REFÚGIO: Você irá encontrar a paz e o amor no improvável.

Capítulo 12

12 - Clarice

Lembro-me vagamente do Miguel, era um homem vistoso, com um sorriso contagiante. Na escola, quando ia buscar Erika, todas as meninas babavam por ele. Era muito bonito, erámos meninas e ele um homem formado. Eu já namorava Ryan e nunca joguei charme para Miguel.

Depois da fatalidade que aconteceu em sua vida, nunca mais o vi. Era raro ele ir à cidade. O que sei de Miguel é o que sua irmã fala.

Hoje ele não é mais aquele rapaz vistoso, cheio de vida, os seus cabelos estão compridos e despenteados, a barda grande. A sua fisionomia é triste, assim como a casa, suas roupas são um pijama preto e chinelos.

Assusta-me ao ver como ele mudou.

— Eu te amo — Erika diz, aproximando-se do irmão e o abraçando.

— Também te amo. — Sua postura suaviza e ele se aconchega no abraço da irmã. — Por favor, não grite, sabe que eu não gosto — pede com a voz branda.

— Tudo bem, irmãozinho, eu não grito mais — Erika desfaz o abraço. — Prometo.

— Sempre diz isso — Miguel reclama — e nunca cumpre o que fala. Uma mentirosa.

— Olha — aponta para mim e pela primeira vez Miguel me nota em sua enorme sala —, trouxe a Clarice para te conhecer, ela começa a trabalhar aqui amanhã.

— Prazer, senhor Miguel. — Estendo minha mão e ele ignora meu gesto, a recolho sem graça. — Sou Clarice, espero desempenhar um bom trabalho e agradeço pela oportunidade.

Ele olha em meus olhos, mas não diz nenhuma palavra, sua postura volta a ser rígida e seu olhar sombrio.

— Esse é o meu filho Gael. — Coloco as mãos no ombro do Gael e o seu olhar vai até ele.

— A tia Erika disse que aqui tem uma fera. Um lobo. O senhor já viu ele? — Gael questiona, sem saber que está frente a frente com o lobo.

Erika começa a rir, sem se importar com a cara feia do irmão. Meu coração acelera, temo por sua resposta.

— Desculpe, ele é uma criança e fala demais — tento justificar, com medo dele me demitir sem ao menos ter começado a trabalhar.

— Foi eu que disse para Gael que aqui tem um lobo — Erika assume a responsabilidade, ainda rindo. — Cadê o lobo irmão?

— O lobo está escondido no escritório — Miguel responde com a voz fria e cortante, fazendo-me arrepiar. — Nunca entre lá — ordena, olhando para Gael.

Miguel se vira e sai da sala logo em seguida, com seus passos duros e cara feia. Pelo visto não é agora que vou ser demitida.

— Tia, me leva no escritório, quero conhecer o lobo, nem deu para pedir para ele me levar.

— De jeito nenhum, você fica longe do escritório e do seu Miguel. É melhor para todos nós — explico para Gael, mesmo sabendo que ele vai dar um jeito de ir atrás desse lobo.

— Mas, mamãe...

— Estamos entendidos? — repreendo Gael.

— Tá bom. — Cruza os braços com um bico, deixando claro que vou precisar ficar de olho nele.

— Gael, é melhor não ir ao escritório ver o lobo, ele é muito bravo — Erika explica. — Também é chato, nem gosta de desenhos.

— Eu queria ver ele, tia — diz, ainda emburrado.