Com as mãos tremulas, levei o quente copo de chá aos meus lábios, pela milionésima vez a pensar naquilo que tinha acontecido há umas horas atrás. A mais longa discussão que já tive na vida. Todas as coisas que nós dissemos; eu disse.
“Vai te foder, seu idiota sem coração!”
“Como é que podes dizer algo assim? Como é que consegues pensar numa coisa dessas?!”
“É porque te amo seu bastardo doente!”
“Sim, eu fiz, pensei que nada fosse sair das tuas ridículas atuações. Sabes que mais? Continuo a pensar a mesma coisa!”
“Bem concordo com o meu pai, é estupido!”
“Está bem! Sai! Não precisas de nunca mais voltar!”
Fechei os meus olhos com força com a memória da última coisa que lhe disse; arrependo-me disso mais que alguma coisa que alguma vez disse na vida. Eu sabia que iria sentir-me como merda assim que o dissesse, e eu estava completamante e absolutamente certa. A maior razão por causa disso é pelo facto de eu estar aqui sentada, cinco horas depois de ele ter batido a porta, bebendo o meu copo de chá e à espera, apenas à espera que ele volte para casa. Tinha medo que ele levasse as minha palavras à letra, e agora… bem, eu nem quero pensar nisso.
A minha mão voou para a minha cara para limpar algumas das lagrimas que escaparam do meu olho ao relembrar-me das suas palavras. Fechei os meus olhos outra vez e abanei a cabeça levemente, esperando esquecer tudo. Haviam tantas coisas que eu queria apagar completamente da minha memória mas eu sabia que elas iam cá permanecer por um tempo. Um longo, longo tempo.
Era uma da manhã, eu estava cansada e tinha de trabalhar amanhã, mas o recente evento não estava a dar-me paz. Era a primeira vez que eu não conseguia mesmo dormir por causa de algo que aconteceu. Normalmente, eu adormeceria depois de pensar durante um tempo sobre o assunto mas desta vez… mesmo quando eu tentava esquecer tudo, continuava aqui, no fundo da minha mente, literalmente assombrando-me. Eu não fazia ideia do que faria se aquilo tivesse durado mais tempo, eu provavelmente daria em louca.
Eu continuava sem perceber o porquê de conseguir lembrar-me de cada palavra, olhar, respiração e movimento que aconteceu durante estas cinco horas em que discutimos. Eu nem conseguia lembrar-me dos nossos bons momentos. Provavelmente porque não foram assim tantos… não tantos quantos os maus, enfim.
Saltei do banco quando ouvi a porta a abrir e a fechar e senti o meu coração acelerar drasticamente; ele estava em casa. Finalmente.
Com as mãos mais tremulas que antes, quase deixei cair o copo na mesa quando precipitadamente me levantei do sofá. Apenas captei um vislumbre do Ashton quando ele passou pelo corredor e entrou no nosso quarto. Para ser honesta, eu estava aliviada; eu tinha quase a certeza de que ele tinha ido para um bar e, normalmente, quando ele se embebeda vai direto para a cama, as vezes nem se descalça. Deve ter sido o caso de agora.
Respirei fundo, tentando acalmar-me enquanto lentamente andava até ao quarto. Assim que lá cheguei, esperava vê-lo deitado na cama ou pelo menos a descalçar-se. Mas, para minha absoluta surpresa, ele estava a juntar as suas coisas e a pô-las em uma mala. Apenas com isso, o meu coração voltou a acelerar.
“Ashton?” Disse, quase tão baixo para ele ouvir. Ele apenou olhou na minha direção, retornando a sua atenção a tirar as suas roupas das gavetas. “O que estás a fazer?”
Ouvi-o soltar um pequeno suspiro. “Hum… vou passar a noite no Brad.”
Ele soou como se não quisesse dizer-me onde raio é que estava a ir e o que estava a fazer. Mas a sua voz, a sua voz foi tão fria e descuidada com cada palavra. Como se ele nem se importasse com a minha opinião.
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You again? (DC sequel) | Português
Novela JuvenilQuais são as possibilidades de encontrares um antigo amor depois de dois anos? Não tão pequenas, de facto. Mas e se tiveres de partilhar o mesmo local de trabalho que ele?