6.

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Sexto dia

Não posso deixar de admitir que está a ser um fim de tarde muito bem passado. Estou num dos meus sítios preferidos e confesso que o João até está a ser uma boa companhia.

- Posso fazer-te uma pergunta um pouco mais pessoal?- Olho desconfiada para o João, mas mesmo assim, assinto e deixo que ele prossiga.- Como é que uma licenciada em gestão, vai parar a uma pastelaria?

- As circunstâncias da vida são o principal motivo. Ainda estive algum tempo à procura de emprego na área para a qual estudei, mas não conseguia nada e não podia estar muito mais tempo sem contribuir para as despesas de casa... o emprego na pastelaria foi a única solução que arranjei.

- Mas tu e a tua família passam algum tipo de dificuldades?

- Não... quer dizer, estamos numa situação que é comum à maior parte das famílias portuguesas... Há uns meses melhores e outros piores.

- Faz-me um pouco de confusão ver uma miúda tão nova como tu a passar os dias a trabalhar naquela pastelaria... tu gostas de lá estar?

- É um trabalho, João. E é isso que me importa. Em Portugal, as pessoas não se podem dar ao luxo de escolher um emprego só porque gostam dele. É óbvio que não estava nos meus planos ir parar a uma pastelaria depois de me licenciar, mas teve de ser.

Ficamos algum tempo em silêncio, enquanto caminhamos lentamente, sem nunca parar de observar a paisagem que nos rodeia.

- Já são quase horas de jantar...- O jogador afirma.- Tu não queres ir a algum lado para comermos qualquer coisa?

- Isso é uma maneira discreta de me convidares para jantar?- Questiono em tom de brincadeira e o rapaz esboça um sorriso atrapalhado.

- Não sei... a resposta a essa pergunta depende se tu aceitas ou não jantar comigo.

- Nunca te imaginei um rapaz inseguro...- Ele encolhe os ombros e esse gesto faz-me soltar uma breve risada.- Quero um convite como deve ser... caso contrário, vais jantar sozinho.

- Bom... sendo assim... Maria, aceitas jantar comigo?- Palhinha pergunta entre alguns momentos de riso, momentos esses que me contagiaram também.

Não sei o que se está a passar comigo, mas a verdade é que não sinto qualquer vontade de recusar o seu convite. Não estava, de todo, à espera de conseguir estar com o João sem estarmos constantemente a discutir, mas a realidade é que eu começo a achar que se calhar nem somos assim tão diferentes.

- Aceito. Mas com uma condição... não podemos ir a um sítio muito caro.

- Vou pedir-te um grande favor, Maria. Tenta não te preocupar com o dinheiro, nem que seja apenas por um dia.- Sinto um arrepio percorrer o meu corpo quando o moreno pega na minha mão. Encaro-o e vejo o seu sorriso tão característico.- Fazes-me esse favor?

- Vou tentar.- Respondo, também a sorrir.

Dirigimo-nos para o automóvel do João e o jogador sugeriu um restaurante que, para ele, é dos melhores na cidade. Aceitei a sua sugestão e o rapaz começou a conduzir.

- Já viste bem a tua sorte? Umas inscrevem-se para o "Carro do amor"... tu vens diretamente para o carro do João Palhinha.- Reviro os olhos com a sua "tentativa" de piada e o jogador acaba por soltar uma gargalhada.

- Já estou a ver que és bastante interessado nesse programa... estás a pensar inscrever-te, é?

- Eu não preciso disso, bebé. Não tenho problemas em conseguir quem eu quero.- Ele afirma, olhando para mim durante breves segundos.

- Continua a sonhar...- Murmuro e vejo um sorriso provocador no seu rosto.

O caminho até ao estabelecimento não foi muito longo e assim que lá chegamos, confesso que fiquei muito surpreendida, pelo lado positivo, com a escolha do João. Entramos no restaurante e fomos conduzidos por um dos funcionários para uma mesa.

- João, não era preciso virmos a um restaurante destes... deves trazer aqui as miúdas que queres conquistar, não a mim.- Digo a rir, mas logo paro de me rir quando vejo a expressão séria do João.

- E se, hipoteticamente, eu quiser conquistar-te a ti?- Engulo em seco e deixo de encarar o João. Nunca ele foi tão direto e eu nunca fiquei sem resposta para lhe dar. Reprimo-me mentalmente por todas as emoções que, neste momento, se misturam no meu interior.

- As tuas técnicas de sedução não resultam comigo, Palhinha.- Respondo, olhando para tudo menos para o rapaz à minha frente.

A nossa conversa é interrompida pelo funcionário do restaurante que regista os nossos pedidos e, logo a seguir, ausenta-se com o objetivo de ir tratar dos mesmos.

- Tu odeias-me mesmo como dizes odiar?- João questiona em tom divertido e encolho os ombros, rindo.

- Vá... confesso que a minha opinião sobre ti está a mudar. Apesar de, para mim, seres sempre um convencido do pior!- Profiro, provocando uma gargalhada em ambos.- E eu? Ainda me achas a miúda extremamente irritante e mimada?

- Continuas um bocadinho insuportável, sim...- Finjo-me de ofendida, mas acabo por me deixar levar pela vontade de rir.- Mas estou a gostar de te conhecer melhor.

Em pouco tempo, a nossa refeição é servida e confesso que não há nada melhor do que um bom jantar, com uma ótima companhia. Sim. O João está a ser uma ótima companhia.

Entre muita conversa e muitas gargalhadas, nem demos pelo tempo passar. Há muito tempo que já não me sentia tão bem... sem pensar nas preocupações.

- Bom... vou só ao balcão pagar e depois podemos ir embora.

- Espera, João. Quanto é que é o jantar? Eu pago a minha parte.

- Nem penses. Fui eu que te convidei, logo, sou eu que pago. Noutro dia qualquer, pagas-me um pequeno-almoço, combinado?

- Claro... porque o valor de um pequeno-almoço chega claramente ao valor deste jantar.

- Escusas de continuar a tentar contrariar-me. Nesta discussão, ganho eu!- Ofereço-lhe um revirar de olhos como resposta e o jogador da equipa do minho gargalha, encaminhando-se de seguida, para o local onde se iria efetuar o pagamento.
Após a nossa saída do restaurante, dirigimo-nos para o interior do carro do João.

- Obrigada pelo passeio, pelo jantar... fez-me muito bem.- Assim que acabo de falar, o João acaricia um dos lados do meu rosto, provocando-me aquele friozinho na barriga.

- Se eu te beijar agora, dás-me um estalo ou continuas a beijar-me?- Rio da sua pergunta e coloco o meu corpo ligeiramente de lado. Aproximo o meu rosto do seu e as nossas respirações envolveram-se numa mistura perfeita.

- Eu vou culpar o copo de vinho que bebi pelo que vou fazer... portanto, não me responsabilizo pelos meus atos.- Explico num tom divertido.

Num gesto repentino, tomo posse dos seus lábios e atrevo-me a dizer que cada segundo em que as nossas bocas estavam unidas foi simplesmente perfeito. Afasto os nossos lábios e volto a endireitar o meu corpo.

- Já está?- Ele pergunta e faço um esforço para não rir da sua expressão.- Mas...

- Mas o quê? Achavas que eu não ia resistir aos teus encantos e que já íamos passar a noite juntos, era?

- Tudo bem... tu não vais conseguir resistir-me por muito mais tempo, por isso... é só uma questão disso mesmo... de tempo!

- Não te tenhas em tão boa conta, Palhinha... é um conselho.

Espero que tenham gostado!

Parece que, indiretamente, o João vai revelando que a Maria já não lhe é indiferente! 😀

Estes dois vão dar (ainda mais) que falar nos próximos capítulos!! 😅

Até ao próximo capítulo!
Beijinhos

Trinta dias ||João Palhinha||✔Onde histórias criam vida. Descubra agora