O imortal - Is it Love?

Médico e o Monstro

Encaro o céu estrelado enquanto tento colocar as ideias em ordem. Milhares de possibilidades se abriram diante da revelação da condição de Nicolae... O mundo, da forma como eu o conhecia, desabou diante da prova irrefutável de uma forma de vida que desafia qualquer biologia.

O olhar ansioso de Nicolae percorre meu rosto, enquanto tento transitar por essa linha tênue que se desenha entre a curiosidade por sua condição e o desejo de conhecê-lo melhor.

- Victória, é natural duvidar...

- Não duvido, Nicolae... Não sei se você é exatamente o que diz ser, mas isso não muda as evidências de que você certamente não é...

As palavras me faltam. Nicolae levanta uma sobrancelha.

- Humano?

Balanço a cabeça, negativamente.

- Comum.

Nicolae ri, sem humor.

- Você tem um funcionamento intrigante, Victória. Eu acabei de revelar que sou um vampiro e você parece agir como se fosse sua obrigação assimilar essa informação sem minha ajuda. Você pode me perguntar o que desejar saber...

Eu o encaro em silêncio por alguns instantes.

- Desculpe, Nicolae. Minha cabeça está fervendo de perguntas, mas isso foi uma ruptura tão grande com tudo o que acreditava ser real que não sei nem por onde começar!

Minha sinceridade arranca dele um sorriso compreensivo.

- Se você me permitir, darei um conselho de quem já lidou com isso... Comece pelo começo.

Encaro Nicolae, tentando absorver suas palavras.

- Muito bem. Do começo, então... Quando você nasceu?

Nicolae arqueia uma sobrancelha, enquanto me direciona um olhar incrédulo.

- Vou responder primeiro ao que qualquer pessoa com o mínimo de senso de autopreservação consideraria como a pergunta primordial quando está em frente à um vampiro.... Eu me alimento de sangue de animais. Jamais feri um humano para...

Ele faz uma pausa incômoda, mas o silêncio entre nós está cheio de significações. Eu o interrompo de seu esforço de procurar um eufemismo.

- Não julguei necessário. Machucar alguém não parece ser parte de sua natureza!

A expressão por trás de seu olhar cristalino é uma incógnita, mas ele parece sensibilizado.

- Obrigado. Por sua confiança em mim.

Nicolae retoma o controle sobre si.

- Mas respondendo à sua pergunta, eu nasci em 11 de novembro de 1910 . Na Irlanda, pouco antes da primeira guerra.

Olho para ele, surpresa.

Centenário.

Preciso de um minuto para processar essa informação. De alguma forma, meu cérebro estranho encontra um caminho.

- Irlanda? Achei que você fosse Romeno.

Nicolae balança a cabeça, tentando claramente manter a presença de espírito.

Também para ele, não deve ser comum falar sobre isso.

- Minha família é romena. Venho de uma tradição de ciganos que enriqueceu as custas de negócios ilícitos durante a Revolução industrial e após a Primeira Guerra .

Sua colocação me faz lembrar imediatamente de sua habilidade com as cartas.

- Vocês eram envolvidos com algum tipo de trapaça?