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Décimo quinto dia

Mais um jantar com os pais do João. Confesso que à medida que os dias passam, sinto-me cada vez mais próxima deles e acho que isso é bom. Eles são pessoas fantásticas comigo e, às vezes, sinto-me um pouco mal por eu e o João estarmos a mentir-lhes.

Talvez esta mentira não seja tão mentira assim...

- Vais sair, filha?- A minha mãe questiona, depois de entrar no meu quarto.

- Sim... vou jantar a casa de um amigo...

- Tens a certeza que é só um amigo? Ultimamente tenho-te visto a saíres muito com esse "amigo".

- Tenho, mãe. Quando houver algo para contar, eu conto. Não te preocupes.

- Cuida de ti e diverte-te muito filha. A vida não é só trabalhar... principalmente para uma jovem como tu. Hoje entraste na pastelaria cedíssimo e só saíste no final do dia... não podes trabalhar assim tantas horas.

- Quanto mais trabalhar, mais dinheiro ganho. Além disso, eu estou prestes a arranjar outro emprego... e nesse eu vou ganhar muito mais do que na pastelaria e vou fazer aquilo que gosto.

- Mas que emprego é esse?

- Daqui a alguns dias, eu conto-te tudo. Agora tenho de ir. O João está lá em baixo à minha espera.- Deixo um beijo na bochecha da minha mãe e saio do quarto, saíndo de casa, instantes mais tarde.

Entro no carro do João e admito que não consegui evitar observar o quão ele está bonito. Uma camisola clássica por cima da camisa branca e umas calças beges.

- Então? Não tenho direito a um beijo?- Palhinha questiona, com aquele sorriso só dele.

- Por acaso, tens.- Respondo e se seguida, deposito um beijo na sua bochecha.

- Não era bem isso que eu estava a pensar... mas pronto. Apesar disso, tenho boas notícias para te dar.

- A sério? O que é que se passa?- pergunto, colocando-me um pouco de lado no banco.

- Hoje, depois do treino, falei com o diretor de recursos humanos... e dei-lhe o teu contacto. Por isso, é provável que te chamem para uma entrevista na próxima semana.

Um grande sorriso começa a formar-se no meu rosto. Um emprego no Sporting Clube de Braga é tudo aquilo que eu preciso. O ordenado na pastelaria é muito pouco para todas as despesas e, sinceramente, custa-me saber que todo o dinheiro que eu investi no meu curso está a perder-se numa simples pastelaria.

Num ato natural, envolvo o João no meu abraço. Por momentos, senti-o um pouco surpreendido pelo meu gesto, mas logo o jogador também corresponde ao meu abraço.

- Obrigada!- Murmuro.- Não tens noção do quanto este trabalho é importante para mim...

- Tu mereces. Uma rapariga como tu não pode passar os dias presa numa pastelaria a servir bolos e cafés. Além disso, isto faz parte do nosso acordo... não iria faltar com a minha palavra.

- Eu sei... mas mesmo assim, eu quero agradecer-te. O que ficou combinado foi fazeres isso no final do mês e tu fizeste-o mais cedo...

- Falei com o diretor mais cedo do que o previsto porque até estás a fazer um bom trabalho...- João explica em tom de brincadeira, fazendo-me rir.- Nunca pensei que fôssemos tão credíveis como namorados...

- Já devias saber que dou sempre o meu melhor em tudo...

- Pois... não sei se és tu que estás a dar o teu melhor, ou se afinal o que estamos a fazer já não é propriamente 'fingir'...- Encolho os ombros, sem deixar de sorrir e volto a colocar-me na posição correta no banco do automóvel.

- É melhor irmos... os teus pais devem estar à nossa espera.

- És ótima a mudar de assunto, sabias?- Palhinha questiona retoricamente a sorrir.

- Sou ótima em tudo, meu caro.- Respondo, fazendo-o gargalhar.

- Realmente, és mesmo... e és especialmente ótima quando estamos no mesmo quarto, na mesma cama... sem roupa.- Reviro os olhos e o jogador da equipa do Minho solta uma gargalhada provocatória.

O caminho até casa do João foi feito em poucos minutos, devido ao pouco trânsito nas estradas.
Quando entramos na habitação do jogador, cumprimento os seus progenitores.

- Quer que a ajude na cozinha?- pergunto, dirigindo-me à mãe do João.

- Acho que vou aceitar a tua ajuda, querida... estou um bocadinho atrapalhada.- Ela responde, entre risos.

- Vamos lá então...- Ambas nos dirigimos para a cozinha, enquanto que o João e o seu pai se encontravam na sala a pôr a mesa.- Cheira muito bem... já vi que a dona Susana tem um dom especial para a cozinha.

- Gosto muito de cozinhar, é verdade... e tento pôr um toque especial em tudo. Nos primeiros dias do João cá em Braga, costumávamos fazer muitas videochamadas porque ele não sabia cozinhar praticamente nada e então eu tentava dizer-lhe, com todos os pormenores, como é que se confecionavam certas comidas. No entanto, segundo ele, nunca ficava igual aos meus cozinhados.

- A comida da mãe é sempre melhor do que todas as outras, não é?- Respondo, fazendo a mais velha rir.

- Mas tenho de te confessar uma coisa... quando o João me disse que tinha uma namorada, eu fiquei mais descansada, sabes? Custava-me saber que o meu filho estava, cá em Braga, sozinho... e agora ainda estou mais feliz por saber que ele tem uma pessoa como tu ao lado dele.

Confesso que ouvir a palavra namorada me causa um friozinho na barriga. Dizem que este tal friozinho na barriga é um efeito secundário do amor.

Será?

- Sou uma rapariga igual a todas as outras... olhe que com esses elogios todos, deixa-me envergonhada!- Acabo por admitir num tom divertido.

- Não, não és. Os olhos do meu filho brilham quando ele fala de ti... e isso não acontece com mais ninguém. Só contigo.

Um sorriso tímido aparece no meu rosto e deixo escapar um suspiro. Será que tudo isto continua a ser um simples acordo?

Quando estava prestes a levar o pão que acabara de cortar para a sala, paro à porta da divisão devido ao conteúdo da conversa entre o João e o seu pai.

- Eu gosto mesmo dela, pai. Acredita... a Maria é especial... com ela, eu sei que não há qualquer interesse material... ela não está comigo por eu ser jogador, ela está comigo pela pessoa que eu sou.

- Eu também já reparei que a Maria está a fazer-te muito bem... por isso, cuida bem dela.

- É o que eu tenciono fazer, pai.- Palhinha responde a sorrir.- Não vou deixar a Maria escapar da minha vida.

Espero que tenham gostado!

Desculpem as horas tardias, mas a inspiração aparece sem hora marcada! 😅

Bom... estes dois estão num ótimo caminho! 😍 O que é que estão a achar?

Até ao próximo capítulo!
Beijinhos

Trinta dias ||João Palhinha||✔Onde histórias criam vida. Descubra agora