"Olá mãe,
Você deu à luz uma menina tão linda no dia 8/12/2000. Sempre me disse que foi o dia mais feliz da sua vida, mas a partir daí os anos custaram-lhe caro. Eu era uma criança problemática e sempre mo disse e eu nunca aprendia.
Trocava as sandálias e as bonecas pela lama e as sapatinhas.
Desculpa que, ao longo dos anos, a menina desapareceu e um rapaz tomou o seu lugar. Lembro-me que quando eu era pequena, você tentava por vestidos cor-de-rosa com flores brancas, mas eu sempre fugia. Devia lhe causar muita mágoa quando eu chorava e gritava para que mo tirasse. Desculpa...eu não queria ver você chorar.
Com a nascença da Kai, dois anos depois, vocês me deixaram de parte. Deixaram eu vestir as roupas que queria, deixaram que eu e envolvesse em brigas. Desistiram de me concertar.
É que...eu nunca me senti bem...sendo o que era, sabe? E você sempre me disse para ser o que queria ser e, independentemente de tudo, ser feliz. E se eu precisasse mudar o meu corpo para ser feliz?
Tudo piorou aos 12 anos, quando entrei na puberdade, e mais uma vez, você sofreu. O pai foi para a guerra e você entrou em depressão. Então, eu não quis contar como me sentia...para você não se sentir pior. Mas acho que só piorou cada vez mais os meus sentimentos.
Eu só queria agarrar aos meus joelhos e chorar por ter seios e menstruação. Eu estava me tornando uma mulher, e eu não queria. Tudo o que queria era rasgar a minha pele e soltar o homem que está em mim.
E foi aí que a minha irmã descobriu que eu me automutilada. Como eu fui capaz de esconder à Kai?! Ainda me lembro da sua reação: "Eu já sabia." Pedi para que ela não contasse para vocês. Pedi para ela me chamar de Max em vez de Maxine, e para ser sincero...eu sentia-me bem, como se tivesse livre de um peso enorme. Escondi a minha identidade a você e para o pai. Não fazia a mínima ideia como iam reagir.
E se me tirassem de casa?
E se me chamassem aberração?
Até que não aguentei mais, e 2 anos depois do pai sair de casa, eu contei a você. "Mãe, eu...quero mudar." Você respondeu. "Como assim você quer mudar, filha." "Eu sou...um menino, mãe."
Me lembro como se fosse ontem as lágrimas que você largou. E fiquei feliz ao saber que eram de felicidade, que você não estava triste e sim contente por eu ter contado a você. Você me respeitou pelas minhas decisões e começámos a terapia algumas semanas depois.
Minha mãe me aceitou como Max...Puta que pariu.
Me lembro que você tinha de me calar por eu estar sempre a tagarelar. Adorava ouvir a minha voz a ficar cada vez mais grossa, e o período a parar, graças à testosterona. Mas nem tudo é um mar de rosas, como a Kai me ensinou. A escola conheceu-me como Maxine e de um verão para o outro, um Max tomou o seu lugar. Você teve de me tirar daquela escola porque ninguém me respeitava, nem mesmo os professores.
E foi aí que mudamos para Anoía. O pai, do outro lado do mundo, nem sabia o porquê de nós nos termos mudado de país, mas acabou por aceitar. Qual era a escolha dele, afinal? "Como as minhas filhas estão?" Ouvi perguntar pelo computador. "Onde está a Maxine, nunca mais falei com ela." Você dizia que ele ainda não estava preparado para me ver.
Dias antes de o pai voltar, você tinha enviado uma foto minha para ele. "Este é o Max, meu amor...Aceite-o, por favor." O Tera foi quem mais me ajudou com o pânico que sentia, mas ele não entendia o porquê, então contei-lhe e ele prometeu-me que não me tratava de maneira diferente.
Tera se eu gostasse de homem, casava com você!
Quando voltei para casa, no mesmo dia, ouvi gritos do pai e de você. "Eu não vou aceitar...essa...essa...monstruosidade em minha casa!" Palavras que me doeram. Quando vi a cara dele, chorei. Ele tinha ódio ao me ver.
E esse ódio não saciou por alguns meses. Nós nunca nos olhámos, e quando eu me sentava para ir jantar, ele saía. Até que ouvi você falar com ele de madrugada. "Se não o aceita, pode começar a fazer as malas lá fora." Como você disse? "Eu não aturo mais vocês."
"Sério que você está do lado dela?"
"Eu estou do lado do meu filho! E esperava que você também tivesse."
Acho que foi essa ordem que o fez mudar de ideia. Aos poucos...fomos nos encaixando. Eu não conseguia ficar sem um pai, mesmo com as palavras arrogantes dele na minha cabeça. É o meu pai, cara, e só se tem um.
Demorou algum tempo, mas ele conseguiu olhar para mim como Max e ver, finalmente, a maravilha que eu sou.
Obrigada mãe por me ter aceitado e estar do meu lado,
Te amo."
Max pegou no seu "caderninho de pecados" de capa negra dura e fechou-o. Deu uma última olhada pelo que acabara de escrever e beijou a contracapa.
"Te amo, mãe."
Pegou no isqueiro e aproximou a chama das folhas. O laranja apoderava-se cada vez mais com caderno. Ao chegar a um certo ponto, lançou o caderno para a fogueira que tinha na sua frente e sentou-se.
"Queima..."
[Continua]
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My Little Omega: Príncipe Da Lua [CONCLUÍDO/ EM REVISÃO]
RomanceAriel Murphy, um escocês de 16 anos, entra num colégio interno, pela primeira vez, devido ao seu talento no desporto. Quando entrou pelas portas da sua futura escola, o nervosismo notava-se, não sabia com se iria sair em frente da sua nova equipa de...