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MARY

Quando esbarrei contra o loiro sujo de olhos azuis - sim, olhos azuis estupidamente bonitos -, resmunguei com ele por não estava mesmo com paciência nem merdas e digamos que não estava nos meus dias.

*

Já eram 17h e não me apetecia ir para casa. Decidi ir explorar a escola enquanto ainda era possível naquele dia. Nunca fui muito de fazer novos amigos, porque andar de um lado para o outro torna-se impossível. Gosto de me afastar, de ficar no meu canto, de ficar no meu mundo.

Decidi começar pelo andar superior para depois simplesmente sair porta fora e ir para casa desejar que aquela semana não tinha acontecido. Encontrei uma velha sala vazia então decidi entrar. Deixei cair a mochila numa cadeira ali perto e comecei a explorar. A sala já não tinha muitas cadeiras e mesas como havia de ter uma sala em período de aulas. O velho quadro de giz parecia que ia cair a qualquer momento, mas eu ia rezar para que isso não acontecesse e eu apanhasse um susto. Fui até às janelas, janelas estas que já precisavam de uma limpeza há algum tempo e vi as pessoas a sair da escola. Casais felizes, grupos de amigos possivelmente a pensar em que festa se iam meter no fim de semana, algumas pessoas sozinhas mas que pareciam felizes à sua maneira, acho. Gostava de ser feliz algum dia. Credo! Que lamechices estas!

Olhei para a sala novamente e reparei num velho armário entreaberto. Curiosa como sou, abri-o. Para minha surpresa, num canto várias caixas somente com esferovite dentro. Retirei uma do seu lugar inicial e reparei que era muito espaçoso para uma pessoa do meu tamanho se esconder ali na paz de Cristo. Não, não sou assim tão pequena. O armário é até grandinho. Já sei se quiser, posso vir para aqui passar os intervalos ou os tempos mortos. Continuei a pesquisar e vi que havia mais caixas mas desta vez tinham telas e tintas. Adoro pintar! Desde que pequena fazia as minhas pequenas obras de arte e ajudavam a desligar de merdas a que a minha cabeça era sujeita. Fechei o armário e fui de encontro ao outro. Este era mais pequeno e, por incrível que pareça, e juro que não estou a mentir, quando o abri, encontrei uma guitarra, em cima daqueles papéis com bolhinhas. A guitarra está em bom estado e sei que ela deve ser utilizada regularmente. Tirei-a com cuidado e sentei no chão a olhar curiosa para ela. Sempre quis saber tocar guitarra, mas digamos que passei por fases complicadas na minha vida que impediram isso de acontecer.

Sou acordada do meu transe por passos cada vez mais próximos daquela sala. Não gostaria muito de ser apanhada num local proíbido logo na primeira semana na escola e ser chamada ao diretor. Agarro na guitarra e volto a colocá-la no sitio, desajeitadamente. Agarrei na minha mochila e escondia-a atrás do armário, porque vi que não tinha tempo para sair dali, muito menos pela mesma porta por onde entrei, sem ser vista. Entrei dentro do armário das tintas e coloquei-me do outro lado das caixas encolhida.

Fuck. 

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Será que ela vai ser apanhada?

xx


My Dark Angel » l.h.Onde histórias criam vida. Descubra agora