Vi colocarem Amanda dentro da ambulância, eu queria me levantar dali e ir até ela mas eu não conseguia me mover, meu telefone começou a vibrar insistentemente em meu bolso e vi que era minha mãe, resolvi até atender.
- Mãe ela não pode morrer, não pode! – Eu soluçava chorando ao telefone.
- Gabriel, o que aconteceu? – Senti sua voz aflita.
- Atiraram na cabeça dela mãe, atiraram nela. – Eu gritava.
O telefone ficou mudo por um tempo, pude ouvir uma voz ao fundo, era Luiza, ouvi seus gritos em seguida.
- A gente ta indo pro hospital. – Era Felipe no telefone, não esperou minha resposta e desligou.
Me levantei em um impulso, eu precisava sair dali, um policial mandou eu entrar no carro indicando que iríamos para o hospital, aquele caminho parecia não acabar mais, chegamos no hospital os jornalistas provavelmente já sabiam do que tinha acontecido, tinha vários deles em frente ao hospital, fui escoltado até um sala de espera, assim que entrei avistei Luiza e Débora em um sofá, e minha mãe e Charles em pé, corri até minha tentando achar algum conforto em seu abraço.
- Onde ela está mãe? - Eu quero ver ela. - Falei meio ao abraço.
- Levaram ela direto pra sala de cirurgia, vão tentar tirar a bala alojada.
- Cadê as crianças?
- Estão em casa, Shopia e Felipe estão com ela.
- E se ela não aguentar mãe? E se ela não sair dessa, o que vai ser de mim, eu não sou nada sem ela. - Eu chorava desesperadamente.
- Ela é forte, ela vai sair dessa, não pensa no pior.
Passamos horas naquela sala, eu já estava enlouquecendo sem notícias, minha mãe me obrigou a ir em casa comer alguma coisa e falar com as crianças, fiz o que ela mandou e assim que voltei para o hospital encontrei com o médico entrando na sala.
- Como minha filha está? - Luiza perguntou nervosa.
- Conseguimos retirar a bala alojada mas mais pra frente teremos que fazer outra cirurgia para retirar alguns estilhaços do projétil que ainda ficaram na cabeça dela. Mas ela esta em coma e nos não conseguimos reverter esse quadro.
- E o que isso quer dizer? - Questionei.
- Vamos fazer tudo que tiver ao nosso alcance, mas pra ela acordar vai depender dela, da reação do corpo dela aos tratamentos.
- Ela pode demorar quanto tempo pra acordar?
- Ela pode acordar amanhã, daqui um mês, ate anos, não da pra saber.
- E eu posso ver ela agora? – Perguntei.
- Daqui a pouco ela vai voltar para a UTI e você poderá vê-la pelo vidro. Já vou indo, daqui a pouco eu chamo vocês.
As palavras daquele médico foram como um balde de água fria em cima de mim, eu não saberia definir o que estava sentindo naquele momento.
- Ela vai se recuperar logo, vamos confiar nisso. - Débora se aproximou de nós. - Não é a melhor das notícias, mas precisamos repassar ela a todos.
Entramos em contato com algumas pessoas para divulgar o estado de saúde da Amanda e a notícia logo se espalhou, ficamos ali mais tempo esperando o médico nos chamar, pouco depois ele nos levou para a UTI onde ela estava, a veríamos apenas por um vidro, eu queria poder toca-la mas isso não seria possível no momento, eu e Luiza fomos os primeiros a entrar, segurei a mão dela e paramos em frente ao vidro, Amanda estava com a cabeça enfaixada e cheia de aparelhos, fiquei paralisado, ver ela naquela situação me desmontou inteiro, eu precisava sair dali, precisava respirar, sai dali e fui até um jardim aberto dentro do hospital, me sentei em um dos bancos e desabei, chorei tudo que eu precisava, chorei por medo, medo por poder ficar sem a minha mulher, medo dos meus filhos crescerem sem a mãe, me recompus ali e fui ao encontro dos outros, eu precisava ir pra casa, meus filhos precisavam de mim e eu tinha confiança que a Amanda sairia daquela situação. Já havia se passado três semanas e Amanda não havia correspondido nenhum dos tratamentos, estava sendo difícil, as crianças não entendiam muito bem aquela situação e sempre choravam pedindo para ver a mãe, ainda não tivemos coragem de deixar as crianças ve-la naquela situação.
- Gabriel! Da pra gente conversar agora? - Jaime entrou em meu quarto.
- Entra ai tio. - Me sentei na cama.
- Gabriel vou direto ao ponto, eu sei que esta sendo difícil, creio que essas últimas semanas tenham sido as piores da sua vida, mas infelizmente a gente não sabe quando isso vai acabar.
- Ela vai sair dessa logo. - O interrompi.
- Eu torço muito pra isso, mas enquanto isso não acontece você não pode parar sua vida. Essa próxima etapa você não vai competir, mas você não pode parar, é o seu trabalho, você tem muito dinheiro sim, mas ele acaba e você sabe disso, você precisa manter seus filhos, manter a Amanda naquele hospital que você o quanto é caro. - Ele falou de uma vez - Não me leve a mal por tocar nesse assunto, eu só quero que você volte a pensar no seu trabalho.
- Tudo bem, eu sei que eu vou precisar voltar, só não quero pensar nisso agora.
- Ok, quando quiser só me procurar. - Falou saindo do quarto. - Ah, a Sophia está te procurando.
Sai do quarto a procura de Sophia mas antes achei minha mãe na cozinha.
- Mãe, cadê a Sophia, sabe pra que ela esta me procurando?
- Sei sim, amanhã a cunhada dela que estava morando no Rio vai chegar e eles vão fazer um almoço pra receber ela.
- E?
- E ela quer que a gente vá.
- Eu não vou mãe, não acho certo.
- Filho, tem três semanas que você não vive, tem revezado sua vida entre vigiar a Amanda e ficar com seus filhos, não pode ser assim, você precisa viver, seus filhos precisam disso. - Ela falou fazendo carinho em meu rosto. - Até a Luiza vai, a irmã do Guilherme vai trabalhar com ela, vai ser bom pra todos nós distrair um pouco.
- Tudo bem.
Fui para o hospital ficar um pouco com a Amanda, ela ainda não havia reagido em nada mas eu sempre ia até lá, a esperança de ver ela se recuperar era a única coisa que me mantinha em pé além de meus filhos. Já estava quase anoitecendo quando voltei pra casa, fiquei um pouco com as crianças e depois fomos deitar, tinha prometido de levar Enzo para surfar antes de irmos para a casa do Guilherme no outro dia, eu estava nervoso, não sabia bem o que estava sentindo, não me sentia bem em sair com a Amanda naquela situação e aquela seria a primeira vez que sairia depois que tudo aconteceu.