Capítulo 16

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16 - Clarice

Muito estranho alguém chamando aqui a uma hora dessas. Ninguém nunca veio atrás de mim aqui em casa.

— Está esperando alguém? — Erika questiona.

— Deixa que eu abro. — Gael pula da cadeira e sai correndo.

— Não estou esperando ninguém, só você. — Levanto-me. — Melhor eu conferir, vai que é a cobra. Cuidado demais nunca é pouco dependendo dela.

— Ela não ousaria vir até aqui. — Erika me acompanha.

— Não duvido nada, dela eu espero tudo de pior, até mesmo vir aqui me ameaçar.

Isso nunca foi segredo, poderia enumerar as barbaridades que Rosana já fez. Como recursar ajuda no tratamento do próprio filho e tentar comprar o neto por achar que tem direito a isso. Ela está muito quieta, provavelmente está aprontando algo, daqui a pouco ela dá o bote.

Assim que saio da pequena cozinha, levo até um susto com aquele homem todo vestido de preto e o cabelo bagunçado, parado à minha porta.

— Olha, mamãe, meu ami... quer dizer o patrão da senhora que estava batendo palma.

— Senhor Miguel? — questiono surpresa.

Eu esperava até Rosana batendo na minha porta, menos o lobo.

— Miguel, aqui? Aconteceu alguma coisa? É você mesmo, Miguel, ou alguma pegadinha do malandro.

— É, sou eu. — Passa a mão pelo cabelo. — Vim atrás de você, vi seu carro e você não foi me ver.

— Tem certeza? — Erika questiona, intrigada. — Veio saber como estou? Assim, do nada, ficou preocupado?

— Chega, Erika, não sou nenhum inconsequente. — Sua voz é rude.

— Chega você, Miguel. Nem vem dar crise para cima de mim, eu não tenho medo de um lobo raivoso.

— Não tem lobo aqui, tia — Gael entra na conversa dos dois. — Você mentiu. Mãe, diz para tia que mentir é feio.

— Claro que não. — Erika coloca a mão na cintura e encara o irmão. — Nessa sala têm apenas pessoas civilizadas, não é Miguel? — Erika ignora a parte que é mentirosa.

— Fiquei preocupado com você. — Miguel passa a mão na cabeça novamente e olha para todos os lados, menos para a irmã.

— Preocupado comigo?

— É — afirma, ainda sem encará-la.

Miguel mente muito mal, Ryan também não tinha coragem de olhar para a cara das pessoas quando estava mentindo. Homens são iguais nos defeitos.

Acabo rindo e os dois olham para minha cara.

— Desculpa. — Tampo minha boca para controlar o riso. — Lembrei-me de uma coisa e não consegui controlar. — Eles me olham, mas acabam não dando importância.

— Como sabe que eu estava aqui? — Erika cruza os braços e encara o irmão. Acho que não acreditou que Miguel estava preocupado com ela.

— A Cleonice é sua amiga, deduzi que estava aqui.

— Clarice — corrijo. Ele sequer me olha. Idiota.

— Estou bem, como pode perceber. — Erika ainda o olha desconfiada. — Depois vou para a casa grande, vou dormir lá essa noite. Tenho muito que conversar com a Clarice e sei que não gosta que eu pegue a estrada tarde da noite.

REFÚGIO:  Você irá encontrar a paz e o amor no improvável.Onde histórias criam vida. Descubra agora