As coisas que perdemos.

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- E Sierra foi embora? Simplesmente? Não disse que voltaria?

Reviro os olhos.

- Pela milésima vez, Drogo. Ela foi embora de vez.

Sua postura relaxa, como se tivesse soltado um peso das mãos.

- Desculpe. Não posso dizer que estou triste por você, meu irmão.

- Eu entendo.... Apesar dos esforços em mudar, é difícil ignorar o passado de Sierra...

Drogo balança a cabeça.

- Nicolae, não seja esnobe! Eu já cometi erros demais para julgar alguém pelo passado. Eu dei uma chance de peito aberto para a Barbie. Mas ela nunca completou você! Isso era tão óbvio quanto a sua falta de gosto...

Meu irmão olha para minha roupa com um ar de contrariedade.

- O que tem de errado desta vez?

- Francamente, casaco de tweed? O que você é, Nicolae? Um artista falido da década de cinquenta?

Sorrio para a malcriação de Drogo.

- Eu gosto dos clássicos. Além disso, suas colegas acham charmoso...

- Ah, sim... o fetiche clichê com professores! Mas não estamos falando sobre o que deveríamos estar falando! Eu quero saber o que você fará sobre Victória, agora que Sierra foi embora.

Sinto suas palavras como um soco na boca do estômago.

- O que eu possivelmente faria sobre Victória?

Drogo me olha, indignado.

- Você não vai atrás dela?

Além de enfiar a faca ele ainda a torce...

- Drogo, isso não é uma dança das cadeiras! Você não acha que a esta altura Victória já não seguiu em frente? Com alguém que realmente possa oferecer o que ela merece?

Recebo um olhar impaciente, estampado no rosto de meu irmão.

- Não acredito que vamos passar por isso de novo! Você é um covarde, Nicolae! Sierra era só uma desculpa bem vinda, no fim das contas.

Drogo desta vez foi longe demais. Eu me levanto, irritado.

- Você não sabe do que está falando, Drogo! Eu quero o melhor para Victória, quero que ela tenha o mundo! E ela pode ter o mundo! Mesmo que isso signifique ficar bem longe de mim! Isso é amor, e não a ideia mesquinha de sugar a vida dela e enfiar no mesmo buraco em que estou!

Meu irmão joga os braços para o alto.

- E voltamos à estaca zero! Talvez não possamos mesmo ensinar novos truques a um cachorro velho! Apenas lamento que você passe tanto tempo alimentando sua culpa imaginária que não consiga enxergar o óbvio!

O tom desafiador de Drogo me irrita. Levanto uma sobrancelha.

- Estou aqui, esperando você me esclarecer o óbvio!

- Victória não vai viver para sempre Nicolae! Cada minuto perdido com ela é algo que você não vai recuperar!

E ele acha que eu não penso nisso o tempo todo...

- Você acha que não sei disso, Drogo? Mas eu errei demais com ela! Eu não posso simplesmente pedir para que ela volte depois do que houve com Sierra!

- Sim, Nicolae. Você pode pedir isso a ela! Você deve a si mesmo pedir isso a ela!

Drogo me olha com uma expressão cansada. Neste momento, ele transparece o ancião aprisionado para sempre no corpo de vinte e dois anos. Sigo seus movimentos com os olhos, enquanto retira de sua mochila um porta-retratos.

O imortal - Is it Love?Onde histórias criam vida. Descubra agora