Capítulo 20

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20 - Clarice

Hoje fui do céu ao inferno em questão de segundos, vi meu mundo desmoronar e o meu pior pesadelo se tornar real. Agora estou no céu com o meu filho em meus braços, aqueles momentos de angústia e desespero ficaram para trás. Nunca os segundos demoraram tanto para passar, foram momentos que nunca mais quero passar na vida.

Pensei que tinha perdido meu filho, que Rosana tinha fugido escondido com Gael, sei o que ela é capaz de fazer. Talvez se eu tivesse ido sozinha, o fim dessas história teria sido outro, ela não iria entregar meu filho com tanta facilidade. Mesmo eu recorrendo ao meio jurídico, não teria o sucesso que Miguel teve.

Miguel e Rosana batem de frente, ambos têm influência na cidade. Eu sou fraca perto dos dois, não tenho nenhuma influência, logo a parte fraca iria perder. Eu corria sérias chances de voltar para casa sem o Gael, mas eu jamais desistiria, lutaria com todas as minhas forças e teria meu filho de volta em meus braços. Gael é minha vida, o ar que eu respiro, nunca que iria permitir que Rosana tomasse ele de mim. Ela pode ser rica, ter influência, mas eu sou a mãe. Ele é meu filho e seu lugar sempre será do meu lado.

— Está calma?

Percebo Miguel sentando ao meu lado na escadaria da casa grande, sinto ele colocar a sua mão em meu ombro e me puxar para o aconchego do seu abraço. Ando tão carente, tão sozinha, que hoje, todas as vezes que ele me abraçou, aceitei de bom grado. Estranhamente, me sinto confortável em seus braços, como se tivesse a vida inteira recebendo seus carinhos, recebendo seu conforto.

— Meu coração está no lugar que tinha que estar. — Olho para Gael andando na bicicleta que ganhou do Miguel, em frente à casa grande.

Depois que resgatamos meu filho da casa da bruxa cobra, Miguel nos levou para tomar sorvete, Gael contou como a avó o buscou na escola e o presenteou com uma bicicleta, que ficou na casa da megera. Na hora de retornarmos para a fazenda, Miguel passou em uma loja e comprou uma bicicleta para Gael, mesmo eu dizendo que não era necessário.

Foi muito bonito ver a cena dos dois escolhendo o modelo, por um momento pensei como seria se fossemos uma família. Rapidamente joguei esse pensamento para um cantinho, sei que hoje Miguel fez muito por mim, mas não posso ficar me iludindo. Podemos dizer que ele fez uma boa ação no dia. Sou apenas a empregada da sua casa.

Assim que chegamos na fazenda, Miguel ajudou Gael com a bicicleta, mas por causa de um telefonema foi obrigado a entrar. Feliz com o presente, Gael continuou a andar de bicicleta, dando voltas e voltas, e eu fiquei aqui sentada feito uma mãe boba e babona, agradecendo a Deus pelo meu filho estar aqui agora.

— Eu disse que ele voltaria. Aqui é o lugar dele, ao lado da mãe. — A sua voz é doce, seus olhos não são mais sombrios, são brilhantes. Gosto desse Miguel, ele é vivo, transparente, carinhoso.

— Vocês se dão muito bem. — Levanto a cabeça para olhar novamente para ele. — Fiquei surpresa com a ligação de vocês.

— Gael é um bom menino. — Sorri com o canto da boca.

— Parece que são amigos há algum tempo — sondo.

Gael gosta de fazer amizades, mas a conversa dos dois mostrou que essa já existe há algum tempo.

— Ele gostou do presente — muda de assunto.

— Você não respondeu à minha pergunta. — Olho para Gael andando de bicicleta e depois para Miguel. — Quando morava na cidade eu que ajudava Gael com as tarefas escolares, nos primeiros dias trabalhando aqui continuei, agora Gael não precisa da minha ajuda. Um amigo misterioso faz isso todos os dias. Ele some e quando pergunto onde estava, diz que estava com um amigo.

REFÚGIO:  Você irá encontrar a paz e o amor no improvável.Onde histórias criam vida. Descubra agora