Presente, Passado.

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Na manhã seguinte, acordo sobressaltada com o Sol em meu rosto e a imagem do quarto começa a se distinguir em minha visão borrada. Demoro algum tempo, até recordar completamente da noite anterior e dos problemas que deixei sem resolução antes de adormecer, como se um torpor tivesse pesado sobre mim.

Olho para o relógio. São apenas oito horas da manhã, mas por algum motivo, sinto como se estivesse atrasada para algo, como se a vida nesta casa já tivesse começado muito antes de eu acordar.

A lembrança dos três irmãos da noite anterior volta a meus pensamentos.

O arisco e fugidio Drogo. O doce e melancólico Peter.

Definitivamente, há algo de especial sobre esses rapazes. Mas é a imagem do outro que insiste em dominar a minha mente.

Nicolae.

Não costumo me impressionar fácil com as pessoas, e embora considere a maior parte delas absolutamente fascinante em seus mundos particulares, há uma linha de normalidade que nos une, uma identificação que nos torna parte de nosso mundo.

Nicolae parece estar completamente fora desta linha, o que aumenta ainda mais a minha curiosidade sobre ele. Sua beleza impressionante, seus modos...

É como se ele fosse um príncipe escondido.

Mas foi a forma como ele me dobrou completamente, a ponto de conseguir me colocar em um pijama e me convencer a dormir em uma casa com estranhos, contra todo o meu bom senso, que me intriga ainda mais. É quase como se ele fosse capaz de exercer uma influência sobre mim.

Não que eu desconfiasse que eles pudessem fazer algo de mau. Mas embora meus instintos confiassem prontamente na gentileza e boa intenção dos Bartholy, sinto que minha presença aqui é mais incômoda do que apenas uma estranha no meio da noite.

Há algo a mais por trás dos sorrisos polidos de Nicolae. Sinto que a privacidade é uma questão importante para os Bartholy.

Elementar, minha cara Watson, eles moram em uma casa no meio da floresta...

Abro lentamente a porta, espiando o corredor vazio. Um bilhete escrito com caligrafia perfeita encontra-se sobre minha mala.

"Bom dia Victória!

Espero que tenha tido uma noite agradável. Não quis acordá-la.
O café da manhã estará servido no salão.

Nicolae"

Eu me sinto um pouco envergonhada de minha desconfiança. Visto-me apressada e desço as escadarias, encontrando Nicolae imerso na leitura de um livro. Sua expressão concentrada se desfaz quando ele percebe minha aproximação.

- Bom dia! Você parece descansada. Teve uma boa noite de sono?

- Sim... O quarto é muito confortável! Vocês foram muito gentis ao me deixarem ficar!

Seu sorriso cordial ilumina a sala. Nicolae me guia até a sala de jantar, onde um farto café da manhã nos espera.

Um silêncio constrangido se interpõe entre nós. O desprendimento de Nicolae não me engana.

Hora de ir embora, Victória...

O motivo de minha hospedagem retorna aos meus pensamentos.

- Nicolae, sobre o meu carro...

- Sim! Receio não ter boas notícias sobre isso, Victória! Ontem tomei a licença de pedir a Drogo que o checasse. Você estava correta sobre o defeito nas válvulas, mas Drogo acredita que será necessário trocar um dos cilindros.

O imortal - Is it Love?Onde histórias criam vida. Descubra agora