Capítulo 15

268 42 0
                                    

15 - Clarice

Durante o dia adiantei o serviço da casa e o jantar do lobo. Assim que acabo de pôr a mesa, como sempre deixando tudo da forma que eu acho necessário para ele se servir, vou para a minha casa acabar de preparar a nossa lasanha, Erika vem para cá hoje, jantar e colocar a fofoca em dia.

Acabo de montar a lasanha. Quando Erika chegar é só pôr no forno para derreter o queijo.

— Mãe, que horas a tia Erika chega? — Gael questiona, ocupando a cadeira ao lado enquanto começo a organizar a cozinha.

— Daqui a pouco. — Passo pano na mesa para limpar o resto de sujeira que ficou.

— Tia Erika mente, mãe — solta.

— Por que você enfiou isso na sua cabeça? — Paro de passar o pano na mesa e o encaro.

— Porque é verdade. Eu não minto, não pode mentir.

— Mentir é feio, filho, se você mente depois ninguém mais vai acreditar e confiar em você.

— A senhora confia na tia Erika?

— Ela é minha amiga de muitos anos, Erika nunca mentiu para mim e esteve presente em fases importantes da minha vida — explico. Na verdade, não sei o que seria de mim sem a minha amiga. Quando nos conhecemos, na adolescência, não imaginava que nossa ligação seria tão forte.

— Ela mentiu para mim, mamãe. Não posso mais confiar nela — acaba repetindo. — Vou dizer para ela que mentir é feio, que não pode mentir, senão não vou ser mais seu amigo.

— O que ela disse para você que é mentira?

— Ela disse que... — se cala e começa a pensar. — Acho melhor não falar, é uma coisa minha.

— Deixando o seu rolo com Erika de lado, me diga onde você estava essa tarde? Te procurei e não achei.

Empilho a louça na pia para lavar.

— Fazendo tarefa. — Pega o guardanapo e fica me esperando lavar a louça.

— Mas onde? — questiono novamente.

— Por aí.

— Gael, o que está aprontando? — Paro de lavar louça e o observo. — Todos os dias à tarde você some, te procuro e não acho.

— Fui ver um amigo.

— Que amigo — insisto.

— Daqui da fazenda, mãe. Ele me ajuda a fazer tarefa.

— Nome? Quero nomes.

— Mamãe, eu não sou a tia Erika, pode confiar em mim, eu não minto. Já disse que é um amigo.

— Sei que não mente. A mamãe só quer saber o nome, existem pessoas malvadas nesse mundo, meu filho, eu preciso saber se esse seu amigo é confiável. Diga apenas o nome dele.

— Mamãe, é um amigo, ele é confiável e não mente. Pode confiar.

— Filho, se não me disser quem é vou ser obrigada a proibir a sua amizade com ele. A mamãe confia em você, mas para eu confiar no seu amigo preciso conhecê-lo.

— Ele gosta de lasanha, chamei ele para jantar aqui hoje — conta, como se gostar de lasanha tornasse alguém uma boa pessoa.

— Ele vem? — pergunto, desconfiada.

— Não sei. É lasanha do que, mamãe? — muda de assunto. Definitivamente, Gael está escondendo algo de mim.

— De carne, presunto e queijo. Lasanha normal.

REFÚGIO:  Você irá encontrar a paz e o amor no improvável.Onde histórias criam vida. Descubra agora