Capítulo 26🌙 No outro lado da Terra-média

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Nota inicial:

Boa leitura ♥

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“No campo ressecado vento havia; mas na floresta nada se movia: Trevas soturnas, diurnas, noturnas; coisas turvas o calor escondia[…]”
O Hobbit
– de J. R. R. Tolkien

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— Qual era o nome do seu pai? — questionou o ruivo, atravessando a faca pelo tampo de madeira da mesa. Sua voz grave estava quase tão alta quanto a música que tocava no bar.

Encarando as sombras que tremulavam na porta, Manzine suspirou. Em seus dedos havia uma moeda e ela não parava de bater contra a mesa; nervoso e instável, ergueu o queixo e desviou a visão para as donzelas que passeavam pela praça.

— Edwen. — Respondeu ao amigo, e olhou novamente para a fogueira no centro da cidade. As chamas subiam aos ares e deixava o ambiente quente. — Edwen Avastar.

— E por que usa “Manzine”? — O ruivo bebeu um gole de vinho e suspirou. Seu rosto perverso carregava uma cicatriz que ia da sobrancelha ao canto do lábio, mas ele era tão dócil quanto um filhote de gatinho.

Kay respirou fundo e se virou para o amigo. — Era o sobrenome da minha mãe, Airinë Manzine.

O homem estalou os lábios, concordando e bebeu mais um pouco. — Tire uma donzela dessas para dançar. — sugeriu ele — Vai melhorar essa sua carranca preocupada.

Kay sorriu. — Você devia mesmo, Eruel. — disse bebendo mais um gole — Ouvi dizer que a Madame Bovary está a procura de um novo amor.

O ruivo Eruel suspirou, sonhador. Sorrindo e encarando as estrelas. — Ah, ela é mesmo um pão de mel. Tão madura e bela! — ele colocou os pés cruzados sobre a mesa e bebeu um gole de vinho. — Ainda vou conquistá-la! Hás de ver.

— Verei. — Kay abaixou a cabeça e pegou a caneca de vinho. — Pois faz tempo desde que te vi com alguma donzela.

— As donzelas são como bonecas de porcelana. — Eruel elucidou e deu um sorriso maldoso. — Mas nada mais interessante do que dividir a cama com uma mulher já vívida.

— Certamente. — eles brindaram.

O sabor do vinho estava diferente naquela noite. O vento que soprava das montanhas, atrás deles, era gelado e hostil. Na floresta as sombras que flutuavam pelos ares, passeando pelas árvores, pareciam ter consciência própria, e aquilo o deixava agitado. As montanhas uivavam com as brisas que vinham do norte. Ele se encolheu.

— Acha que o rei vai se opor? — perguntou Eruel, olhando para o teto da taberna.

Ele não tirou os olhos da floresta. — Vá lá e pergunte a vossa majestade. — sugeriu ele. Sua voz abatida e cansada estava quase inaudível.

Eruel se curvou e negou. — Subir aquilo tudo sozinho? — ele bufou — Já estou cansado.

Kay sorriu. Lembrou-se da primeira vez que esteve naquele reino, e do tempo que ficou escondido. Subir as Escadarias do Reino da Montanha era um martírio. Mas ele se manteve gentil, apesar da idade e dos fios de cabelo branco que surgiram em sua barba; de seus ombros demasiadamente curvados, o ladrão arqueou o olhar para as montanhas e deixou-se levar pelas lembranças. A primeira vez que esteve ali foi ao lado dos elfos, e do futuro rei de Gondor – Aragorn. Ele suspirou ao se lembrar dela... Aranel tinha um belo sorriso e um olhar instigante. A amava e perdê-la não foi fácil. Não imagino a dor de Legolas. E não imaginava mesmo. Sua garganta fechou. Pensaria naquilo mais tarde. O vazio que Aranel deixou era terrível demais, cruel e impiedoso demais. Escarnecia-lhe com trovões de sentimentos em sua cabeça, e aquilo o deixava nervoso. Então, fechou os olhos e respirou fundo.

Lua de Cristal - Ela é do Príncipe - Vol.3 - CONCUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora