A Estranha Mansão

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Mysthery Spell é uma pequena cidade isolada, em uma bela região cercada por bosques e montanhas, com uma encantadora herança arquitetônica do século XVIII e um povo simpático e acolhedor.

O que não foi anunciado, entretanto, no panfleto de propaganda da Universidade, é que trata-se de uma região sujeita à chuvas torrenciais e a deslizamentos, que levam frequentemente a atoleiros na estrada, como este, que encaro estoicamente, tentando vencer minha frustração.

O celular fora de área não me deixa alternativa senão procurar ajuda ou passar a noite comendo as migalhas de batata chips espalhadas pelo banco do carro. Apesar da visibilidade ruim, brilham, a poucos quilômetros, as luzes de algo que parece ser uma enorme casa, ou talvez um museu, que no momento, parece ser minha melhor chance de conseguir ajuda.

Sigo resolutamente, com os calcanhares enfiados na lama, por uma estrada de terra, em direção ao local.  Depois de hoje, sinto perdi toda a autoridade moral para fazer comentários judiciosos contra as mocinhas de filmes que insistem em cair em armadilhas óbvias, como mansões mal assombradas no meio da noite. 

Quase posso ouvir a trilha sonora de Psicose em minha cabeça enquanto caminho até os portões altos e escuros que se erguem, protegendo uma enorme mansão vitoriana.  

O lugar é impressionante. Mesmo na escuridão, as enormes janelas brancas encrustadas nas paredes de tijolo aparente mostram a opulência de tempos passados.  Ao redor da casa, há um bosque cujos limites não consigo definir, mas que parece ser parte da propriedade. 

Quase como se os donos quisessem se cercar de proteção contra olhares indiscretos...

O som do movimento dos galhos ao redor me alerta. Alguém definitivamente está me observando. Acelero o passo, atenta ao movimento da casa. 

Os sons parecem cada vez mais próximos. Quando me habituo à escuridão, um calafrio percorre a minha espinha. Através das folhas, duas íris brilhantes me observam. 

Corro, com todas as minhas forças, atravessando o portão. Sinto uma dor aguda em meu tornozelo, quando meu pé se emaranha em uma raiz, me levando direto ao encontro de uma enorme poça de lama.

Grito, levando defensivamente meus braços, enquanto tento antecipar um ataque. Mas nada acontece.

 Depois de vários minutos paralisada, sentada em uma poça fria, esperando uma criatura imaginária terminar com minha vida, decido que é hora de parar de tremer e reunir minha dignidade para parecer algo que lembre remotamente um ser humano.   

Felizmente para essa vergonha, não tive nenhuma testemunha...

Bato na porta, timidamente, tentando não assustar os donos da casa, mas quando ouço o som metálico do movimento das correntes transpassadas no portão que deixei para trás, minha educação forjada cai por terra.

Uma fresta surge da porta fechada, iluminando a soleira, e com alívio, ouço uma voz masculina:

- Quem esta aí? Quem é você?

Eu me adianto, me aproximando da luz, para que ele possa me ver. 

- Meu nome é Victória Rodrigues. Estava a caminho de Mystery Spell, quando meu carro atolou!

Sem dizer nenhuma palavra, a figura masculina entra na mansão, deixando a porta aberta atrás de si, enquanto encaro paralisada a linha de luz no chão.

- Você vai entrar ou vai ficar na chuva?

Céus...

Apresso minha entrada, seguindo o jovem através da porta.

O imortal - Is it Love?Onde histórias criam vida. Descubra agora