8:[Corte]

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ARIEL MURPHY

"Podem sair" A chuva batia nas janelas do pavilhão de forma bruta, pedindo permissão para entrar. A voz grossa e rouca do treinador mal se ouvia no meio de tanto barulho. Um barulho que amava ouvir. Os restantes dos meus colegas suspiraram ofegantes e ansiosos por saírem desta tortura- como caracterizavam os treinos desde que este senhor entrou pela porta deste espaço pela primeira vez-.

Retirei as luvas de guarda-redes que escondiam as minhas luvas negras. Realmente, elas eram lindas. Ambas não tinham os resguardos dos dedos, tampando só a palma das minhas mãos. As minhas unhas estavam roxas de tanto frio, o que combinava perfeitamente com a minha pele branca, quase pálida. Olhei para o meu pulso esquerdo e pousei os dedos sobre as marcas antigas.

Segui com a mala sobre os ombros, enfim, os poucos rapazes que restavam. Eram apenas três: Dinis- ala esquerda-, Richard- avançado- e o David- defesa direito-. Todos eles riam de uma piada que mal percebera do que se tratava.

Quando entrei dentro do balneário, senti uma quantidade de hormonas de Alphas juntas. Os cheiros, outrora únicos e distintos, unificaram-se num conjunto de perfumes quentes e sufocantes.

Aquilo era tão...

...descontrolador, hipnotizante, exicitante, forte, controlador, viciante.

Com isto tudo, eu já estava sentado num dos bancos cinzentos, ao lado do Gabriel, rubizado pelo contexto da situação. Eu via Alphas de costas largas aos pares. Todos estavam em tronco nu, alguns só de boxers, outros com as calças vestidas. Pode ser cliché, mas eu estava no paraíso. Se eu não estivesse ao pé dum espelho, diria que estaria a babar por tanta beleza junta.

"Para onde estás a olhar?! Ahn? Saco de ossos." Acordei daquele transe momentâneo, quando ouvi gargalhas vindas de todos que estavam dentro daquele balneário.

"Para lado n...nenhum." Olhei para o chão e sussurrei, quase não ouvia a minha voz.

"Só se for saco de merda." Fill avançou até mim com um sorriso no rosto.

E todos desataram-se a rir mais uma vez, por alguns segundos, longos segundos. Mordi a língua com força até que aquela dor física ultrapassasse a dor emocional causada pelas palavras malditas. Fingindo não incomodado por aquilo, continuei a tirar a minha roupa desportiva com alguma pressa.

"Eita porra, quero saber a piada!" Todos os restantes animais calaram-se de imediato, ao mesmo tempo que ouvem a voz grave de Max e a tensão terrível que o Tera- que vinha logo atrás dele- trazia.

"Eu também gostaria de saber a piada, equipa." Ambos puseram as malas longe de mim, perto da saída. Tera pedia com o olhar para que contassem a piada, mas eles continuaram em silêncio, covardes. "Sobre quem foi desta vez?" Tera avançou-se até Gabriel.

"Não fui eu desta vez, Supremo." Gabriel retirou uma toalha branca da sua mala e dirigiu-se a uma das cabines de duche, porém antes de sair do meu campo de visão, olhou diretamente para os meus olhos. Os seus olhos vermelhos surgiram, num repente. Senti que ele estava a passar uma mensagem, ou um aviso. Um aviso que conhecia muito bem.

Atreve-te a contar.

"Gabriel, eu sei que vocês nunca se deram bem, mas, por favor, dá para deixar de chamar o Tera de Supremo." Max despiu a camisola revelando uma outra bastante apertada e pousou-a no cabide.

"Não."

O mais estranho desta situação era que a equipa continuava em pleno silêncio. Apenas trocavam olhares cúmplices. Foi nesse ápice que me lembrei da pequena ameaça que o Tera mandou a toda a equipa: E se eu ouvir uma queixa dele, por causa de vocês o estarem a menosprezar ou a humilhar, podem ter a certeza que estão fodidos nas minhas mãos!

My Little Omega: Príncipe Da Lua [CONCLUÍDO/ EM REVISÃO] Onde histórias criam vida. Descubra agora