Velho, jovem

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 Reviro, distraidamente, a pulseira entre meus dedos, soterrado em meus pensamentos.

 Há muitos anos atrás, quando ainda lecionava na Faculdade de Mystery Spell, eu a ganhei de um jovem intercambista. 

Jorge Esteves era um feiticeiro com um talento fora do comum. Ele viera da Espanha para terminar seu doutorado em arqueologia. Poucas vezes, ao longo de todos os meus anos, conheci um jovem com tantas habilidades, mas sobretudo, um ser humano tão incomum. 

Receptivo e alegre, Jorge fez questão de se aproximar de mim, ao contrário dos demais de seu clã, que pareciam se afastar ou meramente tolerar minhas aulas. 

Sua trajetória como aluno foi brilhante e eu sempre o incentivava a seguir com a carreira acadêmica. Discutíamos artigos, trocávamos referências... Em pouco tempo, o considerava mais como um amigo do que como um aluno. Portanto, foi uma surpresa para mim quando ele bateu em minha porta, em uma tarde de inicio de semestre.

- Professor Bartholy, que bom encontrá-lo aqui! 

- Senhor Esteves! Sente-se! Como posso ajudá-lo?

Jorge sorriu com simpatia. 

- Você já ajudou, professor, e muito! E é por isso que estou aqui! Queria me despedir antes de ir embora!

Levantei a sobrancelha, surpreso.

- Está um pouco cedo, para ir para casa, não? Ainda mal começamos o semestre...

- Não, professor Nicolae... Infelizmente vou em definitivo. Estou interrompendo o doutorado e voltando para a Europa. Por isso quis vê-lo o mais breve possível. 

Jorge me estendeu a mão, e eu retribui o cumprimento, surpreso. 

- Não compreendo Jorge... Você estava indo tão bem!  

Havia uma sombra de tristeza em seus olhos. Soube que ele escondia alguma coisa, mas oclumência estava entre suas habilidades que ajudei a desenvolver.

- Você me permite perguntar o motivo de sua ida?

- Claro, professor! Minha esposa está grávida e queremos que nossa filha nasça com a família dela por perto!  

Levanto a sobrancelha para ele.

- Meus parabéns, Jorge!  Imagino que você terá uma grande aventura pela frente sendo pai de uma garotinha!   

Ele sorriu, me estendendo a mão calorosamente.

- A maior de todas! 

- Estou envergonhado por não ter nenhum presente para sua menina! 

- Imagine, Nicolae! Minha esposa e eu estamos realmente sendo discretos sobre isso. Você e a Reitora Eliza são os únicos a saber! Da gestação e da despedida... Por falar nisso, trouxe algo para você!

Peguei a caixa de suas mãos, me sentindo intrigado diante da delicada pulseira.

- Agradeço o presente, Jorge, é realmente lindo. Mas receio que você não vá me ver usando-a! 

Ele riu, escancaradamente, com seu bom humor habitual.

- Receio que não, Nicolae, embora sem dúvida fosse ser uma cena interessante! 

Rimos juntos. Jorge continuou a se explicar.

- Eu que a fiz. Não é uma pulseira comum. Mas não é para você. Estou confiando que você encontrará a pessoa certa para dá-lo.

Uma pulseira enfeitiçada...

- E como saberei quem é essa pessoa misteriosa a quem devo presentear?

O imortal - Is it Love?Onde histórias criam vida. Descubra agora