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Passávamos por um valão seco. Estava escuro e fedia a bosta velha. Pelo o que Emilia disse, eram 3 da manhã. Ela conseguia ver as horas pela lua.

Atrás de mim e de Junior, estavam Enéas e Caio, Enéas contava algumas histórias assustadoras para o garoto e eu podia sentir seu coração acelerado daqui. Mais pra trás estava Yuri com Manuel que o ensinava algumas táticas de batalha. Mayã trocava conversa com Emilia. Leonardo e Luanda conversavam sobre um assunto aleatório. Deveria ser sobre a lenda da Iara.

Nossos pés afundavam na lama e na bosta, o que dificultava o andar da carruagem.

Depois de duas horas nessa vala fedida, o odor piorou, conforme mais andávamos, mais forte ele ia ficando. Chegou numa etapa que eu precisava tampar o meu nariz porque não aguentava mais respirar aquele cheiro de carniça.

- Mas que porra é essa... - Junior parou de andar enquanto olhava pra baixo.

Me abaixei e puxei o objeto. Estava agarrado mais com um pouco mais de força ele saiu por inteiro.

Era um braço humano podre.

A carne estava esverdeada e se desmanchava ao meu toque.

Joguei aquilo longe limpando a mão na calça. Mas o cheiro persistia.

Caminhamos mais uns dois minutos e encontramos a montanha.

Adultos. Homens e mulheres. E crianças. Todos mortos.

Virei o meu rosto tampando o nariz com as costas da mão e segurando o choro.

Meu corpo tremia e eu olhava pra cada um ali como pedido de ajuda. Emilia entendeu o que eu precisava e me puxou pra longe dali.

Saimos da vala e eu me sentei encostada em uma árvore.

- Você precisa respirar - ela se abaixou na minha frente. Tentei respirar, porém o ar não vinha. - Inspira e expira...

Fiz o que ela dizia e depois de um tempo consegui respirar normalmente.

- Olha ali - ela apontou pra trás de mim e eu olhei.

Era uma base militar. Grande. Cercada. Arames farpados em cima dos muros.

- Fizemos um achado. Se invadirmos ai pegaremos suplementos... Armas, comida, remédio.

- Como faremos isso?

- Precisamos de um plano - ela se levantou e estendeu a mão pra mim. Me levantei e descemos de volta pra vala. - Galera, vocês não vão acreditar no qu...

Todos olhavam algo na pilha de mortos...

Me aproximei e vi que algo se mexia no meio.

- Leo, eu to com medo... - ouvi Caio sussurrar.

- Acho que eu também to com medo - Enéas se agarrou ao braço de Manuel.

A coisa levantou. Tinha forma humana e caminhou em nossa direção. Quando a lua iluminou seu rosto pálido ele sorriu.

-Rusbé.

A militanteOnde histórias criam vida. Descubra agora