Capítulo 17

259 43 6
                                    


17 - Clarice

Assusta-me sentir novamente essa corrente. Miguel é um idiota, arrogante e egoísta, pensa apenas no seu próprio umbigo. Ele que não fique pensando que eu vou baixar a guarda.

— Fico feliz em ver que vocês dois chegaram a um acordo, por livre e espontânea vontade. — Erika se senta novamente, visivelmente satisfeita com o resultado da sua negociação. — Sou uma boa mediadora de conflitos.

— Assunto resolvido, melhor eu voltar para casa. — Miguel se levanta para ir embora.

Ele é muito do folgado, vem na minha casa, come da minha comida, me insulta e agora vai embora? Não mesmo.

— De jeito nenhum. — Levanto-me, pego um guardanapo e jogo para ele. — Jantou agora tem que ajudar a limpar.

— Se ferrou — Erika tira sarro.

— Você também, Erika. Conhece as regras da casa. Eu cozinhei sozinha, nada mais justo que me ajudem a limpar.

— Eu não vou limpar nada. — Miguel pega o guardanapo e joga em cima da mesa.

Coloco minhas mãos na mesa, ele se senta novamente. Erika ameaça a rir e eu lanço meu olhar mortal. Não estou para brincadeira, estou na minha casa, minhas regras. Eu sei que, na verdade, essa casa pertence a Miguel, mas enquanto eu estiver morando aqui ela é minha.

— Você vai ajudar a limpar a cozinha. — O encaro. — Ou amanhã no café da manhã vai ser ovo mexido com coração de galinha — ameaço. — Você decide.

— Você venceu. Eu ajudo. — Miguel pega o guardanapo de cima da mesa. — Seco a louça.

— Eu lavo e Erika guarda — aviso. — Estão de acordo?

— Eu que não iria contra você, está com cara de psicopata. Eu guardo a louça sem nenhum problema.

— Boa menina. — Olho para Miguel. — Miguel, está de acordo?

— De acordo.

— Então vamos começar.

Começo a retirar os pratos da mesa e levar até a pia. Miguel acaba me ajudando em silêncio e Erika retira o que sobrou do jantar e guarda em vasilhas com tampa na geladeira. O silêncio reina entre nós, nenhum se arrisca a puxar alguma conversa.

— Vocês ouviram? — Erika questiona.

— O quê? — pergunto, sem entender. — Não ouvi nada.

— Nem eu — Miguel diz com um prato na mão, entregando para Erika guardar.

— Acho que o Gael está me chamando, vou lá ver. — Sem esperar a minha resposta, ela sai da cozinha.

— Muito esperta — resmungo. Na certa inventou essa desculpa para fugir do serviço, Erika odeia guardar louça.

— Sempre foi. — Miguel pega o prato e o enxuga. — Deixa ela pensar que vou fazer a parte dela — reclama.

Isso me faz revirar os olhos e ter vontade de enfiar a mão na cara dele.

Como pode ser lindo e chato desse jeito? De tudo reclama, nada está bom, é um ridículo. E eu sou outra por sentir raiva dele, poderia simplesmente ignorar, mas não, estou aqui me corroendo por dentro.

— Claro que não — acuso sem ao menos olhar para sua cara. — Vai cair sua mão pegar os pratos e pôr no armário?

— Por que está brava?

REFÚGIO:  Você irá encontrar a paz e o amor no improvável.Onde histórias criam vida. Descubra agora