A Floresta.

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A cidade perdida de Supay não é para os fortes. Seu caminho não comporta o peso das ambições desmedidas, dos desejos de glória e de poder. Aqueles que tentarem atravessá-lo munidos destes artifícios, ruirão como quem pisa em madeira apodrecida.

Etérea, como as brumas dos sonhos, somente pode chegar a ela quem entender que todo fim é uma forma de recomeço.

E.O., 1974.

O espaço ao meu lado estava vazio quando acordei.

Depois de algum tempo de confusão, finalmente reconheci Esteban, observando a janela com um ar preocupado. 

Os sons inequívocos das gotas sobre a lataria finalmente me fazem compreender sua inquietação. 

Uma tempestade torrencial cai sobre nós, balançando o barco.

Eu me levanto, observando o céu fechado.

Olho para o relógio. Já são quase seis horas da manhã e mal parece que saímos da madrugada. A escuridão das nuvens cinzentas abafa qualquer sinal de luminosidade.

- Quanto tempo duram essas chuvas?

Esteban dá de ombros.

- Elas estão fora de época, mas pela densidade das nuvens, eu diria que em menos de quatro ou cinco dias, o tempo não irá melhorar...

 Céus...

Deixo meu corpo cair sobre o banco, com um sentimento opressor de derrota. Cada passo em direção a esta floresta parece testar minha motivação.

- Quatro ou cinco dias... Isso é muito tempo!

Passo as mãos por meus cabelos, frustrada.

Olho para nossos equipamentos. Sacos e capas impermeáveis, materiais de rádio e acampamento... Todo nosso planejamento não pode ser jogado fora!

Eu não cheguei tão longe para ir embora...

- Eu vou. Esteban, fique com o comunicador por satélite. Eu vou entrar na floresta com o outro, e se eu não responder ou não voltar no tempo esperado...

Seu ar contrariado é tão estranho em seu rosto amigável que é quase como seu eu estivesse diante de outra pessoa.

- Você realmente acha que eu faria? Fora de questão... Completamente... fora de questão.

Esteban começa a arrumar os equipamentos, com uma expressão absolutamente furiosa.

- Nosso acordo era que eu a levaria até o templo de Supay. O que você acha que eu estava esperando? Um teleférico? Algodão doce na entrada?

- Eu não posso pedir a você que se exponha a este risco...

Ele nem sequer eleva o olhar, enquanto me responde, secamente.

- Arrume-se. Saímos em quinze minutos.

Eu nunca o vi nesse humor. Por um momento, a ideia de colocá-lo em perigo quase me faz desistir de seguir nessa jornada insana.

Olho novamente para o manuscrito de Eliza. Um grande grifo vermelho emoldura o título do capítulo, quase respondendo à pergunta que não tive coragem de fazer.

Eu realmente terei que passar por isso. Não há atalhos...

Victória... Venha...

A voz da floresta volta a me chamar. Sinto a escuridão se acercar de mim, com o peso de um desabamento. Minhas pernas perdem o tônus e cambaleio, derrubando algumas coisas no caminho até conseguir me sentar.

O imortal - Is it Love?Onde histórias criam vida. Descubra agora