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Caminhávamos em fila indiana na seguinte ordem: Mayã, Junior, Enéas, Yuri e eu. Eu ia no meu próprio ritmo olhando pra baixo e pensando no que a minha vida se tornaria a partir daquele momento. Todos nós estávamos correndo perigo. Teriam pessoas de ambos os lados nos perseguindo, como enfrentaríamos os militares sem um exército? Eles possuíam armas e os caralhos a quatro. Nós só tínhamos 4 gays e uma puta.

Chegamos até uma espécie de vila. Mayã nos escondeu atrás de uma moita e entrou em uma casa feita de tábuas. Durante os três minutos que ele ficou lá dentro eu analisei a vila.

Tinha poucas casas, seis pelo o que eu pude contar, duas pareciam estar abandonadas. Era uma rua de barro e não tinha sinal de vegetação.

Mayã saiu da casa acompanhado de um ancião e nos chamou com a mão.

O ancião parecia ser um indígena e analisou todos nós antes de falar.

- O jovem aqui disse que precisam de um exército.

- E armas...

- É óbvio que vocês precisam de armas, já viu um exército sem armas? - se virou para nós novamente. - Temos uma divida com o Mayã, então podemos ajuda-los - começou a andar em direção a uma das casas e nós o seguimos. O interior da casa era um arsenal de armas e tinha baldes de munição. - Vou lhes oferecer alguns dos nossos soldados e armas, não posso disponibilizar tudo, corremos perigo nessa área, ainda mais com vocês prestes a irem à tona, os militares vão correr atrás de todos que possam ser simpatizantes da causa pelo a qual vocês lutam.

- Sinto muito - digo. O ancião olha pra mim sem entender.

- Alguém precisava fazer isso, querida. Não podemos viver nas sombras para sempre. Venham - ele sai da casa e caminha mancando por uns cinco minutos até chegarmos em um campo de futebol (não tinha grama nem era muito grande, mas tinha um gol em cada ponta).

Mais alguns homens e mulheres indígenas estavam ali, treinavam arco e flecha, luta corporal e cuidavam de armas de fogo. Pelo o que eu pude contar, era um total de 15 pessoas.

- Esses são os nossos soldados, posso emprestar cinco, o que acham?

Acho pouco, penso.

- Está ótimo - Mayã responde.

O ancião chama algumas pessoas e começa a nos apresentar.

- Este é Manuel - um homem adulto musculoso, tinha uma cicatriz na bochecha. - A pontaria dele é boa.

- Desculpa interromper - começo a dizer. - Mas como que arco e flecha pode nos ajudar nisso? Os caras estão armados até o cu, um pedaço de madeira voador não vai nos ajudar.

Manuel pegou uma 38 na sua cintura, mirou em alguma coisa acima da minha cabeça e atirou. Quando olhei para trás, uma pomba estava morta a poucos centímetros de mim.

- Vou ignorar seu comentário preconceituoso.

- Não foi preconceituoso... Vocês estavam treinando arco e flecha bem ali.

- É pra caça, não podemos fazer barulho à toa - uma garota com um corte de cabelo na altura do ombro me responde. Parecia ter a minha idade, estatura média. Ela estende a mão para mim e eu a aperto. - Sou Emília.

- S/n. Esses são Mayã, Yuri, Junior e Enéas.

- Eu conheço o Mayã - ela sorriu trocando olhares com ele. O que está acontecendo? - Esses são Leonardo - uma homem mais velho do que Manuel. - Ele trabalhava na câmara, sabe grande parte dos segredos dos homens brancos. E essa é Luanda, ela é igual uma ninja, sabe se mover pelas sombras e entrar em lugares apertados - Luanda era uma jovem raquitica com um cabelo longo e trançado.

- Você disse que eram cinco - Yuri vira para o ancião. - Só vejo quatro.

O ancião olhou ao redor.

- Cadê o Caio?

- Estou aqui - ouvimos gritar e olhamos na direção.

Era um garoto de no máximo quinze anos. Ele vinha tropeçando pelo caminho.

- Estamos fodidos - ouvi Enéas murmurar.

A militanteOnde histórias criam vida. Descubra agora