14 - Miguel
Depois que Gael sai da minha sala, fico pensando no que me disse.
Quando Erika sugeriu contratar uma amiga, me disse apenas que ela precisava do emprego para não perder a guarda do filho, de momento recusei, não queria outra pessoa trabalhando aqui, ainda mais alguém que contaria tudo o que acontece para a minha irmã, mas depois de muita insistência acabei aceitando. Ainda tive que prometer que não gritaria e tentaria me comportar para ela não se assustar. Segundo Erika, ela precisava muito do emprego.
Não tenho gritado, estou me comportando bem, tenho que confessar que Clarice é uma boa funcionária. Vejo as mudanças que fez na casa. Também sempre escuto seu filho correndo e brincando, perco até meu tempo para observá-lo. Ela, quando pode, sempre está com ele. De todos os funcionários é a que menos vai à cidade, nos dias de folga prefere ficar na fazenda.
Uns dias atrás, enquanto eu dava uma volta a cavalo, a vi sentada na grama olhando o menino brincar, com um sorriso no rosto. Clarice é uma mulher tão jovem e bonita, não deveria estar sozinha. Agora sei que está de luto. Nesse dia, fiquei um bom tempo observando ambos, à distância.
Desde a primeira vez que a vi, algo me chamou atenção, não sei explicar exatamente o que é. Depois de todos esses anos, não fiquei furioso por alguém mudar as coisas da casa, não sinto vontade de expulsá-la, pelo contrário. Isso é estranho, eu me sinto estranho e não sei se é bom me sentir assim.
Escuto risadas e gritos do lado de fora, saio do escritório, caminho até a janela da sala que dá para o jardim e vejo Clarice e Gael brincando de bola. Acabo sorrindo.
— São lindos os dois. — Olho para o lado e vejo Erika sorrindo ao meu lado. — Estão bem felizes aqui e eu feliz por os vê-los bem e juntos.
— Já chegou? — Mudo de assunto, não quero que Erika comece a me dar lição de moral ou falar como as coisas deveriam ser.
— Estava com Clarice, matando a saudade. Não tenho mais a minha amiga na cidade todos os dias. Aproveitei para trazer umas coisas que ela me pediu.
— Vou voltar para o escritório — aviso.
Amo a minha irmã, mas ela sempre quer me dizer o que devo fazer, como preciso sair e voltar a viver e tantas coisas que não quero ouvir.
— Fique mais um pouco — pede.
— Tenho muito trabalho para fazer — minto.
— Só um pouco. Vamos nos sentar, conversar como irmãos. Também estava com saudade de você — pede com um biquinho.
— Também tenho saudade de você. — A abraço e beijo o topo da sua cabeça. — Eu só vim ver o porquê do barulho, estou acostumado com o silêncio.
— Miguel — abaixa a cabeça, respira e volta a me olhar —, não se esconda naquele escritório. Sei que sofre, mas precisa se abrir para a vida, não pode ficar se escondendo.
— Não estou. Eu vivo, apesar de tudo.
— Claro que está se escondendo. E você não vive, vegeta, vive enfurnado naquele escritório, proíbe as pessoas de entrar e quase não visita nossos pais. Se eu não viesse aqui, nem ia te ver.
— Me deixa — peço.
— Sabia que Clarice também está de luto? — Me encara. — Faz pouco mais de um ano que Ryan morreu, ela sofre, mas olhe. — Aponta para a janela, mãe e filho estão sorridentes e brincando. — Ela não se trancou dentro de um escritório, não desistiu da vida, luta diariamente, tenta viver e seguir a vida da melhor forma possível.
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REFÚGIO: Você irá encontrar a paz e o amor no improvável.
RomanceSinopse O nosso destino é incerto, nunca sabemos o que esperar. Do dia para a noite pode se dar um giro de 380 graus e mudar completamente sua vida; seja de forma positiva ou negativa. Quando o destino muda drasticamente, o que nos resta é nos adapt...