REFÚGIO: Você irá encontrar a paz e o amor no improvável.

Capítulo 10

10 - Clarice

Tenho dificuldade para dormir à noite, estou ansiosa para o dia amanhecer e ir contar para meus pais sobre o meu emprego novo. Ansiosa para acordar Gael com um monte beijos e dizer que o amo muito e que vamos nos mudar. Vamos morar em uma fazenda cheia de bichos, vai ter espaço para ele correr e brincar.

Erika já levou minha carteira de trabalho, RG e CPF para o irmão assinar o registro. Acho que ela insistiu tanto para levar os documentos com medo de eu desistir. Coitada dela por pensar que vou desistir fácil assim, o lobo que me aguarde. Eu que não vou pedir arrego. Um emprego é o que mais tenho pedido a Deus e não será uma cara feia que me fará desistir ou fugir.

Reviro-me na cama, penso no meu filho, na vida e os novos rumos que ela está tomando. Nunca me imaginei morando em uma fazenda no meio do mato, cheia de bichos. Tudo bem que não é nenhum bicho exótico, são cavalos, galinhas, porcos, vacas. Mas para mim, moça da cidade, que só estou acostumada com as galinhas e vacas de duas pernas e que falam, da cidade.

Assim que os primeiros raios de sol entram na janela, me levanto da cama e corro para o quarto de Gael.

— Bom dia, meu filho — digo, deitando-me em sua cama, o abraço e distribuo vários beijinhos. — Bom dia — repito —, mamãe te ama muito, amo muito, muito, muito.

— Ai, mãe! — reclama. — Já é hora de acordar? — Joga os braços em cima de mim e esconde a cabeça.

— Já — digo animada, afinal nem dormi a noite direito, passei quase toda em claro, tirando pequenos cochilos para esperar o sol aparecer, mas Gael não está na mesma sintonia que eu. Muito preguiçoso esse meu filho.

— Só dormi um pouquinho — reclama —, deixa eu dormir mais. O sono é bom para crescer, estou em fase de crescimento e preciso dormir.

— Quem te disse isso?

— O vovô. — Se aconchega em mim e fecha os olhos.

Tinha que ser meu pai mesmo, esse adora dormir e Gael puxou ele, está no sangue.

— Você e seu avô são dois preguiçosos, falou isso só para ele dormir à tarde.

— É bom dormir, preciso crescer e virar homem grande.

— Não se preocupe, Gael, você vai crescer, mas agora pode acordar.

— Eu tô acordado, mamãe, mas queria dormir só mais um pouquinho, aí eu cresço um pouquinho.

— Levanta a cabeça e olha para a mamãe.

— Pronto. — Levanta a cabeça e me olha.

— Que bom, filho, a mamãe tem uma coisa muito boa para contar para você.

— Posso faltar na escola? É a coisa boa? — questiona animado, levantando a cabeça para me olhar.

— Gael? — Olho para ele intrigada. — Faltar na escola não é uma coisa legal, só pode faltar se estiver passando por alguma dificuldade ou problema, não pode faltar por faltar.

— Ah, mamãe, faltar na escola é legal sim — afirma.

— A é? Por que é legal?

— Porque posso ficar dormindo, não tem tarefa, posso brincar, assistir TV, fazer um monte de coisas legais.

— Ok. Entendi, mas ir à escola é legal também.

— Ficar em casa também.

— Ficar em casa e ir na escola é legal. Na escola você aprende, conhece os amigos, brinca, e em casa também aprende, brinca.