A Termodinâmica do Caos

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A jovem loira capta todos os olhares do salão. Seu vestido dourado destaca a beleza de sua tez bronzeada. Ela sem dúvida parece uma joia dentro daquele bairro provinciano. Embora seus traços não sejam excepcionalmente bem desenhados ou incomuns, em uma pequena cidade como aquela, uma jovem bem construída e com um ar tão saudável não passaria desapercebida. Vinda de uma família nobre e casada com um industrial em ascensão, ela parecia a perfeita esposa, a mãe perfeita para o seu bebê. Ela acaricia o rosto de seu irmão mais jovem, que passa por ela com um olhar carinhoso. Emily Walton, agora Emily Parker, parecia ter um futuro brilhante pela frente. Mas algo estava errado no pequeno mundo de Emily.

Aqueles olhos que a perseguiam como o fogo morro acima... Ela levou a mão ao rosto, aos lábios que ele havia tocado com sua pele fria. Emily retirou-se do salão, contemplando o balcão. O bilhete em sua mão queimava. Suas belas e suaves palavras a haviam feito tomar sua decisão. Ela iria fugir. Seu peito arfava pela dispneia e pelo desespero, e não aguentaria sequer mais um dia aprisionada em um casamento com um homem que deixara de amar assim que aquele misterioso estrangeiro cruzara seu caminho.

        ...

Lorie, desapontada, movimenta-se sobre o meu colo, como se tivesse formigas dentro da roupa.

- Não tem nada aí dentro! Ela não vai aparecer!

Suspiro profundamente, diante das caretas da pequena vampira.

- Vai sim, Lorie, mas você precisa ter paciência e parar de se mexer! Confie em mim, já fiz isso centenas de vezes. Agora... com delicadeza...

Coloco minha mão sobre sua mãozinha fria para ensiná-la como se deve movimentar o graveto sobre a teia de aranha.

- Você precisa fazer pequenas vibrações. – digo, sussurrando. – Ela precisa achar que foi um inseto que caiu em sua teia. Se você movimentar com muita força, a aranha vai achar que é um predador e vai voltar para dentro.

Lorie faz o movimento correto, com minha ajuda. Pouco a pouco, vejo as quelíceras movimentando-se. Aponto, fazendo um sinal de silêncio, para a aranha lentamente saindo da toca. Vejo o brilho no olhar de Lorie, que observa empolgada, a aranha colorida.

- Ela é... – ela começa a falar alto e faço um sinal de silêncio enquanto a aranha passeia sobre a teia. Lorie logo começa a sussurrar comigo – Ela é linda!

Passamos algum tempo observando-a em silêncio. Sinto um pouco de sono neste momento. Lorie não me deixou dormir até mais tarde, pulando em minha cama assim que o dia nasceu. Ontem ela parecia tão triste com a notícia de que os irmãos sairiam para caçar que eu prometi que a ensinaria a "desentocar" aranhas.

- Vamos, vamos! Acorda dorminhoca! – Lorie dizia, enquanto pulava ao meu redor.

Olhei para o relógio.

- Lorie, são seis horas da manhã! Até as aranhas estão dormindo a essa hora!

Mas ela não desistiria fácil. Agora vendo-a tão feliz, penso que valeu a pena ter acordado tão cedo...

Alguns meses se passaram desde que tudo aconteceu, mas não me incomodo mais em contar a passagem do tempo. O laboratório insistiu em encaminhar outros projetos para seguir em Mystery Spell quando propus abandonar a carreira científica em detrimento de minha permanência na cidade, apesar do término de minha pesquisa devido a falta do misterioso material.

Eu me senti grata por não ter que escolher abandonar o sonho que primeiramente me trouxe até aqui. Mas igualmente feliz por perceber que eu poderia ter novos sonhos.

O número de inscritos em minha matéria aumentou exponencialmente neste novo semestre e encontrei um grande senso de missão em dar aulas.

Nicolae, por sua vez, substituiu brilhantemente o seu antecessor, coisa que a maior parte das alunas não considerava possível.

O imortal - Is it Love?Onde histórias criam vida. Descubra agora