𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟎𝟐𝟎

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Havia a apertado com força, havia a grudado em seu corpo para que o mínimo de seus movimentos lhe acordasse. Havia a abraçado como naquela noite havia abraçado Lavínia, havia... Deitou-se novamente, fechando os olhos, adquirindo o controle com uma breve oração, pedindo para que sua flor estivesse agora descansando, e para que ela o deixasse descansar.

O cheiro daquele particular perfume de Dulce lhe invadiu as narinas, e algo estranho se passou... uma necessidade descontrolada de a ver, uma necessidade descontrolada de a olhar nos olhos, e a ouvir dizer uma grosseria, de a ver lhe lançar aquele olhar arrogante, de lhe empinar o nariz, de...

Levantou-se com pressa, escovou os dentes com rapidez e botou o suéter que usara na noite anterior. Seus pés protestaram contra o chão gelado. Não se importou, ele precisava encontrá-la, ele precisava a ver.

Sabia que ainda se encontrava meio fora de controle como toda vez que acordava quando tinha aquele pesadelo. Sabia que se encontrava ofegante, suado, inquieto. Não se importou e a cada passo que o levava para fora do corredor seu coração batia com mais força, com mais ansiedade.

Encontrou a casa silenciosa. Caminhou até a sala e ninguém encontrou, na cozinha o mais puro silêncio lhe dizia que nem mesmo Blanca estava acordada. Espiando pela janela certificou-se que o carro de Dulce ainda estava na garagem.

Onde ela estava?

Foi ao seu velho quarto e nada encontrou, checou o lugar onde ela havia trabalhado no dia anterior e mais uma vez nada.

Desceu os degraus de dois em dois e enquanto caminhava de volta para o quarto, o barulho de chuveiro que antes ali não se encontrava presente lhe chamou a atenção. Encarou aquela porta. Ainda perturbado pela sequência de noites bem dormida finalmente interrompida.

Caminhou até o final do corredor que lhe levaria até o banheiro. Parou frente à porta e sua mente tão perversa lhe trouxe a voz de Lavínia, pedindo para que saísse, pedindo para que arrumasse suas coisas. Sentiu a aflição aflorando em cada gota de seu sangue. Sentiu a inquietação lhe percorrer as entranhas enquanto sua mão sem o comando de seu cérebro girava a maçaneta da porta para a encontrar fechada, trancada.

Sua respiração tornou-se ofegante e forçou a fechadura novamente. Fechada, trancada...

— Dulce? — Christopher murmurou, forçando novamente a fechadura, ciente de que em cerca de trinta segundos aquela porta estaria no chão.

Não sabia o que lhe tomava, mas era com tal força que lhe assustava.

— Torredo? — Ele repetiu com mais força, ouvindo aquela maldita água de chuveiro cair, o vapor saindo pelas brechas da porta. — Torredo, está aí?

Silêncio.

Apertou os olhos com força, cerrando os punhos, encostando a testa de encontro à porta, tentando respirar, tentando...

A porta se abriu.

O vapor do chuveiro lhe atrapalhou a visão, mas não por muito tempo. Seus olhos a viram. Inteiramente ensopada pelo banho, com os cabelos vermelhos para trás, com a aliança dourada brilhando em deu dedo que junto com os outros mantinham a toalha de encontro aos seus seios.

Estupidamente, desgraçadamente sentiu vontade de chorar.

Engoliu novamente a saliva, percebendo que naquele momento algo mais do que uma simples preocupação se passava. A mirou nos olhos, no rosto tão frágil e tão branco, nos lábios tão pálidos, nos olhos tão...

Negou com a cabeça.

Negou com a cabeça pois não permitiria que sua mente formasse daquela figura perfeita e saudável a figura frágil e tão debilitada de Lavínia.

Um Lindo HomemOnde histórias criam vida. Descubra agora