Esqueletos no Armário - Parte I

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Sentada nas escadarias, saboreio a marmita que Nicolae insiste em deixar pronta para mim, interrompendo uma longa tradição de descuido alimentar e almoços negligenciados.

Peter, a quem eu estava esperando, senta-se ao meu lado, com uma expressão amigável.

- Eu lamento não ter conhecido o Nicolae antes de ... você sabe. A comida dele parece realmente muito boa.

- Ele é muito bom nisso, tenho que confessar. Nicolae não perdeu a mão para alguém que não deve ter cozinhado com frequência...

No último século...

Peter dá de ombros.

- Quando Mia era au pair de Lorie, ele cuidava da comida o tempo todo.

Levanto a sobrancelha, surpresa.

- Uma au pair sobreviveu à Lorie e ao Drogo na mesma casa?

- Enfim, isso foi há muito tempo. 

Peter fecha a expressão, olhando para os próprios pés, como ele costuma fazer quando sente que falou demais. Não insisto no assunto, apesar da curiosidade. Conhecendo melhor os irmãos Bartholy, aprendi que ninguém é capaz de tecer um casulo em torno de segredos tão bem quanto Peter. 

E é exatamente por isso que preciso dele. 

O jovem vampiro me direciona um olhar acolhedor.

- Confesso que fiquei curioso quando você me pediu para encontrá-la... Precisa de minha ajuda para algo, Victória? 

- Sim, Peter. Eu sinto muito por incomodá-lo...  É que não queria conversar na mansão...

Observando meu rosto contra a luz, ele aperta os olhos, parecendo preocupado.

- Você está bem, Victória?

Balanço a cabeça assentindo. Hesito por alguns momentos, mas pretendo ir direto ao ponto. 

- Sim! Não quero forçá-lo a nada, Peter, mas preciso pedir que  o que conversarmos, fique entre nós. Você poderia guardar um segredo?

Seus olhos verdes me observam com cautela. Peter morde os lábios, de um jeito ansioso. Ele parece dividido por meu pedido nada habitual.

- Claro, Victória. Guardarei qualquer segredo seu como se fosse meu. Mas aqui não parece um bom lugar para isso. Venha comigo!

Acompanho Peter através do campus, até um descampado isolado, e nos sentamos em um banco, afastados da movimentação. 

Este lugar me é familiar... 

Olho ao redor, me certificando que não estamos sendo ouvidos.

- Há alguns meses, tenho tido sonhos bastante estranhos... E eles vem ficando mais frequentes... 

Tento rememorar o máximo de detalhes.

- São como se fossem recortes das memórias de alguém. Algumas cenas se passam aqui no campus, mas há lugares que nunca vi. E por mais que eu tente, eu não consigo encontrar conexão entre elas...

- E você acredita que esses sonhos possam ter algum significado?

-  Sim! Alguns deles se repetem, como se me convidassem a ouvir uma história. Há essa jovem, que vem me perseguindo. Ela está em um baile, ansiosa, como se estivesse prestes a fugir. Mas eu sei, eu sinto, que algo terrível está para acontecer com ela. E há esse garoto, que olha para ela de um jeito que me assusta, mas é apenas uma criança... Peter, eu não sei se é uma lembrança ou ...

O imortal - Is it Love?Onde histórias criam vida. Descubra agora