11 - Clarice
Passamos pela porteira da fazenda e fico encantada com tanta beleza, tinha uma visão distorcida do lugar. A estrada que dá até a casa principal é um caminho de árvores e plantas com várias flores, tudo bem cuidado e limpo. Antes de chegar à casa principal a estrada de terra acaba, dando lugar a uma grama verdinha e bem amparada.
— Chegamos. — Erika estaciona o carro. — Vou levar vocês até a casa que vão morar.
— Nem estou acreditando, aqui é lindo — digo, descendo do carro e olhando tudo à minha volta.
Ajudo Gael descer e assim como os meus olhos, os seus estão vidrados olhando ao redor. Somos contemplados por uma paisagem digna de novela. Algo que não imaginava que existia.
— Boa tarde, senhora Erika.
Viro-me para ver quem fala e me deparo com um homem com um chapéu na mão, vistoso com suas calças apertadas e camisa com os primeiros botões abertos. Aparenta ter pouco mais de trinta anos.
— Seu Miguel disse que a senhora ia vir hoje trazer a moça que vai cuidar da casa grande. Tô aqui para ajudar a levar as coisas até a casinha que ela vai ficar.
— Oi, José! — Erika abre um sorriso malicioso. — Tão sexy quando me chama de senhora. — José olha para mim e depois para Erika, visivelmente constrangido. — Tão lindo quando fica com vergonha.
— Oi, José. Eu sou Clarice. — Estendo a mão para cumprimentá-lo e o salvar da língua afiada de Erika, que provavelmente tem algum lance com ele.
— José, senhora. — Aperta a minha mão.
— Pode me chamar só de Clarice — peço. — Esse é meu filho Gael. — Deposito minhas mãos no ombro de Gael. — Acho que seremos companheiros de trabalho.
— Ei, rapaz, vai ter espaço para correr aqui — José diz para Gael, que apenas sorri. — Senhora Clarice, quer que eu ajude a levar as malas para a casa?
— Se puder ajudar eu agradeço — digo. — É pouca coisa, Erika disse que na casa tem tudo, então acabei trazendo apenas o necessário.
— Tem tudo mesmo — afirma. — O patrão pediu para dar uma geral na casa hoje pela manhã, está tudo em ordem, eu mesmo fui conferir o serviço. Quase não para funcionário aqui, então facilitou bem o trabalho.
— Clarice sabe dessa parte. — Erika sorri. — Só José que tem a capacidade de conviver com o meu irmão, está aqui há alguns anos, se deu bem com aquela cara emburrada. O José que comanda tudo aqui na fazenda e acaba sendo o elo de ligação dos funcionários com o Miguel, todos têm medo do meu irmão. A coitada da mãe do José que acaba fazendo uns bicos na casa grande, toda vez que Miguel demite uma empregada.
— Minha mãe gosta de ajudar, mas já está com a idade avançada e cansada, tem meu pai também que está doente. Se não fosse isso ela tomava conta da casa grande.
— Pode falar a verdade, José — Erika pede. — O meu irmão é difícil, eu sei, todo mundo sabe.
— O patrão é um bom homem, é só cada um fazer o seu trabalho — defende o Miguel, depois olha para Erika de rabo de olho e curva o lábio em um sorriso contido.
— Pretendo fazer o meu trabalho — comento, quebrando o clima dos dois —, afinal vim para cá para trabalhar. — Minha voz sai com empolgação.
Se José consegue trabalhar com Miguel eu também consigo.
Olho à minha volta, admirando novamente o lugar, um lugar tão lindo não poderia ter um dono tão amargo e sozinho. Talvez ele seja como uma flor no deserto, que precisa de calma e paciência para desabrochar e se abrir para a vida.
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REFÚGIO: Você irá encontrar a paz e o amor no improvável.
RomanceSinopse O nosso destino é incerto, nunca sabemos o que esperar. Do dia para a noite pode se dar um giro de 380 graus e mudar completamente sua vida; seja de forma positiva ou negativa. Quando o destino muda drasticamente, o que nos resta é nos adapt...