Prólogo

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- Maria, parece-me que aquele cliente da mesa dois quer ser atendido por ti...- Reviro os olhos com a afirmação da minha amiga e colega de trabalho, Lara, fazendo-a gargalhar.

- Aquele cliente já conheço eu bem. É um chato do pior.- Resmungo, e começo a arrumar as chávenas de café.

- Ele vem cá praticamente todos os dias. É porque está satisfeito com os serviços prestados pela nossa pastelaria.- O seu tom trocista denunciava claramente onde é que esta conversa ia parar.

- Já que estás tão preocupada com ele, podias atendê-lo tu, Lara.

- Oh menina, quero ser atendido ainda hoje, se não for muito incómodo.

Conto, mentalmente, até dez e respiro fundo. Este rapaz tira-me do sério. Vem quase todos os dias à pastelaria, e não há dia em que não seja a pessoa mais convencida e irritante que conheço.

É o João. João Palhinha.
Pensa que é superior apenas por ser jogador profissional de futebol. E eu detesto pessoas que se acham mais do que as outras.
Digamos que a nossa relação não começou da melhor forma... deixei cair leite achocolatado por cima dele e fomos os protagonistas de uma grande discussão aqui na pastelaria. No entanto, (para meu grande desapontamento) ele não deixou de frequentar o estabelecimento e faz questão de mostrar, diariamente, o quanto me consegue pôr fora de mim.

Termino a minha tarefa e vou até à mesa, onde ele se encontra.

- Até que enfim...- Ele diz e reviro os olhos.

- O que é que vai ser?- pergunto.

- Uma torrada com pouca manteiga e um sumo de laranja natural.- Exibo um sorriso cínico e quando estava prestes a voltar para trás do balcão, sou impedida de o fazer quando o meu nome é proferido pelo João.- Maria, só mais uma coisa.- Deixo escapar um suspiro e encaro-o.

- O que é que foi agora?

- Se fosse a ti, aprendia a ser menos violenta. Já conseguiste arranjar emprego na tua área?

- O que é que isso te interessa? E, além disso, como é que tu sabes que eu ando à procura de outro emprego?

- Tenho as minhas fontes...- Olho para a Lara que se encontra muito entretida a tentar ouvir a nossa conversa e fico sem qualquer dúvida sobre qual será a fonte dele.- Continuando... é gestão, não é?

- Sim. Mas ainda não percebi o que é que tens a ver com isso...

- Tenho uma proposta para te fazer.- Cruzo os braços e ele aponta para a cadeira à sua frente.- Senta-te.

- Tenho mais que fazer do que estar aqui a ouvir-te, por isso, é melhor seres rápido.- Digo, sentando-me.

- Estou com um pequeno problema e tu podes ser a solução.

- Bateste com a cabeça em algum lado? Não estou a ver onde é que eu possa ser a resolução de algum dos teus problemas.

- Os meus pais estão a viver em Lisboa, mas como a casa deles vai estar em obras, decidimos que o melhor seria eles virem para a minha casa, ou seja, vão passar cerca de um mês cá em Braga.

- Avança, João. É que ainda não entendi o porquê desta conversa.

- O que acontece é que a minha mãe queria juntar-me a toda a força à filha de uma das amigas dela e eu fui quase obrigado a dizer que tenho namorada. Algo que é mentira porque eu quero, caso contrário, não teria dificuldade em arranjar uma rapariga caidinha por mim.

- Tu és tão idiota...- Respondo, quase num sussurro.- E qual é a parte dessa história toda que se relaciona comigo?

- Então... eu preciso de alguém que finja ser minha namorada. E esse alguém... és tu.

Pronto. Endoideceu de vez. Às vezes pergunto-me o porquê de certas pessoas terem um cérebro, se não fazem uso dele.

- Não! É que nem penses!- Respondo de forma imediata.- Eu não te suporto, João... é impossível isso acontecer. A sério. Esquece essa ideia porque não vai acontecer.

- Importas-te de me ouvir até ao fim?

- É que nem vale a pena. Porque é que não arranjas uma rapariga que esteja caidinha por ti? Já que dizes que é tão fácil... tenho a certeza que ela saberia fingir muito melhor do que eu.

- Se aceitares o meu pedido, garanto-te que tens um trabalho na área de gestão no Sporting Clube de Braga.

Fico a olhar para ele durante alguns segundos, como que a pensar no que iria dizer. Não posso deixar de admitir o quanto esta proposta é aliciante. Há imenso tempo que procuro trabalho na área em que me formei, mas as dificuldades que se vivem atualmente em Portugal fazem com que eu seja apenas mais uma licenciada impedida de trabalhar naquilo que mais gosta.

- Tu só podes estar a gozar... João, eu nem consigo olhar para a tua cara, como é que queres que eu finja ser tua namorada?

- Não sei porque é que dizes isso... sou um amor de pessoa.- Deixo escapar um riso repleto de ironia e abano a cabeça em forma de negação.

- Claro que sim. Se fosses um amor de pessoa, não te armavas em chantagista comigo.

- Vá lá, Maria... ambos sabemos que estás ansiosa por aceitar o que te estou a propor. É só um mês. Trinta dias.

- Porque é que te lembraste de mim para pactuar nesse teu plano?

- Porque apesar de seres uma menina mimada e tremendamente irritante, até és bonita e é óbvio que, mesmo sendo a fingir, convém eu ter uma namorada bonita ... e digamos que este meu trunfo me dava a certeza de que irias aceitar.

- Eu ainda não aceitei nada... mas se, hipoteticamente, eu aceitar, começo já a trabalhar?

- Não. Só tens o trabalho se me ajudares como deve ser. Ou seja, daqui a um mês, se tudo correr bem, estás a trabalhar nos escritórios do Sporting Clube de Braga.

A razão está a dizer-me para não aceitar esta proposta de maneira nenhuma. O João vai tornar-se ainda mais convecido e vai passar os dias a vangloriar-se por ter sido ele a arranjar-me um emprego tão bom como o que ele propõe. Mas, por outro lado, o coração está a falar mais alto e está a dizer-me para aceitar. Eu preciso deste trabalho. O dinheiro da pastelaria é muito pouco para todas as despesas e eu gostava de ajudar mais os meus pais no campo financeiro.

- Eu aceito.- Ele mostra um sorriso vitorioso e, mais uma vez, ofereço-lhe um revirar de olhos.

- Sendo assim... só me resta dizer uma coisa... tenta não te apaixonares por mim nestes trinta dias.


E aqui estou eu com mais uma história!! Eu disse que iria haver novidades e uma dessas novidades, é esta!

Estou super entusiasmada com esta minha nova aventura, até porque é algo diferente e espero, sinceramente, que gostem! ❤

O primeiro capítulo será publicado em breve... quando o ritmo da faculdade abrandar um pouco.

Muito obrigada por todo o apoio que tenho recebido! ❤

Até à próxima! ❤

Trinta dias ||João Palhinha||✔Onde histórias criam vida. Descubra agora