Um Casamento Arranjado

Capítulo cinco: Cala Boca, Bela!

- O QUÊ? EU não quero ter filhos! Muito menos com Elli... - droga, o plano! - ah, sim, até trigêmeos, querido - Elliot me olha querendo rir.

Estávamos a mesa e a cada garfada de comida eu engolia seco. Aquilo era tudo uma farsa.

- O jantar estava ótimo, senhora Carmen. A sobremesa também mamãe. Com licença - falou Elliot que saiu para a sala de estar.

Mentiroso.

- Com licença, vou ao banheiro - eu tinha de inventar algo para sair dali ou iria vomitar com a comida de mamãe. Coitado dos pais de Elliot que não podem reclamar pela sua alta classe.

Carmem é péssima na cozinha, Elliot só podia estar de brincadeira ao dizer aquilo.
Estava a caminho do banheiro e de repente, sinto alguém me puxar para baixo da escada do segundo andar. Grito.

- Ladrãoooo! Socor... - o idiota que me puxou pôs uma mão sobre minha boca e com a outra segurou minhas mãos juntas as costas, prendendo-me contra o mesmo.

- Cala boca, Bela! Você não quer chamar a atenção, quer? - falou Elliot sussurrando em meu ouvido e ainda me segurando.

Me debati e soltei-me dele afastando nossos corpos.

- Você enlouqueceu seu idiota! Quer me matar do coração?

- Não seria má ideia. Assim estaria livre de me casar.

- Acho que não vai ser queimado nem afogado, mas à chutes e pontapés! - falei me aproximando dele.

- Está bem, Bela, calma! Você é muito irritadinha, em! Como vai dar conta dos nossos filhos sem paciência desse jeito? - debochado.

- Agora você passou dos limites! - falei e após chutei-o no lugar mais sensível possível.

- Eu odeio omelete... - falou ele num fiapo de voz se ajoelhando no chão. - Pra que ser tão má, Bela Mera Feler? - terminou ele se recuperando.

- O que você quer?

- Só queria que me explicasse o plano mais detalhadamente, você não falou os detalhes na mensagem - disse se levantando.

- Ah, sim. Nós só temos que "nos dar bem" na frente dos nossos pais e das outras pessoas. Quando estivermos apenas nós, esqueça tudo isso e não encoste um dedo em mim. Assim que eu for para a sua casa levo o papelzinho com as regras - observo-o revirar os olhos.

- Ah, claro senhorita sabichona, esqueceu que uma hora vai chegar o dia do casório? E aí? Vamos casar e fingir ser o casal perfeito na rua e viver um apocalipse dentro de casa a vida toda?

- Claro que não, sua anta! Antes do casamento damos um jeito, com certeza.

- Dão um jeito em que, crianças? - falou minha sogra aparecendo do nada. Peguei a mão de Elliot com o susto e apertei com força escondendo nas costas.

- Ah... mãe! Quanto tempo faz que você estava ouvindo nossa conversa? E aliás, por que estava ouvindo? Você sempre me ensinou a não ouvir a conversa dos outros... - Elliot sacudiu minha mão para que soltasse a dele.

- Calma querido. Eu cheguei agora, ouvi gritos que pareciam ser de Bela, nos assustamos e vim ver o que era, sem querer ouvi vocês que não estavam falando muito baixo também. Mas e então? Dão um jeito em que?

- No... na... em... - gaguejou Elliot.

- Na decoração, sogrinha. Na decoração do casamento - disfarcei envolvendo meu braço em seu pescoço e levando ela dali. Ao sair, fitei Elliot com um olhar de "uffa!". - Sabe... Elliot quer cores claras, eu quero cores escuras, ainda não decidimos ao certo...

- Você não sabe a alegria que nos dá saber que vocês estão se acertando, minha querida - engoli seco.

Era um aperto no peito saber que esse noivado, por mais ruim que fosse, iria por água abaixo e decepcionaria os pais de Elliot e os meus.

- Mas e Gael? Já sabe da novidade? Onde ele está?

- Meu irmão está viajando a negócios para o papai, ele ainda não sabe mas tenho certeza que ficará feliz em saber - tenho certeza que ele irá surtar.

- Tenho certeza que sim! - falou ela e entrou no banheiro.

A noite terminou com o desastre que todos esperávamos, impossível de impedir. Elliot com todo o esforço e dificuldade do mundo se ajoelhou e pediu a minha mão em casamento. Esse foi o pedido mais falso que eu já vi em toda a minha vida. Preferia cair e me quebrar no casamento como minha mãe, do que casar com alguém que eu não amo. Minha mãe e a mãe de Elliot choravam como se fossem crianças. Minha vontade de vomitar já era incontrolável, pois com toda aquela falsidade, não me admirava que aquilo tudo fosse por água abaixo.