dulce mirou as feições da gerente, logo se via que estava cansada, e que por àquelas horas, gostaria de estar em sua cama ou com o calor de seu marido e sua família. Se fosse outro dia normal, lhe sorriria em forma de agradecimento, lhe agradeceria com um baixo obrigado e pensaria que ela não fazia mais do que sua obrigação em a receber com bastante cortesia em seu hotel, ainda mais àquela hora da manhã.

Um Lindo HomemOnde histórias criam vida. Descubra agora