Seu coração bateu durante alguns segundos com tanta pressa que quando o mesmo se acalmou de forma brusca sobrando aqueles batimentos baixos e fracos, pensou que iria desmaiar. Batimentos de um coração que morria, que sangrava de dor e de medo.
Não conseguiu fechar os olhos como ele fazia naquele instante.
Não conseguiu franzir a testa em uma expressão de tanta dor como ele fazia naquele instante. Tudo se passava em câmera tão lenta, tudo parecia tão irreal. Um pesadelo. Só podia ser um pesadelo e...
Conseguiu pôr fim fechar os olhos e seu peito se comprimiu de tal forma que foi obrigada a se curvar, levando a mão por cima de seu coração, agarrando sua blusa até que seus punhos perdessem a cor.
Voltou abrir os olhos e mirou sua mãe que, com os olhos arregalados pelas lágrimas a observava com ainda mais pesar, tombando a cabeça como quem dizia que sentia muito pelo que acontecia.
Sim, ela sentia muito.
Voltou a mirar Christopher e viu que ele permanecia com os olhos fechados, com o cenho franzido naquela expressão que era a mais perversa tortura para os olhos de Dulce. Ela abriu os lábios, tentando falar algo... Talvez pudesse mentir novamente, inventar que tinha piorado da gripe, que o remédio receitado pelo farmacêutico tinha lhe irritado a pele, lhe causado reação.
Então ele abriu os olhos. E ela soube que ele sabia, que não mentiria, que não dava mais tempo de seus próprios lábios dizerem o que acontecia, o que aconteceria.
Encarou o vidro no chão, mas ele não se moveu, permaneceu ali, apoiado na mesa, com aquela mesma expressão, com dezenas de lágrimas caindo de seus olhos com tanta velocidade que nem mesmo molhava seu rosto tão belo marcado pela dor. Voltou a mirar sua mãe, negando com a cabeça, cobrindo seus lábios com as mãos, tentando buscar uma saída, implorado para que àquela mulher lhe ajudasse, que a salvasse, que o salvasse! Mas sua mãe não disse nada, limpou as lágrimas, deixando silenciosamente a breve entrada da cozinha, com a tarde zangada escurecendo-se, com o tempo triste tornando-se frio, com o ambiente se tornando silencioso como jamais ninguém vira.
Ele tentou falar algo, mas não conseguiu. Da mesma forma que ela levou a mão no coração se curvando, apertando os olhos com força, mirando o chão que era banhado com suas grossas lágrimas.
— Não é isso que... — Ele subiu os olhos para ela e Dulce sentiu seu rosto arder, como se estivessem ali lhe estapeando com força, como se mil facas penetrassem seu corpo em diferentes intervalos de tempos. Calou-se, mordendo seus lábios trêmulos e pálidos, levando a mão ao seu nariz que mais uma vez sangrava. Virou-se para pegar um papel e se limpou com pressa, permanecendo de costas, incapaz de se virar, incapaz de entender ou calcular o que àquele homem à sua frente sentia.
Apoiou-se novamente na pia, baixando a cabeça, segurando o choro com os olhos bem fechados.
Christopher permaneceu ali, parado, anestesiado.
Seus olhos estavam estranhos e sentia a sensação de não estar ali, de não ver nem controlar seus olhos, de não se sentir realmente em seu corpo. Parecia não ser dono de sua alma, sua cabeça parecia estar longe. A balançou, levando as mãos aos olhos que escorriam lágrimas com uma facilidade que ainda não havia visto. Mirou o vidro ao chão e aquilo o alertou do que estava acontecendo, não permitindo que um buraco escuro o tragasse, não permitindo que aquelas velhas sensações começassem a acariciar seu corpo, lhe prometendo a letargia tão conhecida por ele.
Mirou as costas de Dulce, esperando por algo que não sabia, esperando a ver lhe dizer que não era isso o que acontecia, que não havia lhe mentido, que ele estava ficando maluco, que seus sonhos com Lavínia começavam a abalar sua capacidade de entender o que era real e o que não era.
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Um Lindo Homem
Фанфик+16| Eu não precisava voltar, não precisava me desculpar, deixar tudo e fugir, eu apenas precisava de um motivo, um único motivo... Você! Finalizada em: dez 15, 2020. ATENÇÃO: TODOS OS CRÉDITOS PARA A MANDY, DO ORKUT. ESSA OBRA É APENAS UMA REPOSTAG...