Partes e remendos.

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Vejo as duas amigas sentadas em um banco. Minha mãe acaricia os cabelos ruivos da jovem Nina, que suspira.

- Desta vez, acho que esse pesadelo acabou. Walton não me incomodará mais. - Ela diz, enxugando as lágrimas dos olhos. –Foi tudo um grande erro! Como pude me deixar ceder tanto assim? Como pude ser tão estúpida!
Minha mãe dá de ombros, com um olhar carinhoso.

- Você acreditou que era amor, Nina. E talvez ele também acreditasse que fosse, mas estragou tudo, com seu desejo de posse. Às vezes é difícil perceber quando um relacionamento se torna abusivo. Isso não acontece da noite para o dia!

Nina parece sombria.

- Não é um simples caso de obsessão de um professor por uma aluna, Ana. Henry enlouqueceu. Ele acredita que eu faço parte de uma profecia, que eu pertenço a um povo cruel e quer que eu o ajude... – ela respira fundo. – Ele chegou a perguntar se um de meus pais era bruxo! Ele insistiu que eu teria que ser filha de um bruxo!

Minha mãe parece constrangida.

- Anita, sobre isso... nós precisamos conversar...

Vejo ao longe a silhueta muito familiar. Atravessando a porta de saída da biblioteca, reconheço os cabelos negro-azulados de Peter. Minha mãe suspira quando o vê, se interrompendo, como se tivesse perdido a concentração.

- Que príncipe é aquele rapaz! Sempre tão educado e estudioso!

Nina balança a cabeça, negativamente.

- De fato, Ana, mas depois de tudo isso, esses homens noturnos não fazem mais o meu tipo.

- Peter Bartholy é o tipo de todas! - minha mãe protesta, entre risos. -É uma pena que ele não parece perceber mais nada além de seus livros. E quem fará seu tipo então?
Nina responde, dando de ombros.

- Alguém mais solar, mais alegre. - e olhando ao redor, aponta para um belo jovem de olhos claros e cabelos loiros – Como ele, por exemplo.
Vejo o rapaz e ele realmente parece uma personalidade luminosa. Ele atravessa o pátio conversando e rindo com várias pessoas, com um grande sorriso brilhante. Ele não me é estranho... Minha mãe olha para a amiga com um ar divertido, acenando para o rapaz apontado pela colega, que empalidece.

O jovem prontamente se dirige ao banco. Por um momento, sinto uma empatia enorme pela garota ruiva, que tenta parecer impassível diante da provocação de minha mãe.

- Você já conheceu Nina? Ela é intercambista, da Itália. Nina, este é meu primo.

A expressão do jovem, diante de Nina, é a de alguém que tivesse encontrado um veio de pepitas de ouro. Os dois se apresentam, com uma troca de olhares intensos. 

O som dos pássaros cantando na janela penetra meus ouvidos e a sensação da luz do Sol através de minhas pálpebras fechadas aquece minha mente exausta. É bom demais para ser real. Não quero acordar desse sonho. Não quero abrir meus olhos e despertar naquele quarto sem luz, sem o conforto desses dedos frios me acariciando, trocando esse cheiro tão familiar pelo mofo e putrefação das paredes.

Abro os olhos, resignada. Mas ao invés das pareces cinzentas, encaro os arabescos dourados do telhado e os olhos azuis acinzentados de Nicolae.

Apesar da alegria que me invade, eu me sento na cama, confusa e desconfiada. Se isso for uma ilusão, a volta para a realidade será cruel. Escrutino o rosto de Nicolae a procura de qualquer sinal de falsidade, mas sua expressão diante de minha hesitação é de uma compreensão que eu jamais seria capaz de imaginar.

O imortal - Is it Love?Onde histórias criam vida. Descubra agora